A religião contra a pretensão de onipotência da política – Por Gregor Krumpholz


Ugo Perone, novo professor da cátedra Romano Guardini de Berlim, nos próximos dois anos pretende investigar a relação da religião com o mundo moderno. Eis a entrevista.

Professor Perone, quem é Romano Guardini para o senhor?

Eu tomei conhecimento das suas obras há 40 anos, quando comecei a me interessar por teologia. O mais interessante em Guardini é a sua abertura ao mundo moderno. Não por acaso ele também ensinou em Berlim sobre a "visão católica do mundo". Não se deve interpretar isso no sentido ideológico, mas sim compreendê-lo também como abertura da teologia católica às contribuições da literatura ou da filosofia. Guardini tinha um conhecimento muito profundo das perspectivas de outros pensadores.

Em que sentido o senhor considera que o pensamento de Guardini é particularmente atual hoje?

Guardini também julga o mundo atual, que corre o risco de perder os critérios éticos para as suas ações, não simplesmente segundo as categorias de bom ou mau. Ele distingue os casos em que, apesar dos desdobramentos negativos, também há novas possibilidades para a religião. Nesse sentido, Guardini é muito próximo das perspectivas do Concílio Vaticano II.

Quais pontos-chave o senhor pretende abordar nos próximos dois anos como sucessor de Guardini?

Definir-me como sucessor de Guardini é honra demais para mim. No entanto, muitos dos meus temas se cruzarão em uma perspectiva filosófica com os de Guardini. Por exemplo, darei neste semestre conferências sobre a questão da secularização e da modernidade. É um tema adaptado para a situação de Berlim, em que é possível ver muito bem os sinais dessa distância da religião.

O que o senhor dirá aos frequentadores das suas conferências?

Nas minhas lições, discuto, dentre outras coisas, as interpretações generalizadas segundo as quais a religião perde importância. Porque a religião pode oferecer uma contribuição, mesmo no mundo atual. A modernidade é marcada mais pela descoberta do primado do político do que por um puro processo de secularização. Diante de uma pretensão de onipotência da política, a religião pode chamar a nossa atenção para a multiplicidade e para a riqueza de um viver-juntos humano. Desse modo, combate a pretensão de onipotência da política e, ao mesmo tempo, oferece abordagens para uma política melhor.

Como funciona a colaboração com os seus colegas da faculdade evangélica?

Eles me acolheram muito cordialmente. É uma grande oportunidade ecumênica colaborar com teólogos protestantes. Os estudantes, igualmente evangélicos em sua maioria, também são abertos a outras perspectivas.

O cardeal de Berlim, Woelki, é a favor de uma presença mais forte da teologia na cidade. Qual é a sua posição com relação a esse pedido?

Para a vida acadêmica, a teologia é de grande importância. Hoje, porém, é dado muito pouco espaço para as ciências humanas e, dentre elas, a teologia. Por isso, eu também sou a favor de um fortalecimento. No entanto, ele deveria estar ligado ao diálogo inter-religioso, sobretudo com referência à tradição judaica e islâmica, e desenvolver-se no âmbito universitário. Assim, se garantiria que os parceiros no diálogo não se sintam em primeiro lugar representantes da sua religião, mas se encontrem em nível científico.

O senhor conhece bem a cultura italiana e a alemã. Como mudam as suas relações diante da crise europeia?

Apesar da crise, a sociedade italiana atual não é absolutamente contra a Alemanha. Ao contrário das primeiras décadas depois da Segunda Guerra Mundial, tem-se uma imagem muito positiva da Alemanha. No entanto, se criaria um problema para a própria Alemanha se se tivesse uma imagem simplista demais da Itália, por exemplo, como uma sociedade do divertimento. Se a Alemanha quer assumir um papel de liderança econômica e política na Europa, deve mostrar que quer reconhecer e sustentar o bem, seja na Grécia, em Portugal ou na Espanha. Se a Alemanha não levar esses países a sério, será uma catástrofe para a Europa e para a própria Alemanha.




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