Tesouro histórico e religioso – Por Ana Elizabeth Diniz

Muhammad estava agitado e inquieto. Sua cabra travessa tinha sumido. O pastor beduíno entrou em uma das centenas de cavernas esculpidas nas montanhas do deserto da Judeia. Atirou algumas pedras para espantar o animal, mas ouviu barulho de cerâmica se quebrando. 

Assim foram encontrados os Manuscritos do Mar Morto, em 1947, considerada a maior descoberta arqueológica do século XX. 

A maior parte do manuscrito é escrita em hebraico, a língua santa da época bíblica, mas há também partes em aramaico e grego, as línguas da época equivalentes ao inglês do nosso tempo.

O legado fala sobre a comunidade que então habitava as ruínas de Qumran: os essênios, uma seita religiosa da Terra Santa, que são os primeiros monges conhecidos da história.

Quem fala sobre essa fabulosa descoberta arqueológico é Ariel Finguerman, filósofo e jornalista, doutorado em estudos das religiões na Universidade de São Paulo e na Universidade de Tel Aviv (Israel) e autor do livro: “A Teologia do Holocausto” (editora Paulus).

“A descoberta dos manuscritos foi considerada a mais importante já feita na Terra Santa, mas o significado escapa do grande público. Isso porque há pouca divulgação sobre o valor desses documentos, a informação costuma circular apenas entre teólogos e pesquisadores universitário”, comenta o filósofo.

Ariel foi aluno de pós-graduação em Israel da professora Bilhah Nitzan, tradutora oficial dos Manuscritos do Mar Morto. Ele diz que “esses documentos falam de uma época muito sensível para o homem ocidental cristão, o século I da nossa era, ou seja, o tempo em que viveu Jesus”.

Para Ariel, a maior revelação dos manuscritos foi de como era a vida na Terra Santa naquela época. “Esses documentos faziam parte da biblioteca dos essênios, seita religiosa da época de Jesus que nos deu muita informação sobre como era aquela sociedade. Outra revelação foram suas bíblias, que são hoje as mais antigas que conhecemos. Antes da descoberta desses documentos, as bíblias mais antigas eram do século XI e lendo-as vemos que o texto não era exatamente como o nosso, o que mostra que naquela época ainda estava em formação”.

Os Manuscritos do Mar Morto, diz Ariel, “pertencem a Israel, mas as cavernas de Qumram onde foram encontrados estão nos territórios palestinos. Esse é apenas mais um nó nesse complexo conflito”.

“Está claro que Israel nunca dará esses documentos aos palestinos, apesar de eles já terem exigido. O manuscrito é considerado um tesouro nacional, mas as cavernas em si, se algum dia houver um acordo de paz baseado nas fronteiras de 1967, serão parte da Palestina”, afirma.

Cristianismo. Quando da descoberta os documentos, em 1947, houve um temor de que o manuscrito pudesse mudar os dogmas do cristianismo. “Há uma figura histórica mencionada nos manuscritos, o mestre da justiça, líder dos essênios, que teria sido perseguido e morto pelas autoridades, ou seja, a história de Jesus não seria única. Mas isso hoje é descartado. Não há provas de que esse mestre tenha sido morto e, mesmo que isso tenha acontecido, não mudaria em nada o caráter único de Jesus”, avalia o especialista.


Os essênios, diz ele, “eram judeus, assim como os fariseus e os saduceus, as duas outras seitas da época. E assim como Jesus e a primeira geração de cristãos, eles eram monásticos e celibatários, exatamente como Jesus e Paulo, e são considerados os primeiros monges conhecidos da história”.



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