Israel acaba com isenção de serviço militar para ultraortodoxos – Por Guila Flint

Apesar dos protestos e da força política da comunidade ultraortodoxa em Israel, o Parlamento aprovou nesta quarta-feira uma lei que acaba com a isenção do serviço militar para jovens que estiverem cursando seminários rabínicos.

De acordo com a nova "lei do alistamento", a partir de 2017 os seminários rabínicos, frequentados exclusivamente por ultraortodoxos, deverão encaminhar uma cota de seus estudantes para o serviço militar. Até então, os ultraortodoxos eram isentados do serviço militar.

A lei é iniciativa do partido Yesh Atid, liderado pelo ministro das Finanças, Yair Lapid, e tem o objetivo de obrigar os ultraortodoxos a "arcar igualmente com a carga" que cabe aos cidadãos seculares de Israel. 

Ao alcançar a idade de 18 anos, judeus seculares de ambos os sexos têm a obrigação de servir ao Exército. Para os homens, o serviço militar é de três anos; para mulheres, de dois anos. Pela nova lei, apenas 1,8 mil dos cerca de 8 mil jovens estudiosos dos seminários que a cada ano completam 18 anos serão isentados do serviço militar. 

'Oração e clamor'

Faz algum tempo que a iniciativa vinha causando indignação e protestos entre a comunidade ultraortodoxaNo início do mês, cerca de 500 mil pessoas participaram de uma manifestação em Jerusalém contra a nova lei.

A chamada "Assembleia de oração e clamor" foi uma demonstração de força dos rabinos, que conseguiram, em apenas 4 dias, mobilizar cerca de metade do público ultraortodoxo para o protesto. Milhares de ônibus transportaram homens, mulheres e crianças, de todo o país para a manifestação, que paralisou Jerusalém durante um dia inteiro.

A cada ano, dezenas de milhares de estudantes ultraortodoxos são liberados do Exército, gerando ressentimento de muitos seculares que, além do serviço militar regular, ainda tem o dever de participar das forças da reserva militar até os 45 anos.

A questão do serviço militar é apenas uma das muitas questões que dividem seculares e ultraortodoxos. Muitos dos ortodoxos não trabalham, eles estudam a vida inteira nos seminários rabínicos e recebem subsídios do governo para sustentar suas famílias, que geralmente são bastante numerosas.

O fato de muitos ultraortodoxos não participarem do mercado de trabalho e, por isso, não pagarem impostos, gera ressentimento entre os israelenses seculares. Já para os líderes espirituais dos partidos ultraortodoxos, "os estudiosos da Torá (livro sagrado do judaísmo) são os verdadeiros guardiães do povo judeu".

"É inconcebível que justamente no Estado judaico, estudiosos da Torá sejam considerados infratores", afirmou o deputado Itzhak Cohen, do partido ultraortodoxo Shas. Em Israel não existe casamento civil, o Estado só reconhece os casamentos administrados por rabinos ortodoxos. Nessas circunstâncias, muitos seculares sentem sua liberdade de escolha cerceada.

O mesmo ocorre em relação aos enterros. O Estado não oferece aos cidadãos a possibilidade de um enterro civil. Famílias que não quiserem que seus entes queridos sejam enterrados segundo os rituais ortodoxos são obrigados a apelar e a pagar um preço alto, para fazer uso de cemitérios particulares.





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Negociar e acomodar identidade religiosa na esfera pública"

Pesquisa científica comprova os benefícios do Johrei

A fé que vem da África – Por Angélica Moura