Fasepa promove momentos de espiritualidade para jovens infratores – Por Tiago Furtado


Um adolescente de 18 anos está há alguns meses no Centro de Internação Jovem Adulto Masculino (Cijam), que custodia jovens a partir de 18 anos em medida socioeducativa de internação.

Na adolescência ele entrou na criminalidade, pelo tráfico de drogas. Comandava pontos de vendas em bairros do município onde vivia, no interior do Estado. Aos poucos ele viu sua vida e de seus familiares sendo destruída. 

Após ser apreendido, ter ficado inicialmente no Centro de Internação Adolescente Masculino (Ciam) e sentenciado à privação de liberdade na Fundação de Atendimento Socioeducativo do Pará (Fasepa), começou a buscar outro rumo. As atividades de religiosidade, que ocorrem aos fins de semana nos espaços socioeducativos da fundação, foram o início de uma grande mudança.

“Desde o dia que entrei no Ciam ouvi a palavra do senhor, e foi Ele que deu o crescimento em mim. Minha vida antes era de trevas, apenas com pensamentos negativos, e fiz muitas coisas horríveis. Trafiquei muita droga, comecei a me viciar na cocaína e depois que ela não deu aquela ‘liga’, passei para o oxi, que era mais forte. Comecei a roubar mais e virei um escravo do vício, não conseguia me controlar. Era como se meu coração pedisse a droga”, revelou o jovem neste sábado (17), quando o Cijam recebeu jovens da Igreja Batista Missionária da Amazônia (IBMA), que levou música religiosa e conselhos de superação aos demais jovens custodiados na unidade da Fasepa.

As ações de religiosidade são desenvolvidas por diferentes igrejas em unidades de privação de liberdade para adolescentes e jovens. A atividade corresponde ao que prevê o Artigo 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sobre o direito à liberdade da crença e culto religioso.

Dez representações religiosas desenvolvem atividades dentro de unidades socioeducativas em todo o Estado, como as igrejas Adventista do Sétimo Dia, Quadrangular, Católica, Universal, Assembleia de Deus, Comunidade Vinho Novo, Igreja Batista e ONG Evangélica Pró Vida.

Caminhos

Todos os espaços de internação da Fasepa recebem programações religiosas no fim de semana, de diversos grupos e denominações. A atividade no Cijam teve a participação de 18 jovens da unidade e mais 38 familiares, que aproveitaram o dia para rever os filhos e incentivá-los a não desistir de buscar a ressocialização.

É o caso do agente de portaria que está com o filho há seis meses cumprindo medida socioeducativa de internação na unidade. Para ele, essas atividades contribuem para o desenvolvimento dos jovens e ajudam-nos a enxergar novas perspectivas de vida, longe da criminalidade.

“Vemos o esforço dos funcionários para que isso aqui aconteça, e essas atividades do dia a dia são fundamentais porque tiram da cabeça do meu filho o pensamento ruim do que fez no passado. Esse apoio do governo, fazendo o que pode para o desenvolvimento dele, ajuda a mudar o coração das pessoas. Antes ele era desobediente; hoje ele nos abraça, beija, dá um reconhecimento maior para as coisas simples da vida. Meu filho, nos últimos seis meses, mudou completamente, porque as atividades que usam a palavra de Deus conseguem mudar as pessoas”, acredita o funcionário.

O filho dele, de 18 anos, comentou a importância das atividades religiosas que afastam os maus pensamentos que possam levá-los para o lado errado. “Aqui sempre temos essas atividades em que os irmãos vêm e nos dão uma palavra para mudar nosso pensamento, e ajuda muito porque como a gente fica no quarto cela, eles conversam bastante com a gente. Poderia até ter esse encontro mais vezes”, disse.

Transformação

Anderson dos Santos, da IBMA, falou trechos bíblicos, apresentou vídeos motivacionais e comentou que, independe do local em que se esteja, a religião é capaz de resgatar a pessoa em situação de vulnerabilidade e mudar a vida dela.

“Eles sempre precisam de palavras de motivação que possam incentivá-los, e trabalhamos muito com isso para ressocializar e dar esperança, independentemente do local em que estão. De início eles ficam meio retraídos, mas depois se soltam e conversam com a gente, contando o que aconteceu para chegar àquele lugar. Pedem orações e para voltarmos mais vezes, por isso acredito que conseguimos alcançar uma boa parte dos jovens com as palavras que passamos”, observa.

Para a gestora do Cijam, Catarina Jordana, é fundamental a parceria com as diferentes entidades religiosas para garantir ao jovem maior diversidade para o socioeducando e também seguir o modelo de atendimento orientado pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase).


“Temos parceria com as igrejas que mantêm trabalho de acompanhamento para fazer um momento de louvor e reflexão aproveitando o momento das visitas. Isso sensibiliza muito os jovens. A intenção é que eles entendam que, apesar de estarem privados de liberdade, por um ato que cometeram, é um momento de ressignificar a vida pensando na espiritualidade, eixo que o Sinase preconiza na medida socioeducativa”, declara.




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