Missionário lança livro sobre trabalho no Brasil – Por Joselina Reis

Bater de porta em porta levando uma bíblia na mão tentando apresentar a sua religião não deve ser fácil, imagina fazer isso em outro país onde você não domina a língua e estando longe da sua família. 

O americano Ryan McIlvain, de 30 anos, passou dois anos em Minas Gerais a pedido da Igreja que frequenta desde que nasceu, Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também conhecida com a igreja dos mórmons.

A aventura, que ele compartilhou com outros colegas brasileiros e americanos, virou um livro "ELDERS" (Ryan McIlvain, Hogarth Books). Elders é o nome dado aos jovens mórmons dentro da religião. 

Ryan e os amigos percorreram bairros inteiros, como de costume, a pé ou de bicicleta, tentando mostrar as vantagens da sua fé para os outros. Ao mesmo tempo em que eles esbarravam em problemas sociais, como o alcoolismo e violência, a indiferença de algumas famílias e o poder, quase que religioso que o futebol exerce sobre muitos brasileiros, os jovens missionários ainda tinham que lidar com os próprios problemas.

Ryan, que vive agora em Massachusetts, lançou o livro há dois meses, já recebeu algumas críticas negativas na imprensa americana sobre algumas histórias de seus personagens principalmente sobre a maneira como eles lidaram com o amadurecimento sexual na fase em que deveriam estar pregando. 

"Eu acho que alguns leitores ficaram preocupados com a descrição franca sobre sexualidade no livro. Naquela época, nós tínhamos vinte anos, longe de casa, de qualquer contato social com amigos e namoradas, mas isso não significa que nós podíamos controlar ou segurar nossos impulsos. A história mostra os caminhos que os personagens lidaram com o problema", revela o escritor.

AcheiUSA: Como a Igreja Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias chegou até você ou vice-versa?

Ryan McIlvain: Quando eu nasci minha família já era membro desta igreja, então eu nunca entrei para essa religião. Na opinião, na maioria dos casos, a religião é um "“acidente de nascimento", você nasce dentro de uma. Foi o que aconteceu comigo.

AU: Esse é seu primeiro trabalho na carreira de autor? Você planeja lançá-lo no Brasil?

RM: Sim, esse é meu primeiro livro. Por enquanto não tempos planos para a tradução do livro, mas se houver a necessidades ou alguma proposta estaremos prontos. Tenho certeza de que a história ficaria muito bonita em português. “Tenho tantas saudades daquela língua lindíssima!” (disse Ryan em português durante a entrevista)

AU:Você pediu para ir ao Brasil em uma missão? Ou a igreja escolhe para onde os Elders devem ir?

RM: Minha missão foi no Brasil, assim como os meus personagens, porque a igreja me enviou para o seu país. Jovens mórmons são fortemente encorajados, e mulheres também, a servir de missionários em outros países. Durante esse período eles vão levar o evangelho. Eu fui enviado a Belo Horizonte. Foi maravilhoso!

AU: O que você aprendeu sobre religiao no Brasil? Qual a diferença de pregar no Brasil e nos EUA?

RM: Eu não posso dizer que conheço muito sobre as religiões no Brasil e a religiosidade do povo brasileiro. Mas com certeza eu observei uma grande abertura e receptividade sobre religião em Minas Gerais, se comparada com o que vejo em Massachusetts, por exemplo. Aqui, os missionários raramente encontram uma audiência receptiva. No Brasil, as pessoas pelo menos têm mais respeito e reconhecem o trabalho árduo do missionário, bem mais do que aqui.

AU: Porque você decidiu escrever sobre sua experiência no Brasil?

RM: Eu decidi escrever uma ficção sobre esse período em minha vida porque eu conhecia bem o assunto. Eu acho que ser missionário é fascinante, então resolvi escrever uma narrativa porque acho que isso atrai a atenção das pessoas. A história é um pouco sobre o que existe entre aquilo que você espera ser na vida e a pessoa em que você se transforma.

AU: Você terminou sua missão no Brasil e abandonou a igreja, por quê? Alguma coisa a ver com os problemas que você enfrentou no Brasil?

RM: Não. Meus personagens tiveram mais problemas do que eu realmente tive. Na ficção as coisas são diferentes, precisam ser mais excitantes. Depois que retornei, eu percebi que nada mais dentro da igreja me segurava. Eu duvidava de tudo e a minha vida tomou outro caminho.

AU: Você ainda mantém contato com seus amigos brasileiros?

RM: O personagem Elder Passos é provavelmente uma mistura de todos os amigos e companheiros de missão que eu tive no Brasil. Infelizmente, eu não mantive contato com eles. Enquanto escrevia a história senti muita saudade dos amigos.





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Negociar e acomodar identidade religiosa na esfera pública"

Pesquisa científica comprova os benefícios do Johrei

A fé que vem da África – Por Angélica Moura