Fé e religião – Por Mario Eugenio Saturno


Já tive oportunidade de divulgar, em diversos artigos, pesquisas sobre frequência à uma religião e suscetibilidades à fatores prejudiciais à saúde, por exemplo. 

Um tema ainda pouco explorado envolve a fé e a religião. Como, creio, conhecemos muita gente que diz que tem fé, mas não participa de nenhuma religião, este tema parece bem apropriado.

Pesquisadores do University College London, liderados pelo professor Michael King, realizaram um estudo para entender a relação entre os transtornos mentais e a espiritualidade. Os cientistas entrevistaram 7.400 pessoas na Inglaterra, sendo que 35% seguiam uma religião, 19% tinham uma fé, mas não eram religiosos, e 46% não eram nem uma coisa nem outra.

Os que tinham fé sem religião mostraram um risco 77% maior de abusar de drogas e eram muito mais propensos a sofrer de transtornos alimentares, fobias e neuroses. Poderíamos imaginar que a falta de uma religião estruturada e do apoio que ela proporciona explicaria o fenômeno, mas temos os “ateus” que não seguem também e nem desfrutam do apoio da coletividade. O que podemos inferir é que ter uma fé, buscar a espiritualidade fora da religião formal pode deixar essas pessoas mais vulneráveis aos problemas mentais.

Os pesquisadores Zila Sanchez e Solange Nappo já mostraram que alguns estudos brasileiros, como de P. Dalgalarrondo e outros, denominado “Religião e uso de drogas por adolescentes”, publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria, ou ainda o de L.V.E.R. Silva e outros, publicado na Revista Saúde Pública e outros pelo mundo afora, mostraram que a religiosidade está associada a um menor consumo de drogas e a melhores índices de recuperação para viciados em tratamento médico. Estão menos sujeitos ao vício das drogas os que frequentam uma igreja regularmente, praticam os preceitos da religião professada, ou tiveram educação religiosa formal na infância.

Também já foi mostrado que não somente a religiosidade própria do adolescente pobre o protege do vício de drogas psicotrópicas, mas também a da família. Um estudo observou que 81% dos não-usuários praticavam uma religião por vontade própria enquanto que apenas 13% dos usuários de drogas faziam o mesmo. E outra pesquisa entre universitários paulistanos, os ricos sem religião são os mais propensos a consumir drogas.

Alguns estudiosos afirmam que a religiosidade, independentemente da religião professada, facilita a recuperação da dependência de drogas e diminui os índices de recaída de pacientes, a simples frequência a cultos e missas já contribui para diminuição do consumo de drogas. Especulam que a religiosidade pode auxiliar no processo de recuperação devido a melhora no otimismo, suporte social, melhora na resistência ao estresse e diminuição dos níveis de ansiedade. Também é importante a ressocialização do viciado jovem por meio de reestruturação da rede de amigos, colocando-os em um ambiente sem oferta de drogas.

Enfim, continua valendo para a religião o moto popular: “uma andorinha não faz verão!”, também a fé particular não traz benefícios para o fiel, mas a frequência e submissão a uma religião formal.

Mario Eugenio Saturno (cienciacuriosa.blog.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.



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