“Onde moram as idéias”

“Onde moram as idéias”
“Um País se faz com homens e livros”.
Monteiro Lobato


Desde que me entendo por gente, sinto que existem alguns lugares que parecem mágicos, pois nos inspiram e nos fazem sonhar. Um desses lugares é a biblioteca. Entrar em uma é como passar por lugares remotos, mundos diferentes, contemplar os séculos, viajar no tempo, tudo junto. A primeira vez que fui a uma biblioteca foi por influência do meu avô. Apesar de morar no Mato Grosso, ele sempre falava da Biblioteca Nacional que ficava no Rio de Janeiro. Do jeito que ele a descrevia, parecia uma catedral, um planetário, um museu. Nesta época eu morava em Niterói e, por isso, para uma criança, ir ao Rio de Janeiro, era mais do que uma aventura era um desafio. Bom, fugi de casa. Inventei uma desculpa, e fui sozinho. A biblioteca era tudo aquilo que meu avô tinha dito e...muito mais. Senti-me como indo pela primeira vez em um templo. Perdi-me em suas estantes e corredores, fiquei alucinado com tanto para ver e tão pouco tempo! Apenas uma vida! Estas reminiscências são para falar sobre a mais importante instituição pública paralela à escola: A Biblioteca. Em termos técnicos, podemos definir biblioteca como uma coleção pública ou privada de livros e documentos congêneres, organizadas para estudo, leitura e consulta. A palavra biblioteca origina-se do latim que, por sua vez, deriva do termo grego biblos, livros. O significado moderno da palavra faz referência a qualquer compilação de dados registrados em forma de livros ou não. Existe uma grande variedade de coleções bibliográficas e variados são seus fins e usuários.

As bibliotecas, na qualidade de depósitos de informação escrita, surgiram no Oriente Médio, entre 3.000 e 2.000 a.C. A mais importante do mundo antigo foi fundada em Alexandria, no século III a.C. Perto do século I a.C., os romanos abastados começaram a criar bibliotecas particulares, com obras gregas e latinas. A crescente procura por livros deu origem ao comércio de copistas, ao surgimento de livrarias e ao estabelecimento de bibliotecas públicas. No Brasil, a maior biblioteca pública é a Biblioteca Nacional, fundada em 1810, por Dom João VI, no Rio de Janeiro. Dom João iniciou-a com 60 mil volumes que pertenciam à Biblioteca Real da Ajuda. Em pouco tempo, tornou-se a maior biblioteca da América do Sul, com cerca de 3,5 milhões de peças. Mas, apesar do enorme acervo literário que possuímos no Brasil, ainda é muito precário o investimento em programas que incentivam e financiam a criação de bibliotecas públicas. São apenas 4.731 em todo o país, uma para cada 36 mil habitantes. Segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, departamento da Fundação Biblioteca Nacional, o estado do Amazonas tem apenas 19 unidades para atender a uma população de quase três milhões de habitantes. Em Roraima, apenas cinco bibliotecas públicas estão disponíveis para os 274 mil roraimenses. Em São Paulo, estado com o maior número de bibliotecas públicas (734), há uma unidade para cada 28 mil habitantes. Na França, essa taxa é de uma biblioteca para cada 16 mil franceses.É importante também perceber que o hábito de leitura de um povo não pode ser considerado igual à sua alfabetização. Segundo a Câmara Brasileira de Literatura (CBL), o consumo de livros per capita/ano, considerando a população alfabetizada maior de 14 anos (86 milhões), é de 3,84. Quando se considera o conjunto da população, esse número cai para 1,27 livro. O índice mundialmente tido como razoável é de seis livros per capita/ano. Outra pesquisa da CBL mostra que apenas 16% da população adulta alfabetizada no Brasil possui 73% dos livros que os brasileiros têm na estante. Um povo sem cultura literária compromete seu futuro e têm dificuldades para crescer. Os desafios na pregação do Evangelho também se agravam com a falta de leitura do povo. Não é à toa que os primeiros missionários sentiram a necessidade de plantar escolas. Boanerges Ribeiro, historiador da igreja presbiteriana, cita em seu livro: “Protestantismo e Cultura brasileira”, a passagem de um relatório dado em 1867 pelo missionário Ashbel Green Simonton. Dizia ele: “outro meio indispensável para assegurar o futuro da igreja evangélica no Brasil é o estabelecimento de escolas para os filhos de seus membros”. (p.184).
No Brasil, temos um dos piores índices de alfabetização, escolaridade e de instituições públicas de incentivo e acesso à leitura. Fico a imaginar se as igrejas de todas as confissões: católicas, espíritas, judaicas, islâmicas, evangélicas, despertassem e investissem em salas de leitura, reforço escolar e mesmo bibliotecas para as comunidades em que estão inseridas. A vocação social da religião passa pela educação.
Creio que poderíamos contribuir muito se aproveitássemos os espaços físicos e nossa disposição em ensinar para despertar o hábito e o prazer pela leitura. Se em cada igreja houvesse uma sala de leitura e mesmo uma biblioteca, poderíamos dar ao povo a oportunidade de aprender mais sobre o mundo sem sair de casa. A biblioteca é a casa onde nascem as idéias, onde o povo pode ter acesso à cultura, onde crianças podem sonhar, conhecer e lembrar das histórias fantásticas que um dia seus avós contaram. Poderíamos parafrasear o texto sagrado dizendo: “E como conhecerão....se não há quem leia?”

Para os amantes da leitura, incluí aqui alguns sites de bibliotecas on-line:
Biblioteca Nacional / RJ - http://www.bn.br/
Biblioteca Eletrônica Cristã – www. ekeko.rcp.net.pe/IAL/vm/bec/index.html
Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro - http://www.bibvirt.futuro.usp.br/
Bibliotecas Virtuais – PROSSIGA - http://www.prossiga.br/rei.html
USP - Sistema de Bibliotecas – SIBI - http://www.usp.br/sibi/index.html
Biblioteca Virtual de Educação à Distância (PUC-RS) - http://www.cglobal.pucrs.br/

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