Os judeus de Lisboa - Por Isabel Faria


Atrás de um portão discreto, numa das artérias mais centrais de Lisboa, a Sinagoga Shaaré Tikvá – Portas da Esperança – reflecte o gesto para o qual foi inaugurada em 1904, sem fachada para a rua, por ser proibido na época a visibilidade de um templo que não fosse de religião católica. 
Na arquitectura mesclada de elementos de origem romana, bizantina e romântica lê-se a marca de quem por ali passa.
Coesa, discreta, influente e com origem diversa, assim se traça o perfil da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL), que este ano comemora o centenário de uma lei que só com a República reconheceu a associação do culto judaico. São poucos os judeus de Lisboa, cidade cheia de tradições, mas muitas as histórias que têm para contar.
O GOSTO DE CANTAR
Ana Araújo, 71 anos, cantora de ópera reformada, integrava o elenco do Teatro Nacional São Carlos, é agora guia da Sinagoga. Descobriu tarde a sua origem. Descende de uma família de criptojudeus, marranos da Covilhã, portugueses que durante a Inquisição foram convertidos à força à religião católica e continuaram a praticar o culto judaico em segredo.
"Tinha 20 anos, comecei a ter imenso desejo de partir para Israel e a minha mãe contou-me", diz. 
Até aí, a família praticava a discrição. "Ninguém ia à Igreja, não se baptizavam os filhos e achava isso normal. Só no liceu, quando tive uma professora de religião e moral que rezava todos os dias pelos alunos que não eram baptizados, percebi que a diferente era eu."
Ana Araújo casou com um católico, numa cerimónia "apenas civil", e só aos 43 anos, já separada, voltou a procurar a religião. "Fiz o retorno, estudei o mesmo que as crianças têm de aprender para fazer a cerimónia da conformação, o Bat Mitzva (para raparigas) ou Bar Mitzva (para rapazes), hebraico, orações e já fui a Israel." As filhas seguem o judaísmo de forma diferente: uma é praticante, outra acredita que Deus é igual para todos.

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