Livro analisa contribuição de Walter Benjamin para a educação - Por Fábio de Castro

Lançado recentemente pela Editora Unesp, apresenta os resultados da pesquisa de mestrado realizada por Caroline Mitrovitch no livro: 

Experiência e formação em Walter Benjamin

A dissertação, realizada com apoio de Bolsa da FAPESP, foi defendida na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp, em Presidente Prudente (SP), sob orientação de Divino José da Silva.
No livro, Mitrovitch analisou três ensaios de Walter Benjamin que estão centrados nos conceitos de formação cultural e experiência: “Experiência e pobreza”, “Sobre alguns temas em Baudelaire” e “Sobre o conceito de história”.
Segundo a autora, embora o estudo tenha caráter essencialmente filosófico e conceitual, teve também uma abordagem propositiva, voltada para uma reflexão sobre os fundamentos da educação.
“O objetivo foi discutir os conceitos de experiência e formação cultural propostos por Benjamin, a fim de projetá-los para a formulação de um novo conceito de educação na sociedade contemporânea”, disse à Agência FAPESP.
Em sua reflexão, Mitrovitch procura compreender como os conceitos de experiência e formação cultural contribuem para uma visão que se opõe à hegemonia do pensamento cartesiano e lógico, abrindo mais possibilidades para o processo de formação do indivíduo.
“Procurei trazer essas concepções para a educação contemporânea. Nela, é como se a fonte do saber estivesse calcada em algo que não é da ordem hegemônica, afirmando a atualidade de um cotidiano degradado e fragmentado. Tudo isso faz sentido se pensarmos que por trás do conceito de experiência de Benjamin há uma noção de conhecimento não representacionista”, disse.
A autora explica que sua reflexão sobre o sentido da educação foi feita a partir de uma análise ético-estética dos textos de Benjamin. “Trata-se de uma reflexão ética, porque ela aborda não apenas do que é a educação, mas do que deveria ser. E é estética porque estamos falando de um conhecimento narrativo, que descreve o real de uma maneira mais artística que o simples retrato racional da realidade”, disse.
No pensamento de Benjamin, o caráter universal do conhecimento não é abstrato, pois se trata de um conhecimento que não tem a pretensão de ser um discurso científico. “Esse conhecimento é um conceito estético e, assim, o conceito de educação ao qual ele remete traz consigo essa dimensão estética, fundindo-se com o sujeito em sua concretude”, disse Mitrovitch.
A síntese da proposta do livro consiste em procurar entender se, no universo do autor alemão, a experiência pode ser considerada formativa e de que tipo de formação se trata.
“Essa experiência é baseada na ideia de senso comum, isto é, não tem em sua essência a universalidade da razão, mas tem seu sentido instituído pela comunidade. Renovar um mundo comum, eis o que caracteriza a dimensão formativa do conceito de experiência benjaminiano”, disse.
A dimensão formativa do conceito de experiência é possível, segundo a autora, graças à criação de sentidos que florescem mediante o abandono conceitual a um pensamento por imagens – uma estrutura narrativa mais próxima da paisagem urbana, que é o pano de fundo da vida moderna.
“Dessa forma, a experiência formativa não tem a pretensão de fundamentar conhecimento algum, apenas quer afirmar essa abertura de sentido do saber. A experiência formativa benjaminiana pode ser assim caracterizada: significa a luta pela vida, em sua capacidade de sobreviver à cultura, e fazê-lo risonhamente”, destacou Mitrovitch.
“Uma atitude ético-estética se apresenta como alternativa ao embate teoria-prática, ao renunciar ao pragmatismo e, consequentemente, ao idealismo, a favor de uma poética da educação, a favor da criação de nichos de experiência de conhecimento sem qualquer ambição de expor verdades inquestionáveis”, disse.

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