Preconceito e discriminação na grande mídia - Por Ciro Sanches Zibordi

A imprensa brasileira é evangelicofóbica?

No caput do art. 5º. da Constituição Federal está escrito que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Que coisa linda! No Brasil, ninguém pode ser discriminado, certo? O negro e o branco são iguais perante a lei. O gay e o não-gay não podem ser discriminados. O católico e o evangélico devem ser respeitados. E assim por diante. Certo? Mas, em que consiste a discriminação? O que é, de fato, discriminar? Discriminação e preconceito são a mesma coisa?

Segundo o Dicionário de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas, o que caracteriza o preconceito é o julgamento prévio de uma pessoa com base no estereótipo. O preconceito abarca 

“atitudes negativas, desfavoráveis, para com um grupo ou seus componentes individuais. É caracterizado por crenças estereotipadas, mas ninguém nasce com preconceitos; daí precisarmos estar muito atentos quando formos proferir julgamentos sobre uma pessoa, uma ideia ou sobre uma crença”.

E a discriminação, o que é? Ela está de mãos dadas com o preconceito, mas é mais grave e consiste em uma conduta imprópria, quer agindo, quer omitindo-se (ou omitindo informações), a qual resulta em violação dos direitos das pessoas. Pela Constituição Federal, a discriminação pode ser com base em raça, sexo, idade, estado civil, deficiência física ou mental, opção religiosa e outros. 

Ou seja, há discriminação contra mulheres, crianças, adolescentes, portadores de deficiência, idosos, religiosos, estrangeiros, pessoas que defendem certas convicções filosóficas e políticas, que trabalham em determinadas profissões, etc.

Citarei três exemplos para demonstrar como se praticam o preconceito e a discriminação na grande mídia. Há poucos dias, a cantora Daniela Mercury resolveu assumir a sua homossexualidade, o que é um direito que lhe assiste. Ela pode ser o que ela quiser, e eu não tenho nada a ver com isso. 

Certo? Mas veja o que aconteceu: a grande mídia dedicou grande espaço ao assunto, como se a cantora tivesse tomado a decisão mais importante e exemplar de sua vida. Outras questões ficaram em segundo plano nos principais portais de notícia. Durante vários dias, quem abria o jornal encontrava alguma menção à decisão da cantora, e nos principais sites houve destaque especial para o beijo entre Daniela e sua parceira na Parada Gay, em São Paulo.

Bem, imagina o que teria acontecido se Daniela Mercury tivesse se tornado uma evangélica! Será que o Fantástico se interessaria em divulgar isso com tanto destaque? Haveria o mesmo espaço na grande mídia para tratar do assunto? Eu me arrisco a dizer que não haveria destaque e, além disso, a partir do momento em que ela tornasse pública a decisão de ser evangélica, passaria a contar com a antipatia da grande mídia.

Os outros dois exemplos são a prisão do pastor Marcos Pereira, do Rio de Janeiro, e as marchas ocorridas recentemente no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília. Se Marcos Pereira é criminoso, que pague por isso. 

Mas o espaço que se deu a esse fato negativo ligado à fé evangélica foi desproporcional. Se é tão importante divulgar os crimes de um pastor, por que não é igualmente relevante dar ênfase ao trabalho social que as igrejas evangélicas realizam? Por outro lado, se um líder do ativismo gay fosse preso, recebendo as mesmas acusações do pastor, o assunto teria recebido tanto destaque. Desconfio que não.

Quanto às marchas, tivemos no Rio de Janeiro uma grande Marcha para Jesus. Centenas de milhares de evangélicos fizeram uma manifestação pela qual defenderam valores que consideram importantes. A grande mídia pouco divulgou isso. Já a Parada Gay, em São Paulo, que contou com um número menor de participantes, teve transmissão online. Na semana passada, houve, em dia de trabalho, uma grande concentração evangélica e católica em Brasília. 

Quem a divulgou? Não vi nada na grande mídia. Até Reinaldo Azevedo, jornalista da Veja, protestou contra essa forma de discriminação. E, para evidenciar mais isso ainda mais, a Marcha da Maconha, em São Paulo, com menos de dois mil presentes, recebeu maior destaque que todas as marchas evangélicas!

Uma imprensa que diz lutar contra o preconceito e a discriminação deve tratar a todos com igualdade e respeito. Por que ser gay ou defensor da maconha é mais relevante que ser evangélico? Onde está a neutralidade da imprensa? 

Se para muitos é relevante divulgar que Daniela Mercury agora é gay, que isso seja noticiado. Não há problema nisso. Por outro lado, se para muitos outros é relevante noticiar que um cantor agora é evangélico, que isso seja divulgado, também, e com o mesmo destaque. Ou será que a grande mídia, que fala tanto em homofobia, é evangelicofóbica?


Ciro Sanches Zibordi é pastor, escritor, articulista, palestrante em escolas bíblicas. Autor dos best-sellers “Erros que os pregadores devem evitar” e “Erros que os adoradores devem evitar” das obras, além de “Mais erros que os pregadores devem evitar”, “Evangelhos que Paulo jamais pregaria”, “Adolescentes S/A”, “Perguntas intrigantes que os jovens costumam fazer” e “Teologia Sistemática Pentecostal”. 

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