Universidades atualizam currículos com cursos voltados ao ambiente


Há poucos meses da realização da Rio+20, a conferência da ONU que reunirá diversos chefes de Estado e organizações internacionais para discutir o crescimento sustentável do planeta, a preocupação com o ambiente é um assunto cada vez mais recorrente. 

Nos últimos anos, a discussão também invadiu academia, tornando necessária a criação de cursos e pesquisas relacionadas ao tema. Apesar de poucos, já existem cursos de graduação e pós-graduação espalhados pelo país voltados especialmente para a pesquisa e a formação de profissionais para áreas que lidem com a questão ambiental.

Um exemplo é o bacharelado interdisciplinar em Ciências do Mar, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), criado no início do ano pela universidade, que faz parte do Instituto do Mar. Ainda em fase de implementação, o instituto também abrigará, em alguns anos, novos cursos de graduação e pós-graduação. 

Com duração de três anos, o bacharelado abrange quatro eixos principais. "Desde 2004, a Unifesp iniciou um planejamento estratégico para a construção do Instituto do Mar, e a ideia do bacharelado é contemplar as principais áreas da ciência. O primeiro eixo do curso é abiótico, com disciplinas exatas e da terra, como matemática e química.  O segundo e terceiro eixos contemplam a vida marinha, com disciplinas como biologia, e o mar, a ciência e a tecnologia, com a aproximação dos cenários que serão enfrentados pelos profissionais no futuro. Por fim, o quarto eixo do curso aborda a relação entre a sociedade e o mar", explica o coordenador do curso, Augusto Cesar.

"Nos últimos anos, houve uma crescente institucionalização da questão ambiental, com a criação de programas específicos, e na universidade não foi diferente. O surgimento de diversos cursos voltados para a pesquisa no meio ambiente mostra o avanço desse processo de institucionalização. As universidades estão abrindo também diversos cursos de pós-graduação em áreas como desenvolvimento sustentável, por exemplo. A problemática ambiental se tornou um assunto na ordem do dia, mas nem tudo são flores: o tema está sendo sempre confrontado com as exigências de uma frente desenvolvimentista que vem ganhando força. Do ponto de vista político, é como se tivéssemos retrocedido na questão ambiental: houve um avanço zero em relação ao tema", analisa a coordenadora do curso de Gestão Ambiental de UnB, Mônica Nogueira.

Criado em 2008, o curso da universidade tem duração de três anos e vai formar sua primeira turma de bacharéis na metade de 2012. Em seu currículo, estão presentes disciplinas de áreas como ciências da terra, sociais, da educação e economia. 

Além disso, o curso de Gestão Ambiental da Universidade de Brasília (UnB) oferece aos alunos a opção de desenvolver um produto audiovisual relacionado com a área como trabalho de conclusão de curso, sendo uma alternativa à monografia. 

"Existem poucos bacharelados de gestão ambiental no Brasil, além de muitos cursos que formam tecnólogos, especialmente nas instituições privadas, mas os institutos federais também estão abrigando esses cursos. Esse novo campo profissional está dentro do contexto de avanço da pauta ambientalista no mundo, com o objetivo de formar um profissional capaz de mediar situações de conflito e atuar na gestão de recursos públicos, trabalhando em instituições públicas e privadas relacionadas à área", afirma Mônica.

Pós-graduação 

Outras instituições, como a Universidade Federal do Rio Grande (Furg), oferecem apenas programas de pós-graduação voltados para a área ambiental. Criado em 1994, o Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental da Furg conta com cursos de mestrado, doutorado e especialização à distância.

"Depois da Eco-92, poucos cursos voltados para a pesquisa no meio ambiente foram criados, e eu ainda não enxergo essa disseminação atualmente. Aqui, nós desenvolvemos os cursos à distância de especialização em educação ambiental, e os alunos são, na maioria das vezes, professores da educação básica, além de funcionários de empresas públicas, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Além disso, com os cursos de mestrado e doutorado, próprio programa de pós-graduação tem produzido diversas teses com pesquisas voltadas para a educação ambiental, durante seus quase 18 anos de existência", detalha a professora Maria do Carmo Galiazzi, do Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental da Furg.

Segundo Maria do Carmo, apesar de terem se intensificado nos últimos anos, as ações voltadas para a educação ambiental e o aumento das discussões em torno do tema feitas no país ainda são insuficientes. Dessa forma, mesmo com a existência de eventos como o VII Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, realizado no mês de março em Salvador, na Bahia, as iniciativas existentes ainda são feitas em número menor do que o ideal.

"Existem locais importantes no Brasil onde se desenvolvem pesquisas na área, como Santa Catarina, Rio de Janeiro e Ceará, mas ainda somos muito poucos os que produzimos algo de consistente para que a gente veja uma transformação. Existem movimentos bem interessantes, como o Fórum de Salvador, e eu penso que se ouve falar mais em educação do que se ouvia antigamente. Por outro lado, o nosso modelo societário exigiria mais ainda do que a gente consegue fazer. As iniciativas feitas no Brasil são importantes, mas poucas", analisa.

Para o coordenador do bacharelado em Ciências do Mar da Unifesp, o crescimento da preocupação com a questão ambiental é resultado do aumento dos problemas enfrentados e da consequente diminuição dos recursos naturais.

"É um processo que está cada vez mais em pauta, até porque os recursos são cada vez mais limitados. A educação ambiental exerce um papel importante na formação básica dos indivíduos, e tudo que seja relacionado a ela contribui para que as questões ambientais sejam tratadas de forma adequada e que a conscientização das pessoas seja feita em uma escala mais abrangente. Nesse sentido, a Rio+20 será simbólica, pois qualquer ação desse tipo contribui para que os assuntos relacionados à sustentabilidade saiam do papel e que os governantes assumam compromissos mais sérios frente a sociedade", afirma Augusto Cesar.

Mônica Nogueira faz coro ao coordenador do curso da Unifesp, destacando a importância de formar profissionais com senso crítico para trabalhar em questões ambientais e utilizar eventos como a Rio+20 para pressionar os governantes no sentido de avanço das questões ambientais. 

"Nós precisamos continuar formando profissionais dispostos a fazer avançar os compromissos ambientais, e a Rio+20 é uma oportunidade para projetar os problemas internos e para que as universidades e a sociedade civil pressionem o governo para que as mudanças continuem ocorrendo", frisa a coordenadora do curso de gestão ambiental da UnB.

Fonte: http://noticias.terra.com.br

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