Clio - Religião e Política nos EUA



Nos EUA voto cristão divide-se quanto a princípios religiosos e pragmatismo
Os evangélicos norte-americanos estão tentando encontrar um candidato republicano que seja genuinamente religioso e que, ao mesmo tempo, tenha chance de ganhar a eleição presidencial.

Quando os cristãos conservadores da Carolina do Sul apoiaram maciçamente George W. Bush na eleição primária de 2000, eles sabiam que estavam votando em um candidato que ao mesmo tempo era um "crente verdadeiro" e que poderia obter apoio suficiente entre o universo mais amplo do eleitorado republicano para chegar à Casa Branca. Porém, quando os eleitores que votarão na prévia do Estado neste sábado (19/01) dirigirem-se às urnas, será mais difícil escolher um candidato. "Estou indeciso. Votarei em alguém que conta com mais chance de se eleger, ou em um candidato que dificilmente será eleito?", diz, Janelle, um estudante de 21 anos de idade da Universidade Bob Jones, uma instituição fundamentalista cristã.

Os eleitores evangélicos tendem a ser conservadores. Para a maior parte dos conservadores, a decisão entre votar com base nos seus princípios ou ser pragmático resume-se à escolha entre Mike Huckabee, o ex-governador do Estado de Arkansas e pregador batista, e outros candidatos republicanos, como por exemplo, Fred Thompson. Thompson, um ex-senador que está bem atrás nas pesquisas de opinião, está minando o apoio a Huckabee entre os conservadores. Em um apelo direto à sua base conservadora na Carolina do Sul, Huckabee, que está em segundo lugar nas pesquisas, bastante próximo do atual favorito, John McCain, deu uma drástica guinada para a direita nos últimos dias. Por exemplo, ele recusou-se a condenar a ostentação da bandeira confederada - que para alguns conservadores brancos é um símbolo da herança cultural do sul dos Estados Unidos, mas que para outros norte-americanos é um emblema de segregação e racismo. "Vocês não gostam que pessoas de fora do Estado venham até aqui e lhes digam o que fazer com a bandeira", disse ele a apoiadores em Myrtle Beach. "Se alguém vier a Arkansas e nos disser o que devemos fazer com a nossa bandeira, nós lhe diremos o que deve fazer com o mastro".

Ele tornou-se também o primeiro candidato a assinar um termo de compromisso no sentido de impedir que imigrantes ilegais obtenham a cidadania e de deportar aqueles que forem pegos nos Estados Unidos sem documentação. Essas são questões pertinentes para os conservadores, e não especificamente para os eleitores evangélicos, e tais comentários do ex-governador têm como objetivo fortalecê-lo na disputa com Thompson e McCain.

Segundo John Green, membro do Fórum Pew sobre Religião e Vida Pública, os ativistas do movimento cristão conservador temem que esta eleição possa fazer com que eles percam influência sobre a Casa Branca. Embora os evangélicos estejam unidos nas suas posições quanto a questões sociais como o aborto e a oposição ao casamento gay, Green afirma que os resultados da primária de hoje indicarão se os eleitores da direita religiosa acabaram dividindo-se no que diz respeito a outras questões como a economia e a política externa.
Esther Wagner, uma voluntária local da campanha de Thompson, diz que não confia em Huckabee quando se trata de questões econômicas e de segurança nacional. "Não estou escolhendo um pastor, e sim um presidente", diz ela. A indecisão quanto à escolha do ex-pastor revela que o movimento evangélico não é mais tão ideologicamente unificado ou organizado como costumava ser na época em que encontrava-se no ápice do seu poder político. A Coalizão Cristã, fundada por Pat Robertson, o tele-evangelista, já foi fundamental para angariar e direcionar os votos da base evangélica no sul dos Estados Unidos, mas agora a sua influência diminuiu.

As preocupações quanto à segurança nacional depois dos ataques terroristas de 2001 contra os Estados Unidos significaram mais uma redução do poder e da unidade dos cristãos conservadores. McCain e o candidato rival republicano Rudy Giuliani, ambos tidos como moderados, conquistaram apoio entre os conservadores ao capitalizarem os seus pontos fortes quando se trata da segurança nacional, e ao argumentarem que o extremismo islâmico representa uma "ameaça existencial" à civilização ocidental. Robertson endossou a candidatura de Giuliani, afirmando que a luta contra o "islamismo radical" deveria ser vista como uma causa cristã. Michael, um aluno de ciência política da Universidade Bob Jones que apóia Huckabee, diz que o poder dos cristãos conservadores tornar-se-á evidente mais uma vez caso Giuliani, um candidato que segundo ele "defende o aborto e a homossexualidade", seja o escolhido para disputar a presidência pelo Partido Republicano."Os eleitores conservadores não aparecerão para votar no dia da eleição presidencial, ou apoiarão um candidato independente", afirma ele. Embora a universidade não tenha apoiado oficialmente nenhum candidato, o seu presidente, Bob Bones III, afirmou que apóia Mitt Romney, o ex-governador de Massachusetts que, segundo as pesquisas, está lutando por um terceiro lugar. "O que importa de fato é derrotar Hillary", disse Jones ao jornal Greenville News, referindo-se à candidata democrata e ex-primeira-dama.


Fonte: http://www.ft.com/home/us

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