Mostra de cinema mostra que no âmbito mineiro há grande produção - Por Walter Sebastião


Feitos em Belo Horizonte. Na raça, com apoio de amigos, poucos recursos e afirmando independência estética. Esse é o perfil dos 12 longa-metragens, realizados entre 2011 e 2013, que serão exibidos na mostra 

'O cinema de Belo Horizonte'

que começa hoje e vai até dia 18, no Cine 104. A marca, explica o programador Daniel Queiroz é a diversidade estética e de gêneros. 

“É panorama que revela momento produtivo do cinema mineiro”, explica, lembrando que já houve tempos na cidade em que se produziam no máximo dois filmes por ano. 

A mostra traz longas que não passaram em BH ou tiveram exibições pontuais. Alguns dos filmes foram lançados na Mostra Aurora, do Festival de Cinema de Tiradentes (MG), espaço dedicado aos novos diretores. 

“São trabalhos voltados para o artístico”, explica Daniel Queiroz. Chamam a atenção, observa, os cuidados dos diretores com a imagem e o tempo cinematográfico. Produto, para ele, de dedicação ao estudo. “Mais conhecimento técnico e histórico acaba se refletindo positivamente na hora de fazerem os primeiros filmes”, garante.

'Não quero pregos nas minhas mãos', de Cris Ventura, é retrato do escultor mineiro Maurino Araújo, conhecido por dançar nas ruas. 

“Quem o vê pela cidade não sabe que é artista muito importante”, conta a diretora. O filme era para ser sobre a obra de Maurino. Mas, convivendo com o artista, a diretora decidiu também focar a vida de Maurino e o fato de ele usar a dança para combater a depressão. 

O nome do filme remete à recusa do artista, mesmo vivendo modestamente, de ser visto como coitadinho, sofredor. “O filme é uma tentativa de me aproximar de um artista respeitado, que é um homem simples, misterioso e algo indecifrável”, explica. “Ele merece ser mais conhecido”, afirma, lembrando que, apesar de ele ter décadas de carreira, não há livro sobre a obra dele. 

Cris Ventura tem 28 anos e é formada em literatura. Sempre gostou de artes, o que a levou ao flerte com a música e o teatro. Fez cursos e oficinas de cinema, aprendizado que aprofundou ao se casar com o cineasta mineiro Carlos Magno. “Ele foi a minha escola”, brinca

“Nosso cinema tem sido feito na garra, pelo desejo de fazer. Os recursos são muito limitados”, explica. O longa surgiu de projeto de média-metragem que foi estendido de forma a dar mais visibilidade ao filme e ao artista. No momento, a diretora está terminando mestrado cujo tema serão os documentários autorreferenciais.


Sagrado e Profano

'Semana santa', de Samuel Marotta e Leonardo Amaral, é filme experimental, interpretado pelos próprios diretores, que mistura religiões, artes, ficção, documentário etc. para falar dos encontros e desencontros entre o sagrado e o profano. 

“Durante projeção, em mostra no Ceará, alguém gritou que era filme tropicalista”, conta Marotta, observando que o filme carrega algo dessa estética. “É filme, é ato de fé no cinema, na amizade, na arte”, observa. 

O diretor prefere evitar rótulos e situar o filme como produto do interesse dos realizadores pela vida no interior. 'Semana Santa', conta, é o primeiro de trilogia de longas – o segundo, Jubileu está em andamento. 

Samuel e Leonardo integram grupo que assina, coletivamente, outro filme que está na mostra: 'Estado de sítio'. A mesma equipe do filme também atuou em 'Semana Santa'. O diretor é outro que lamenta a falta de dinheiro, que está quase inviabilizando fazer cinema em BH. 
“Mais recursos não mudariam o filme, mas possibilitariam pagar  todos os envolvidos, o que é estímulo para que mais gente continue atuando no setor cinematográfico”, justifica.
O cinema de Belo Horizonte


Hoje e amanhã e de 16 a 18 deste mês, com sessões às 17h, às 19h e às 21h, com a presença dos realizadores e equipe
Local: Cine 104
Endereço: Praça Ruy Barbosa, 104, Centro
Informações: (31) 3222-6457 ou no site do Espaço Centro e Quatro


O que ver

dia 13/04

Às 17h – Não quero pregos nas minhas mãos, de Cris Ventura; às 19h – Ventos de Valls, de Pablo Lobato; 
às 21h – Semana Santa, 
de Leonardo Amaral 
e Samuel Marotta.

dia 14/04

Às 17h – Aterro, de Marcelo Reis; 
às 19h – Balança mas não cai, de Leonardo Barcelos; às 21h – Vertigem branca, de Breno Silveira, Dellani Lima e Simone Cortezão.

Dia 16

Às 17h – Nas minhas mãos eu quero pregos, de Cris Ventura; às 19h – Família, de Guilherme Reis; às 21h – Otto, de Cao Guimarães.

Dia 17

Às 17h – Roda, de Carla Maia e Raquel Junqueira; às 19h – Morada, de Joana de Oliveira; às 21h – Estado de sitio, direção coletiva.

Dia 18

Às 17h – Morada, de Joana Oliveira; 
às 19h – Roda, de Carla Maia e Raquel Junqueira; às 21h – Matéria de composição, de Pedro Asahan.






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