Atenas é criticada pelo ataque aos imigrantes - Por Alain Salles


Imigrantes afegãos fazem orações em mesquita, em Atenas, na Grécia

Ao todo, 12.455 pessoas foram detidas para averiguações ao longo do mês de agosto em uma vasta operação da polícia. Os imigrantes são alvo de ataques violentos conduzidos por grupos racistas.

Em uma Grécia castigada pela crise, Zeus tem mostrado um estranho senso de hospitalidade. O governo de coalizão liderado pelo primeiro-ministro conservador Antonis Samaras batizou de "Xenios Zeus" (Zeus hospitaleiro) uma operação de prisões e de deportações de imigrantes lançada no dia 2 de agosto, que vem sendo conduzida desde então. 

Foram detidas para averiguações 12.455 pessoas, e pouco mais de 2 mil delas foram presas. Cerca de 250 imigrantes foram deportados para seus países de origem. A operação está tendo repercussões. Ela foi denunciada por ONGs, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch

Durante uma visita a Atenas, na semana passada, o representante regional do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Laurens Jolles, alertou o ministro da Proteção dos Cidadãos, Nikos Dendias, sobre "o risco de que possa haver pessoas a serem protegidas entre os imigrantes presos", risco incrementado pelas falhas no procedimento de asilo grego.

A "Xenios Zeus" faz parte de um contexto de fortes tensões sobre as questões de imigração, marcado pelo sucesso eleitoral de um partido neofascista, a Aurora Dourada, que exibe um discurso e um comportamento pesado contra os imigrantes, e pela multiplicação de ataques sofridos pelos estrangeiros. 

O Acnur tem se preocupado com o aumento "de ataques racistas aos estrangeiros, sobretudo entre solicitantes de asilo e os refugiados".

No dia 12 de agosto, um iraquiano foi agredido no centro de Atenas por um grupo de motoqueiros e esfaqueado até a morte. O Acnur e dezenove ONGs denunciaram "o fato de que os autores de tais ataques estejam agindo sem serem perturbados". 

Em um relatório publicado em julho, a HRW registra os ataques e enfatiza a falta de reação por parte da polícia, suspeita de proteger o partido Aurora Dourada. Uma reportagem da publicação semanal "To Vima" mostrou que esse partido conseguia um bom desempenho nos postos eleitorais situados perto dos quartéis de polícia.

Milhares de trabalhadores imigrantes fizeram uma manifestação, na última sexta-feira (24), nas ruas de Atenas, para protestar contra os atos de violência das quais foram vítimas. A passeata, composta principalmente por homens paquistaneses, protestava contra o ataque de uma mesquita no mês de agosto, durante o Ramadã.

As bandeiras do partido de extrema esquerda Antarsya, muito ativo na defesa dos imigrantes, se misturava a cartazes de "não à islamofobia", "fora, fascistas!" ou "punição aos fascistas que atacam mesquitas e insultam o Profeta". 

A multidão avançava de forma disciplinada na direção da Praça Syntagma, pontuando sua marcha com "Allah Akbar" [Deus é grande], repetido em coro. "Estamos protestando contra a extrema direita, não contra o povo grego ou o governo grego", explica Azhar, de 23 anos.

Na véspera, um grupo de militantes do partido neofascista em Corinto, no Peloponeso, se opôs à transferência de imigrantes à antiga base militar da cidade, transformada em centro de detenção para uma centena de imigrantes presos como parte de uma operação policial contra a imigração clandestina.

O prefeito socialista da cidade se opôs ao uso da base como centro de detenção, chegando a ameaçar cortar a água. Vários parlamentares locais do norte da Grécia, para onde são enviados muitos dos imigrantes presos, também foram contra a abertura de tais centros. 

O governo grego prometeu várias vezes construir centros de detenção, para os quais ele poderia usar fundos europeus, mas sem nunca cumprir suas promessas. As condições de detenção dos imigrantes na Grécia foram denunciadas em diversos relatórios de ONGs.

Essas operações policiais não são próprias da direita do Nova Democracia. O ex-ministro socialista da Proteção dos Cidadãos, Michalis Chryssohoidis, havia lançado uma operação de "limpeza" do centro de Atenas, pouco antes da eleição legislativa de 6 de maio. Seu sucessor, Nikos Dendias, empregou grandes recursos para a operação "Xenios Zeus".

"O problema da imigração talvez seja ainda maior que o problema econômico", avaliou o ministro, que comparou "a invasão dos imigrantes" à dos dórios, no final do segundo milênio antes de Cristo. 

O primeiro-ministro, Antonis Samaras, comemorou a ação de seu ministro, que recebe o apoio de uma "ampla maioria de gregos", enquanto associa imigração clandestina à criminalidade.

Dendias se comprometeu perante o representante do Acnur a instaurar uma força especial contra os ataques racistas, que combateria essas brigadas motorizadas que perseguem imigrantes.



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