Imãs "rebeldes" combatem uso político das mesquitas no Egito



Eles são homens de fé, mas lutam para separar a religião e a política. Devido à crescente influência da Irmandade Muçulmana, centenas de imãs "rebeldes" no Egito estão dispostos a defender sua independência e a de suas mesquitas.
Este movimento, surgido nos últimos meses, é composto por uma ampla variedade de grupos com um objetivo comum: evitar que os tentáculos da confraria alcancem a instituição de Al-Azhar, a mais prestigiada do islã e considerada por alguns o "Vaticano sunita", apesar desta religião carecer de uma hierarquia unificada.
Partidários da pregação de um islã moderado, estes clérigos consideram que Al-Azhar deve ficar à margem da disputa política e ser unicamente responsável pelos assuntos religiosos do país.
O jovem imã Mohammed Nasr, membro da Al-Azhar e muito ativo nas manifestações contra a Irmandade Muçulmana, disse à Agência Efe que defende a "independência das instituições religiosas do Estado e do regime político".
Neste caminho, no entanto, há obstáculos. Os xeques partidários da Irmandade Muçulmana e dos ultraconservadores salafistas, a segunda maior força política do Egito, apoiam a criação de um Estado religioso, declarou Nasr, que faz parte do grupo "Membros de Al-Azhar por um Estado civil".
Antes da revolução de 25 de Janeiro de 2011, as mesquitas eram controladas pela Segurança do Estado, que prendia os imãs que criticavam o regime do ex-ditador Hosni Mubarak. Agora, depois de um curto período de liberdade, recomeçou a perseguição aos opositores da Irmandade.
No dia 10 de abril, as autoridades religiosas decidiram separar de seu posto por expressar opiniões políticas em seus sermões aquele que é conhecido como "imã da revolução", Mazhar Shahin, que formou também um movimento para defender a independência de Al-Azhar.
O clérigo, famoso por liderar a oração na praça Tahrir durante os protestos, pregou em sua mesquita de Omar Makram dois dias depois para afirmar que as decisões da Irmandade Muçulmana "vão pôr o Estado nas mãos do diabo".
Desde sua chegada ao poder, a confraria conseguiu ganhar uma legião de críticos entre os setores laicos e liberais, que a acusam de querer dominar todos os setores do poder. Mas talvez não contasse com uma rebelião nas fileiras dos religiosos.
Uma das principais críticas destes é de que o Ministério de Assuntos Religiosos ("Waqf") é controlado por membros da Irmandade, desde o ministro Talaat Afifi aos chefes dos departamentos, e seus assessores pertencem à corrente salafista.
Para o imã Khalaf Masaud, professor e coordenador dos pregadores de Al-Azhar, este monopólio sobre o Ministério leva a "fortes tentativas das correntes do islã político de dominar as mesquitas e os sermões dos imãs".
"Estas correntes (Irmandade Muçulmana e salafistas) usarão cada vez mais as mesquitas para seus interesses políticos", lamentou Masaud, do movimento "Imãs sem restrições".
A Al-Azhar é considerada por muitos como uma instituição moderada que rejeita a intromissão da religião na política, segundo o jornalista Gamal Fahmi, um dos fundadores da "Frente de apoio a Al-Azhar", a única integrada principalmente por leigos.
Fahmi justificou à Efe a criação deste grupo por medo do que chamou de "projeto fascista" da Irmandade Muçulmana, que, segundo ele, se aproveita da religiosidade da população em suas campanhas políticas.
"Os islamitas desejam que a Al-Azhar seja uma arma ideológica em suas mãos para cumprir seus planos de transformar o país em um Estado religioso", acrescentou.
O dilema de diferenciar a política e a religião está muito presente no Egito desde a revolução, com discussões sobre se aplicar ou não a "sharia" (lei islâmica) que viveram seu ápice durante as eleições presidenciais de 2012 e a redação da nova Constituição.
Sobre aqueles que insistem em seguir ao pé da letra os textos religiosos, Nasr afirma que estes não se pronunciaram sobre a forma do Estado e que o próprio genro do profeta Maomé, Ali, quarto califa do islã, rejeitou recorrer ao Corão para solucionar uma disputa política.



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