Inédito viável: pontes e barreiras - Por Luiz Antonio Lopes Ricci


Maria: exemplo para todos nós. 

Foi este o tema do Encontro Internacional Cristão-Muçulmano para homenagear Maria, mãe de Jesus, que aconteceu no último sábado (24/03), véspera da Anunciação do Senhor (o sim de Maria a Deus), em Foz do Iguaçu, no recinto da Hidrelétrica Itaipu Binacional, promovido pela Pastoral da Criança, com grande participação de público, autoridades religiosas e civis, representantes de 7 religiões e 14 países. 

Trata-se de um acontecimento inédito (no Brasil, visto que no Líbano já está na terceira edição), marcante e de grande significado do qual emergem temas relevantes para a nossa reflexão e ação. Ainda em atitude de Ação de Graças ao Bom Deus pelo relevante evento e por ter me concedido o privilégio de participar, tomo a liberdade de partilhar minhas considerações. 

A grandeza de Itaipu ficou pequena diante da magnitude deste evento que me fez recordar o inédito viável acontecendo, expressão de Paulo Freire, para designar aquilo que é plausível e que pode se concretizar. Se o amor não conhece fronteiras ele, de fato, pode tudo realizar e mudar. 

A fé cristã pede que estejamos atentos aos sinais dos tempos, sinais que nos interpelam e chamam para a responsabilidade e comprometimento com o novo, com paz e com a vida. Diante de tantos sinais negativos de violência e desrespeito às diferenças, urge afirmar e destacar este grande sinal de respeito e convergência que encontrou em Maria a causa inspiradora. 

O nome de Maria é citado 34 vezes no Alcorão, livro Sagrado dos Muçulmanos, como exemplo de mulher pura, perfeita, elevada e mais próxima de Deus. Maria é para os muçulmanos uma grande mulher, sinal de paz, pureza, segurança e vivência da verdade, destacada no Alcorão como Virgem Maria e mãe do Profeta Jesus.

Foz de Iguaçu é um lugar simbólico por conta da tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina), da beleza natural, sobretudo das Cataratas e por abrigar a segunda maior colônia muçulmana no Brasil, um lugar de convivência respeitosa, pacífica e harmoniosa entre as diversas etnias e religiões. 

Tanto no âmbito religioso quanto no cultural e social devemos buscar o que nos une e não o que nos separa. Na verdade somos diversos, mas não diferentes. Isso implica respeitar a diversidade e procurar a unidade nas causas essenciais por meio do diálogo, respeito e tolerância. 

Este encontro certamente potencializou o desejo de construir a cultura da paz, do respeito, da valorização da mulher e afirmação de sua dignidade, da defesa e promoção da vida, do acolhimento e superação das barreiras. O tempo presente pede a construção de pontes. É hora de acabar com os preconceitos e estigmas relacionados às pessoas, culturas e religiões, sobretudo os estigmas colocados nos muçulmanos, principalmente o de serem fundamentalistas. 

O fundamentalismo, infelizmente, está presente em todas as religiões e setores da sociedade, de várias formas, também dentro da religião católica. Urge fazer das religiões um verdadeiro espaço de religação (de religare = religião) saudável com Deus e respeitosa com os semelhantes. Que a semente lançada neste encontro, na cidade das Águas, encontre solo fértil em nossa vida para produzir bons frutos. 

As enormes barreiras de Itaipu servem para conter as águas, gerar energia e abrir as comportas quando necessário. As barreiras são importantes quando se prestam a unir as diversas águas que carregam as sementes de Deus. Essas águas unidas formam um grande reservatório capaz de produzir energia que move a vida. 

Essa é a única barreira legitima que nos capacita na construção de pontes e eliminação de barreiras que separam pessoas, culturas e religiões. Para que as sementes que estão em nós produzam frutos urge morrer para a intolerância, preconceito e desrespeito e cultivar o ecumenismo e diálogo inter-religioso que implica a capacidade de conviver na mesma casa (mundo) com ideias diversas, mas convergentes na grande maioria dos casos. 

O autor, padre Luiz Antonio Lopes Ricci, é colaborador de Opinião 

Comentários

eunicevy disse…
Texto inspirado, poético e auspicioso!Assim como o evento,um raio de esperaança de um mundo melhor!

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