Papa abre histórico sínodo para discutir a família e o casamento



O sínodo começa em um clima de tensão, alimentada pelas críticas dos setores ultraconservadores, que chegaram a acusar o Papa de ter sido eleito de forma ilegal, em um conclave irregular, segundo um livro lançado no sábado pelo jornalista italiano Antonio Socci.

Além dos prelados, participarão laicos e casais, entre eles um casal misto, formado por um católico e um muçulmano.

Francisco pretende abrir a Igreja e deixar de lado a política e a perseguição contra os fieis que não seguem ao pé da letra seus preceitos, como acontecia no passado.

"Há uma porta que até agora esteve fechada e o Papa quer agora que se abra. O Papa quer que o povo de Deus se expresse e diga o que pensa", antecipou à imprensa o cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do sínodo.

A assembleia foi fixada ao término de uma consulta mundial sobre a evolução da família, lançada pelo Papa argentino pouco depois de sua eleição em março de 2013.

Depois deste sínodo extraordinário, no qual não serão tomadas decisões, o Papa programou para 2015 um sínodo ordinário, ao término do qual a Igreja católica poderá adotar medidas específicas, fruta da mediação entre vários setores.

As expectativas nos dois campos são elevadas e não se exclui que a hierarquia da Igreja termine por reiterar o valor da família tradicional e condene o chamado divórcio católico.

Os inúmeros católicos que vivem hoje em dia "fora das regras" preocupa a Igreja liderada por Francisco, que, em algumas ocasiões, insistiu em acolher esses fieis e evitar que sejam excluídos.

O aumento dos divórcios, das famílias monoparentais, da convivência extramatrimonial e das uniões entre pessoas de mesmo sexo estão mudando o modelo de família, por isso o Papa quis convocar este sínodo.

Durante a semana, um grupo de 48 intelectuais católicos conservadores, entre eles muitos americanos, enviou uma carta pedindo que o pontífice seja "intransigente" quanto ao casamento tradicional.

No documento, os intelectuais manifestam preocupação com a família, especialmente nos Estados Unidos, onde 40% dos casais se divorciam.

"Os casais estão desesperadamente à espera de ouvir a verdade (...) saber as razões pelas quais Cristo e a Igreja desejam que sejam fiéis um ao outro por toda a vida", escreveram.

"Quando o casamento se torna difícil, como acontece com a maioria dos casais, a Igreja deve ser uma fonte de apoio, não apenas individualmente", dizem.

Apesar de o Papa ter pedido à hierarquia da Igreja Católica um debate "sereno e aberto" sobre a evolução da família moderna, católicos progressistas e conservadores divergem sobre a questão em discussões na imprensa especializada.

Embora a questão não tenha sido abordada na carta, muitos católicos conservadores, incluindo vários cardeais, rejeitam a ideia de a Igreja liberar a comunhão aos divorciados que se casaram novamente.

Esse é um dos principais assuntos a ser discutido no sínodo, porque parte da hierarquia católica considera que é o preço a ser pago por aqueles que quebram um sacramento como o casamento, considerado insolúvel.


Os prelados debaterão também sobre o aborto, as relações fora do casamento, a violência doméstica, os abusos contra menores dentro da família, assim como imigração, globalização e distintos tipos de pobreza.




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