Docente de Ciência da Religião ministra palestra e expande contatos com Oxford

Recentemente, o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião (Ppcir) e coordenador do Núcleo de Estudos em Religiões e Filosofias da Índia (Nerfi/CNPq), Dilip Loundo, ministrou, a convite do Centro de Estudos Hindus da Universidade de Oxford (Oxford Centre for Hindu Studies-OCHS), palestra sobre: 

“O Método Racional Adhyaropa-Apavada: a natureza e a estrutura do argumento soteriológico dos Upanisads em Sankaracarya e Swami Saccidanandendra Saraswati”.

O convite foi feito pelo diretor do OCHS, professor Gavin Flood, que tem trabalhos importantes sobre hinduísmo e faz parte da rede de contatos institucionais do Nerfi. Loundo afirma que a experiência possibilitada pela palestra, realizada no último dia 24, foi importante para a divulgação do seu trabalho entre especialistas no âmbito internacional. 

Além disso, abriu perspectivas positivas para estreitamento das relações acadêmicas entre a UFJF e a Universidade de Oxford, em especial no que se refere ao incremento do intercâmbio internacional do Ppcir/UFJF.

“Nosso grupo de estudos (Nerfi/CNPq.) tem recebido professores da Índia e de outros países. O objetivo é que nossos alunos e pesquisadores possam aprofundar suas pesquisas em centros de excelência fora do país, seja na Índia ou em outros países. O OCHS é um desses centros de excelência e o professor Flood está pessoalmente empenhado em abrir as portas para esse tipo de interação, que incluiria tanto o intercâmbio de professores quanto de alunos. Há desde já o convite para que visite o OCHS num futuro próximo por um período mais dilatado.”

Os Upanisads e Swami Sarawasti

Composto por 108 livros, os Upanisads são a parte final dos Vedas (a escritura sagrada do Hinduísmo), voltada para o equacionamento e a superação do sofrimento existencial. A palavra refere-se ao processo pedagógico que envolve mestres e discípulos (ou neófitos), num processo de transmissão de conhecimento em forma de um diálogo conduzido por alguém (mestre) que, tendo passado por uma série de etapas e processos de conhecimento, detém a capacidade de adequar a palavra de instrução aos neófitos.

“O diálogo entre o mestre e o discípulo é o elemento essencial do processo pedagógico. Upanisad quer dizer precisamente ‘sentar-se ao lado ou aos pés do mestre’, ‘aproximar-se do mestre em busca do conhecimento’. De modo geral, trata-se de um pedido de benções, mas não exatamente das benção da Graça, mas, sim, das benções do conhecimento. O mestre é alguém que, ao invés de ditar a Verdade, encaminha e orienta os discípulos na direção da autorrealização.”

A soteriologia tem como dimensão teleológica a salvação do homem ou, nas palavras do professor Dilip, “a superação definitiva do sofrimento existencial”. A ênfase central da palestra proferida por Loundo na Universidade de Oxford foi no recurso reiterado dos Upanisads ao pensamento racional enquanto encaminhamento e resolução da problemática do sofrimento. 

Na tradição ocidental a ênfase recai na ação divina, principalmente, a Graça, ou em outros elementos de caráter emocional. Já no contexto indiano clássico a ênfase recai na reflexão racional. 

“No contexto indiano, não há a oposição entre a fé e a razão. A razão é sempre o esclarecimento último da fé. É uma razão que promove a ‘salvação’, para usar um termo ocidental.”

Questionado sobre a importância dos estudos acadêmicos sobre filosofias da Índia, Loundo aponta para o caráter depreciativo que ainda caracteriza as avaliações sobre as filosofias desenvolvidas em outros espaços civilizacionais que não os europeus e americanos. Tais avaliações tendem a classificar essas outras filosofias como algo pouco elaborado e pouco estruturado, merecedor apenas de capítulos introdutórios à história da filosofia. 

“Elas são tratadas como etapas precursoras de processo de evolução histórica do pensamento racional que teria seu epílogo no Ocidente europeu. Essas etapas, que incluem um pouco de Grécia, um pouco de Índia, e um pouco de China, entre outras, são, portanto, percebidas equivocadamente como eventos do passado, ao invés de processos contemporâneos.”

Para ele, as tradições indianas como, por exemplo, a dos Upanisads, não podem ser tratadas como meras produtoras de textos redigidos em determinado momento histórico. Elas constituem eventos de conhecimento sempre recorrentes e, portanto, contemporâneos. É como se os textos fossem estruturas continuamente reelaboradas, em permanente atualização visando a eficácia no processo de superação do sofrimento. 

“O importante é que esses textos sejam propiciadores de um diálogo, de uma estrutura pedagógica eficaz de transmissão do conhecimento último. Sua eficácia soteriológica é, portanto, o que permite que eles sejam tanto registros de eventos do passado quanto promotores de eventos contemporâneos.”

Até hoje os Upanisads são lidos e apreciados em toda a Índia como textos que promovem a transformação existencial e a libertação de todo o sofrimento. Daí a importância de Swami Sarawasti, um dos principais filósofos contemporâneos da escola Vedanta. 

“Os estudos sobre esse autor são de grande importância, já que nos mostram a contemporaneidade das filosofias da Índia, além de evidenciar o caráter ‘semente” dos textos dos Upanisads.”

Outras informações: (32) 2102-3130/ 3116/ 3105 (Pós-Graduação em Ciência da Religião)





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