A Vida Secreta dos Objetos



Existem hoje fortes indicações de que uma transformação significativa está se processando no horizonte das chamadas “ciências humanas” (Geisteswissenschaften, sciences humaines, Humanities). 
Após um período de intensa crise e indefinição, no qual as ciências do homem buscaram ocasionalmente espelhar-se ou aproximar-se das ciências duras, o início do século XXI possivelmente testemunha uma renovação de disciplinas, abordagens e metodologias. 
A partir do questionamento de seus fundamentos tradicionais, as ciências humanas vêm se reinventando, numa ampla reconfiguração de suas fronteiras e mesmo da noção de “humanidade” que lhe servia como pedra de toque. 
Um dos domínios onde a riqueza desse novo cenário se apresenta mais claramente é o dos estudos de mídia. Impulsionados pelo impacto das novas tecnologias digitais, os estudos de mídia inteligentemente souberam apropriar-se dos princípios epistemológicos e dos grandes temas teóricos que têm caracterizado o cenário cultural contemporâneo.
Banner "A Vida Secreta dos Objetos"
O objetivo do Simpósio “A Vida Secreta dos Objetos: Medialidades, Materialidades, Temporalidades” é ensaiar uma sistematização desse novo cenário a partir de uma perspectiva transdisciplinar, mas com decisivo foco nos estudos de comunicação e cultura. Os três eixos nos quais se estrutura o Simpósio representam nós de articulação fundamentais que atravessam diferentes disciplinas das humanidades, da sociologia à filosofia, mas que adquirem sentido especial no contexto dos novos estudos de comunicação. 
Adota-se como pressuposto central a necessidade de se repensar radicalmente a noção de agência em um contexto epistêmico onde a ação e o impacto dos objetos, meios e materialidades tecnológicas torna-se cada vez mais importante. Desse modo, trata-se de investigar não só o lugar dos atores humanos em um mundo enriquecido pela vida polimórfica e mutante dos objetos, mas de se pôr em destaque as questões que a forte tradição hermenêutica das humanidades acabou freqüentemente por obscurecer: o que, sem constituir propriamente sentido, contribui para a constituição do sentido? O que é um meio e como se dão os processos de mediação? 
Em que aspectos as materialidades tecnológicas informam mundos culturais e determinam formas de cognição? Que novos modelos de investigação histórica das técnicas e da cultura estão emergindo no interior dos atuais paradigmas epistêmicos? De que modos a dimensão material da experiência se conjuga com as dimensões imateriais da cultura? 
O que significa elaborar uma filosofia dirigida aos objetos? Em que sentidos a categoria do humano se reconfigura face a nossas novas relações com os objetos e as entidades inumanas? Qual a importância do legado da genealogia e da arqueologia dos saberes (Nietzsche, Foucault) para uma perspectivização dos impactos da “nova” cultura digital? 
Por meio de painéis interdisciplinares, nos quais filósofos, antropólogos e sociólogos irão discutir com especialistas em estudos de mídia, pretende-se abordar tais questões, de modo a elaborar cartografias preliminares para um novo território epistemológico ainda em estágio inicial de exploração.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Negociar e acomodar identidade religiosa na esfera pública"

Pesquisa científica comprova os benefícios do Johrei

A fé que vem da África – Por Angélica Moura