Sistema simbólico adotado pela igreja ajuda fiéis a lidar com angústia contemporânea – Por Marcos Alvito


No Brasil, hoje, há mais pastores da Assembleia de Deus do que padres da Igreja Católica. Apenas os aptos a votar, esta semana, eram 25 mil pastores, ante cerca de 22 mil sacerdotes católicos.

A Assembleia de Deus, fundada no Brasil há mais de um século, é uma igreja pentecostal. O grande diferencial em relação às igrejas evangélicas históricas, como a batista, a presbiteriana e a luterana, reside na centralidade atribuída ao Espírito Santo.

Nesse ponto a Assembleia aproxima-se, até certo ponto, da ideia de magia presente nas religiões afro-brasileiras. Abundam curas milagrosas e uso de objetos santificados.

Outro ponto importantíssimo é uma cosmologia maniqueísta, de oposição entre o bem e o mal, Deus e o Diabo. É uma compreensão do Universo como palco de uma batalha espiritual.

A ideia de guerra espiritual é uma chave simplista, mas extremamente eficiente e popular, como comprova o crescimento da corrente nas últimas décadas.

Para entender o avanço das religiões evangélicas no Brasil, sobretudo das correntes pentecostais, é preciso compreender o papel da religião no mundo contemporâneo. A realidade torna-se mais complexa a cada dia. Os processos sociais e as grandes mudanças ocorrem de forma rápida e sem aviso.

Papel da Religião

Ainda que tenha ocorrido aumento recente da renda, a situação de precariedade econômica e social persiste. O abismo entre os avanços científicos e a compreensão do homem comum aprofunda-se. Aí entra a religião.

Ela é um poderoso sistema simbólico capaz de dar uma explicação ou pelo menos propiciar uma esperança de que algum dia haverá um esclarecimento sobre o caos, o sofrimento e a injustiça.

Na Assembleia de Deus isso tudo é muito presente. É uma guerra entre a igreja, representando o conjunto dos fiéis, e o mundo, governado por Satanás. Certa vez visitei um templo da Assembleia de Deus em um subúrbio do Rio de Janeiro. O coro de crianças era chamado de "Soldadinhos de Cristo". Parece que eles estão ganhando a guerra.

MARCOS ALVITO é antropólogo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).





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