Dirigente de Umbanda é homenageado no Dia Mundial da Religião



Em entrevista ao Jornal, o dirigente, ou sacerdote, da Tenda de Umbanda Unidos em Oxalá, Luis Claudio Bertolini, disserta sobre a religião de raízes afrobrasileiras que, em Valinhos, é crescente e já possui cinco terreiros abertos ao público. Anteontem (21 de Janeiro) foi comemorado o Dia Mundial da Religião e do Combate à Intolerância Religiosa.

Desconstruindo preconceitos, o administrador procura ressaltar questões que, desde sempre, são considerados tabus e envolvem uma série de estereótipos formados por falta de informação.

Silene Henrique Bertoli, sua esposa, também é dirigente da Tenda, e deve a ela grande parte do progresso que o terreiro teve durante sua história, que iniciou-se em 2008.

“O fundamento da Umbanda tem que ser o mesmo sempre: caridade e ajudar o próximo”, diz Luis, demonstrando que, apesar de ser uma religião e uma cultura negligenciada por todo o país, prega, suposta e basicamente, conceitos que procuram a transcendência espiritual das pessoas.

Como funcionam os rituais?

Resumindo a Umbanda exercida em seu terreiro, diz: “é a psicologia do espírito”, já que algumas simbologias e práticas se alteram conforme os locais e dirigentes. Basicamente, todos os rituais têm o intuito principal de doação não necessariamente material, mas de conselhos para auxiliar os que procuram autoconhecimento. 

Infelizmente, a imagem que se possui das confraternizações umbandistas é negativa, já que muitos não possuem conhecimento suficiente e alguns, de má fé, realizam “giras” (encontros) em função de metas e interesses pessoais de maneiras ludibriosas, daí a visão pejorativa do termo “macumba” , por exemplo, que, na verdade, faz referência a um instrumento musical, somente.

Em sua Tenda, Luis fornece uma cronologia de como se guiam os atos: percussões iniciam-se, promovendo específicos cantos de abertura, cujas letras e melodias procuram manter os participantes em sintonia e prontos para ajudar e serem ajudados.

Logo após dos “procedimentos de vibração” (como o sacerdote aponta), as orações de Pai Nosso, Ave Maria e Cáritas são reproduzidas, demonstrando a relação direta com o catolicismo. Vem, então, o procedimento mais espiritual: os chamados médiuns, através de mais cantos e música, recebem entidades em seus corpos, que são personificadas para que possam, organizadamente, atender os participantes da gira separadamente e tentar ajudar em problemas específicos. As entidades são como personalidades ligadas à cultura afro-brasileira, ou seja, são modos diferentes de auxiliar o próximo. Às vezes, o que separa uma entidade ou outra são somente os arquétipos: sotaques, nomes, formas de trabalho e histórias.

São 82 médiuns que auxiliam o terreiro, cooperando para fazer com que tudo não seja nada além de uma atividade voluntária. Existem, então, responsáveis por diversos setores da Unidos em Oxalá, desde tesoureiros a responsáveis por oferendas às figuras religiosas. A maioria do dinheiro provém de doações solidárias.

Obviamente, elas impulsionam os procedimentos, mas nunca são cobrados e nunca serão, de acordo com o dirigente. Além disso, bingos, rifas e almoços beneficentes são realizados. Somente em sua “casa”, são recebidas 200 pessoas por semana, com rituais realizados de quintas-feiras (a partir das 20h) e sábados (a partir das 15h).

Para a melhor organização, são entregues senhas em função dos atendimentos particulares com os médiuns. Estas, de quinta-feira, começam a ser entregues às 19h, e de sábado, 14h.

Deixando o preconceito de lado

Compreendendo que, em quaisquer que sejam as religiões, há corrupção das intenções primordiais, “onde há oportunidade de interesses, o homem estraga”, diz. Um clássico exemplo, para o sacerdote, é o que muitas igrejas evangélicas fazem ao relacionar transcendência ao valor material financeiro. “Tornam a fé um mercado”, diz. 

“Estas pessoas te blindam de seus próprios defeitos”, item que afirma que a Umbanda pratica de modo totalmente contrário: “te coloca contra você mesmo”, em outras palavras, autoconhecimento.

A cultura valinhense

De acordo com Luis, a Umbanda é uma religião presente na cidade há quase 40 anos, graças a outras casas mais antigas como a do “Pai Sacomé”, cujo dirigente é o Pai Marco. Este ponto leva diretamente à discussão da valorização cultural da cidade, uma vez que, além de típica do município, é intrínseca à história do Brasil.

Levando em conta uma das festas mais tradicionais da cidade, a Festa do Figo, quando questionado, o dirigente diz que sente falta de maior valorização por parte do incentivo governamental, e que poderia haver integração cultural, uma vez que pode trazer música e exercícios espirituais ao público, com o objetivo de desconstruir preconceitos, também. Para ele, e muitos mais, ficou claro no evento Revelando São Paulo, que envolveu a Umbanda.

Mencionando suas vontades, destaca que adoraria realizar um evento de homenagem à religião, promovendo a reunião de vários terreiros e personalidades da Umbanda em espaço público para celebrar com cantos e alegria. 

Além disso, exclama: “eu tenho um sonho: colocar um padre e um pastor no terreiro, e vice e versa”. Luis espera que logo a religião receba tanto prestígio na cidade como qualquer outra, livre de amarras preconceituosas.





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