A fé das novas gerações - Por Naara Vale


Quando convocou o Concílio do Vaticano II, o papa João XXIII queria levar para o âmbito da Igreja Católica novas questões e adequá-las aos novos tempos. 

Já sob o papado de João Paulo II, em 1964, o Concílio foi aprovado e a prática da fé católica viu grandes mudanças acontecerem dentro da instituição milenar. Membros e fieis passaram a ter mais liberdade de expressão, outras religiões passaram a ser reconhecidas, as missas não eram mais rezadas em latim e as congregações femininas podiam optar se seus membros deviam ou não usar hábito. Isso para citar apenas algumas.

“Antes do Concílio do Vaticano II, a Igreja não tinha diálogo, existiam normas. Era uma padronização. A partir do Concílio, houve uma releitura da Igreja. O latim deixou de ser a língua oficial e foi definida a língua vernácula em todos os lugares. Hoje, ela tem não só diálogo com a juventude, mas como toda a cultura local”, aponta o frei capuchino Rubens Nunes da Mota, assessor de juventude da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB).

Se aqui não cabe chamar de estratégia, pode-se dizer que era uma tentativa do Vaticano de modernizar a Igreja Católica, aproximá-la da realidade dos anos 1960 e, consequentemente, dos novos tipos de fieis que surgiam. Vinte anos depois, o papa João Paulo II – tido como o papa da juventude – voltaria a apostar em uma nova empreitada de aproximação e resgate da evangelização, desta vez, tendo como público-alvo os jovens católicos. Nascia daí a Jornada Mundial da Juventude (na época com o nome de Encontro Internacional da Juventude), evento que no próximo ano acontece no Rio de Janeiro, com expectativa de atrair quase dois milhões de jovens do mundo inteiro.

No que diz respeito à formação de novos membros, as estratégias de aproximação não têm dado tanto efeito. Pesquisas mostram uma queda no número de jovens que optam por seguir a vida religiosa, em especial entre as mulheres. De acordo com dados do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris), em 1990, eram 37.380 religiosas no Brasil. Até o início de 2011, esse número havia caído para 32.576 em todo o País.

Já para efeitos de conquista de novos fiéis, as tentativas de aproximação têm dado certo, pelo menos por aqui. Prova disso é a pesquisa realizada em 21 países pelo instituto alemão Bertelsmann Stifung, no ano de 2009, que apontou o Brasil como o terceiro país mais religioso do mundo, atrás apenas da Nigéria e Guatemala. Dos jovens entre 18 e 29 anos pesquisados, 95% deles se dizem religiosos e 65% afirmam que são “profundamente religiosos”.

“Há um retorno do religioso hoje, uma busca pelo sagrado. As instituições estão em decadência: a família está enfraquecida, a igreja está menor, mas a busca pelo sagrado está fortalecida. A maioria dos jovens busca com o propósito de busca de seus a fazer da sua vida uma partilha, doar a sua vida a outras pessoas”, acredita o coordenador de juventude da CRB.

Estratégias

Embora os discursos e posicionamentos do Vaticano em relação a temas fundamentalmente ligados à juventude, como homossexualidade, uso de camisinha e sexo antes do casamento ainda conservem o tradicionalismo religioso e repercutam a cada vez que vêm à tona, para estar mais perto dos jovens e cativá-los, a igreja católica tem adotado estratégias simples, mas de efeito visível. 

É aí que entram, por exemplo, os grandes eventos musicais que lotam os espaços onde são realizados e o uso cada vez maior dos meios de comunicação para estreitar laços com as novas gerações. Na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), um dos links é o site www.jovensconectados.org.br, onde os internautas têm acesso a notícias, informações e interagem entre si.

“Nós conquistamos o jovem naquilo que eles gostam. A religião, geralmente, vem num segundo momento. Eles estando bem conosco, podendo se divertir, sendo amados e acolhidos, eles querem aprofundar essa dimensão religiosa. Aí buscam o sacramento, participar de uma jornada, de uma pastoral. Eles veem que não basta jogar bola, tocar música”, explica o padre Gilberto, diretor da Rádio Dom Bosco e dos colégios Salesianos Dom Bosco e Dom Lustosa.

Para frei Rubens, apesar dos novos tempos e novas formas de praticar a fé, os princípios fundamentados lá na criação da Igreja Católica continuam a ser repassados aos fieis, mesmo que haja uma resistência por boa parte da sociedade dita moderna. 

“Há valores que permanecem. Em relação à ética, é a mesma. Agora as formas de evangelizar mudaram muito, porque no meu tempo não tinha internet, não tinha Facebook, tablet. A forma de evangelização mudou e eu tive que me adaptar. Não só passo valores novos como assumi valores novos, mas isso em relação às formas de evangelizar e não à base, ao conteúdo”, conclui o frei de 41 anos, 20 deles dedicados à vida religiosa.

Fonte: http://www.opovo.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Negociar e acomodar identidade religiosa na esfera pública"

Pesquisa científica comprova os benefícios do Johrei

A fé que vem da África – Por Angélica Moura