Identidades Religiosas em Portugal - Por António Marujo

Os tempos difíceis que vivemos podem levar as pessoas a aproximar-se de práticas religiosas, diz o antropólogo e sociólogo Alfredo Teixeira.
O coordenador da sondagem sobre Identidades Religiosas em Portugal, apresentada há três semanas, explica nesta entrevista porque é que é redutor pensar que a religião está a desaparecer ou, pelo contrário, a regressar.

Alfredo Teixeira é autor de “Entre a Exigência e a Ternura” (ed. Paulinas), onde explica como o espaço paroquial católico é hoje cada vez mais diversificado.

Responsável do Centro de Estudos de Religiões e Culturas na Universidade Católica Portuguesa, Alfredo Teixeira diz que o catolicismo é cada vez mais plural, mas avisa que as comunidades religiosas não terão a vida facilitada a partir da leitura dos resultados da sondagem.

De acordo com a sondagem, a categoria que mais cresce é a dos crentes sem religião. Estamos a falar da recomposição individual da crença?

É uma radicalização dessa tendência. O grande fenómeno na transformação das sociedades que fizeram história com o cristianismo não é o da não-crença, é o da reconstrução individual do religioso. A experiência do religioso, as crenças, os símbolos deixam de estar amarrados a um determinado contexto institucional e comunitário e passam a ser recompostos a partir da experiência individual.

É o que o sociólogo Thomas Luckmann chama a religião invisível, quando diz que o religioso apenas mudou de lugar?

Sim. Embora ele, com isso, designe os aspectos mais disseminados do religioso e não necessariamente o que se exprime ainda como crença. Boa parte dos crentes sem religião, quando colocados mesmo perante enunciados cristãos, responde com um elevado nível de concordância. Parece haver, como a socióloga britânica Grace Davie estudou, uma profunda desarticulação entre crer e pertencer.

Uma das novas modernidades de que ela falava.
Sim. E essa desarticulação produz uma geografia diferente do religioso, que já não é a do combate entre não-religiosos e religiosos na sociedade. Há uma paisagem diferente na sociedade, que não é necessariamente mais facilitadora da acção das instituições e dos dinamismos comunitários religiosos.

Algumas leituras deste estudo queriam mostrar que, afinal, as igrejas ainda têm muita influência e a vida facilitada na nossa sociedade. Não têm, porque este universo de individualização levanta problemas às formas como a comunitarização religiosa tem sido feita.
 Que categoria é a dos crentes sem-religião?

Em alguns estudos, quando os respondentes não têm uma categoria que os permita representar-se não já como católicos mas, em todo o caso, também não como sendo ateus ou indiferentes, há pessoas que tendem a identificar-se como católicas porque não têm outra opção. Do seu universo simbólico faz parte uma referencialidade já não especificamente cristã. Se não tiverem mais nada para responder, responderão católico, porque estão mais longe das outras posições.

Foi por isso que a utilizaram?

Sim, já em 1999 tínhamos usado. Ela permite incluir não só o perfil mais difuso de uma religiosidade que se desprende de qualquer pertença religiosa, mas também que uma parte deste catolicismo muito periférico se sinta mais confortável na sua representação. Neste caso, encontrámos categorias que se revelaram muito eficazes na delimitação do universo católico. A comparação entre os resultados de 1999 e 2011 permite ver que há uma diminuição do peso relativo do universo católico.


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