Na Bahia, igreja construída por escravos é reaberta após restauração


Uma boa notícia para a memória do país: na Bahia, uma igreja do século XVIII construída por escravos para receber os próprios escravos foi reaberta depois de mais de um ano de restauração.
A igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos é uma joia da arquitetura barroca no Pelourinho, centro histórico de Salvador. Nos dois anos de reforma e restauração, os altares e os valiosos painéis de azulejaria portuguesa foram recuperados, assim como as imagens da padroeira e de santos negros como São Elesbão e Santo Antônio do Categeró, todas do século XVIII.
As tribunas folheadas a ouro também ganharam retoques. No forro principal, onde Nossa Senhora aparece entregando o rosário a São Domingos, a equipe trabalhou por mais de um ano para restaurar os traços originais.
“Eles tinham as pinturas muito cobertas de fungos, e os fungos causavam verdadeiras placas que impediam a visão das pinturas", explica a restauradora Rosândila Nunes.
São mais de 308 anos de história e uma particularidade. A igreja foi construída para a comunidade negra. Começou a ser erguida em 1704 pela irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, formada por negros escravizados e outros que já tinham alcançado a liberdade.
A construção exigiu muito esforço dos escravos, que quando não estavam trabalhando para os senhores, se empenhavam para erguer paredes. Pequenos comerciantes negros e ex-escravos doavam o pouco dinheiro que conseguiam juntar. Como as finanças eram apertadas, a igreja levou cem anos para ficar totalmente pronta.
“Era um local de reunião, um local de organização dos membros dessa irmandade e que fortalecia ainda mais os laços que eles trouxeram de África", conta o historiador Júlio Cesar Soares.
Laços que vão além das diferenças religiosas. A comerciante Alaíde da Conceição é uma das integrantes da irmandade do Rosário que também praticam o candomblé.
“Eu, minha família, meus filhos, meus netos, meus bisnetos fazem parte, batiza, casa neste templo, que este templo é nosso", diz ela.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Negociar e acomodar identidade religiosa na esfera pública"

Pesquisa científica comprova os benefícios do Johrei

A fé que vem da África – Por Angélica Moura