Autores de livro explicam por que a África e a Europa se desenvolveram de formas tão diferentes - Por Steven D. Leviit


Nós solicitamos recentemente aos leitores de nosso blog, Freakonomics, perguntas para o economista Daron Acemoglu e para o cientista político Jim A. Robinson, autores de "Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty". 
O livro deles explora 15 anos de pesquisa original para responder essa velha pergunta: por que alguns países prosperam, enquanto outros não? Abaixo, os autores discutem os barões do roubo do passado e do presente, e por que a África e a Europa se desenvolveram de formas tão diferentes.
Freakonomics: No capítulo 11 de seu livro, vocês citam o "a derrota dos trustes" como um exemplo de comportamento responsável de governo que impôs ordem aos mercados caóticos. Mas apesar de castigarem os "barões do roubo", vocês nunca explicam plenamente o que eles fizeram de tão ruim. Na medida em que qualquer explicação é fornecida, é a de que os barões do roubo estabeleceram monopólios. Isto implicaria que os consumidores eram obrigados a pagar preços mais elevados, mas, novamente, vocês não apresentam qualquer evidência de que isso ocorreu.
Em comparação, Matt Ridley nota o seguinte em seu recente livro, "The Rational Optimist":
"Os fretes ferroviários caíram 90% entre 1870 e 1900. Há pouca dúvida de que (Cornelius) Vanderbilt às vezes subornava e cometia abusos em seu caminho para o sucesso, e que às vezes pagava salários mais baixos aos seus trabalhadores do que outros –eu não estou tentando torná-lo um santo– mas também não há dúvida de que ao longo do caminho ele proporcionou um enorme benefício aos consumidores, que caso contrário não seria possível –transporte a preço acessível. Da mesma forma, Andrew Carnegie, enquanto se enriquecia enormemente, reduziu o preço da viga de aço em 75% no mesmo período; John D. Rockefeller reduziu o preço do petróleo em 80%. Durante esses trinta anos, o produto interno bruto per capita dos americanos subiu 66%. Eles também foram barões enriquecedores."
Logo, os esforços do presidente Theodore Roosevelt para deter os barões do roubo mais parecem uma interferência desnecessária do governo, em vez de parte de algum "círculo virtuoso", como vocês descrevem em seu livro. Como vocês respondem?
Acemoglu e Robinson: Os barões do roubo surgiram, assim como os bilionários atuais, durante um período específico no qual novas tecnologias criaram oportunidades de enriquecimento. Essas tecnologias e muitas das empresas que as exploraram trouxeram novos produtos aos consumidores e custos mais baixos para os produtos e serviços existentes. É assim que a destruição criativa supostamente funciona. Mas quando não fiscalizadas, todas as empresas, mesmo as bem-sucedidas e inventivas como a Microsoft e o Google, também tentarão monopolizar o mercado, criar barreiras para entrada e fazer o campo de jogo pender a seu favor.
Os barões do roubo originais foram muito bem-sucedidos fazendo isso. Por exemplo, o preço do petróleo refinado caiu acentuadamente na segunda metade do século 19, quando a Standard Oil de Rockefeller dominava 90% do mercado. Apesar de parte disso resultar da organização eficiente da empresa, desenvolvimentos tecnológicos também tiveram um papel importante. Segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a Standard Oil conquistou sua posição dominante usando práticas injustas e discriminadoras. Ela cobrava preços baixos para quebrar concorrentes, mas preços altos quando enfrentava pouca concorrência. Logo, a evidência é de que, assim como todos os monopólios, a Standard Oil cobrava preços altos sempre que podia, e limitava a competição para poder fazê-lo.
Mas o verdadeiro problema dos barões do roubo vai além da economia. Parte do que os tornou tão perigosos era seu crescente poder político. Em um ponto na história americana em que as instituições ainda estavam se desenvolvendo –e quando a máquina política ainda era desenfreada, e o Senado ainda não era eleito e era altamente corrupto– a transformação de poder econômico em poder político era fácil. Nisso, os barões do roubo ameaçavam o lado inclusivo das instituições americanas mais do que a igualdade econômica do país. É por esse motivo que o movimento progressista e os políticos que adotaram suas causas –como os presidentes Theodore Roosevelt, William Taft e Woodrow Wilson– devem ser vistos como protetores de instituições inclusivas, não como usurpadores.
Freakonomics: Eu sou do Haiti, um país sobre o qual vocês discutem com frequência. Eu me mudei para os Estados Unidos há cerca de 10 anos para frequentar a escola.
Eu sempre me perguntei por que países dominados por pessoas negras se saem tão mal (e não estou tentando fazer com que pareçamos estúpidos). Minha pergunta vem do fato de que mesmo dentro do Haiti, as pessoas mais ricas são filhos e filhas de imigrantes da Europa e da Síria. E além da minha terra natal, países governados principalmente por negros tendem a fracassar. Eu considero isso muito preocupante. Isso tem a ver com a escravidão, educação ou ambos? E como poderíamos solucionar esse problema?
Acemoglu e Robinson: O fato de quase todos os países chefiados por negros ser pobre é uma coincidência. Não há nada intrínseco a respeito dos negros que torne esses países menos prósperos. Basta olhar para Botsuana –ele é dirigido por negros para os negros e é uma das grandes histórias de sucesso econômico dos últimos 50 anos. O mesmo vale para vários países caribenhos, incluindo as Bahamas.
Os motivos para isso são vários. Vamos nos concentrar na África. Antes da chegada dos europeus, a África desenvolveu instituições extrativistas por motivos ainda não bem compreendidos. Por exemplo, o motivo do desenvolvimento de Estados centralizados na África ter ficado para trás em relação à Eurásia não é totalmente entendido. Mas nós sabemos que essa história de instituições extrativistas então criou um ciclo vicioso no início do período moderno. Primeiro, o comércio de escravos destruiu os Estados e tornou as instituições econômicas ainda mais extrativistas, e essa crescente pobreza facilitou para os europeus colonizarem o continente. A colonização então deixou seu próprio legado extrativista –um legado com que a África lida desde sua independência.
Mas não havia nada inevitável a respeito desses desenvolvimentos históricos. Há 50 anos, você poderia perguntar: "Por que todo país dirigido por asiáticos é pobre?" Nós não fazemos essa pergunta agora porque sabemos que muitos países asiáticos mudaram suas rotas de desenvolvimento. É claro, eles tinham vantagens que a África não tinha, como uma história de Estados centralizados.
Falando de modo mais amplo, não há nada inevitável a respeito do fato da Revolução Industrial ter ocorrido no Reino Unido e então se espalhado para a Europa Ocidental, permitindo que esses países colonizassem grandes partes do mundo com sua tecnologia superior. Isso foi resultado de um longo processo contingente da mudança institucional. O fato de não ter acontecido na África não tem nada a ver com as pessoas negras, e tudo a ver com choques e histórias institucionais diferentes. Em nosso livro, nós ilustramos isso olhando para a Etiópia. No ano 400 d.C., a Etiópia era bastante semelhante aos Estados na bacia do Mediterrâneo. Mas então ela experimentou choques muito diferentes e, enquanto outras sociedades mudaram, a Etiópia ficou estagnada.
* Stephen J. Dubner é coautor, com Steven D. Levitt, de "Freakonomics: O Lado Oculto e Inesperado de Tudo que nos Afeta" e "Superfreakonomics: O Lado Oculto do Dia a Dia". Para mais a respeito de Freakonomics, visite o site Freakonomics.com.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Negociar e acomodar identidade religiosa na esfera pública"

Pesquisa científica comprova os benefícios do Johrei

A fé que vem da África – Por Angélica Moura