Legião Urbana e o rock dos anos 1980 - Por Noêmia Lopes

No campo das Ciências Sociais, o rock nacional não tem o mesmo prestígio de manifestações como a Bossa Nova e a MPB. Enfrenta até mesmo certa resistência por conta de seu estrangeirismo, de seu caráter de produto importado.
Partindo dessa premissa e já inserida em um contexto em que tal cenário começa a se transformar, a cientista social Érica Ribeiro Magi lançou o livro: Rock and Roll é o nosso trabalho: A Legião Urbana do underground ao mainstream.
A obra parte do estudo de mestrado da autora, com apoio da FAPESP e defendido na Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista (FFC/Unesp), campus Marília (SP).
“Meu objetivo era compreender o processo de consolidação do rock brasileiro na década de 1980, por meio da escalada de sucesso da banda Legião Urbana, do underground, vivido em Brasília e São Paulo, ao mainstream, no Rio de Janeiro, analisando a forma pela qual essa geração emergiu e construiu o seu espaço de trabalho na indústria cultural”, afirmou Magi à Agência FAPESP.
Segundo ela, até a década de 1970, o rock feito no Brasil não estava nas paradas de sucesso (exceto por Rita Lee e Raul Seixas), nas capas dos cadernos de cultura e em programas de rádio e TV.
O gênero, seus músicos e fãs estavam às margens do que era respeitado pela imprensa e valorizado pelas gravadoras. “Relacionar rock a trabalho e afastar a imagem dos roqueiros dos estigmas de ‘drogados’ e ‘inconsequentes’ foram princípios construídos e defendidos pela geração de bandas da década seguinte”, disse Magi.
A legitimidade comercial e cultural veio da atuação de bandas como a Legião Urbana, de jornalistas e de produtores musicais, bem como da articulação entre esses diferentes atores sociais. Com base em jornais, revistas, programas de rádio e televisão e álbuns do grupo de Renato Russo, o estudo mostra como tais redes de sociabilidade deram origem a critérios de produção e avaliação musical, que, por sua vez, foram essenciais na consolidação do gênero no país.
Ao longo do texto, a autora conclui que tal articulação entre agentes sociais diversos não seria possível da mesma forma nos dias de hoje. “Isso porque se consolidaram formas de produzir, criticar e divulgar o rock no Brasil que independem de relações de amizade ou de proximidade entre os agentes, ao menos quando falamos em mainstream. “Talvez ainda seja possível encontrar uma articulação parecida no ‘cenário independente’”, disse Magi.
A produção e a crítica musical se profissionalizaram, ganharam formas próprias de expressão e até mesmo diplomas específicos. O gênero assumiu contornos de um “trabalho” propriamente dito e tanto o mercado de trabalho quanto o sistema de ensino foram palcos de transformação.
Magi segue pesquisando o percurso do rock brasileiro, agora no doutorado sobre “A indústria cultural e o ROCK brasileiro dos anos de 1980”, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), também com Bolsa da FAPESP.

Rock and Roll é o nosso trabalho: A Legião Urbana do underground ao mainstream
Autora: Érica Ribeiro Magi
Lançamento: 2013
Páginas: 231
Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br/rock-and-roll-e-nosso-trabalho 




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