Líderes religiosos unem-se contra escravatura

Representantes das religiões católica, anglicana e islâmica assinaram hoje no Vaticano um acordo para erradicar até 2020 a escravatura moderna, que se estima afetar 30 milhões em todo o mundo, anunciou hoje o promotor da iniciativa.

"Conseguimos um grande e complexo acordo que não tem precedentes no mundo. Não há nada como isto na história das relações entre cristianismo e islão. É um dia histórico", disse à Lusa o magnata australiano Andrew Forrest, fundador da Walk Free Foundation, que tem como missão acabar com a escravatura numa geração.

Com esse objetivo, o bispo Marcelo Sánchez Sorondo, em representação do papa Francisco; Mahmoud Azab, em nome imã de Al Azhar, a mais alta autoridade dos muçulmanos sunitas, e David John Moxon, representante do arcebispo da Cantuária na Santa Sé, assinaram hoje, com Andrew Forrest, um memorando de acordo que formaliza o arranque do projeto, intitulado Global Freedom Network (Rede Global de Liberdade).

Outros líderes religiosos são convidados a aderir e poderão ser adicionados como partes do acordo, explica a organização.

O memorando prevê 48 objetivos até 2019, nomeadamente que todas as religiões assegurem que as suas próprias cadeias de fornecimento e investimentos não integram a escravatura moderna, que o G20 adote uma iniciativa contra a escravatura ou que 50 das principais multinacionais se comprometam a assegurar que as suas cadeias de fornecimento não integrem a escravatura moderna.

A Global Freedom Network fez já "contactos preliminares com 162 governos em todo o mundo" e assumirá a responsabilidade de "trabalhar com os governos para conseguir, com eles e através deles, planos e estratégias explícitas que ponham fim definitivo à escravatura nas suas fronteiras", explicou ainda Forrest.

O empresário, um dos homens mais ricos da Austrália, que se interessou pela questão da escravatura moderna após a experiência da filha como voluntária no Nepal, acrescentou que a iniciativa será suportada por um fundo global para apoiar os países que não tenham os montantes necessários para combater eficazmente a escravatura.

O fundo, que deverá precisar de mais de mil milhões de dólares, segundo as primeiras estimativas, será lançado no Fórum Económico Mundial, em Davos, em 2015.

"É um valor alcançável, quando há tantas vantagens sociais e económicas de erradicar a escravatura dentro dos países", disse Forrest, sublinhando que "de cada vez que uma pessoa é libertada da escravatura há um aumento da atividade económica, sempre que uma comunidade é libertada, há um aumento dramático da atividade económica".

Até lá, o australiano manifestou-se "muito feliz por as religiões apelarem aos milhares de milhões de fiéis e aos milhões de congregações nas igrejas e mesquitas em todo o mundo" para combater a escravatura.

Segundo a Walk Free Foundation, a escravatura moderna afeta cerca de 30 milhões de pessoas em todo o mundo e envolve o tráfico humano, incluindo prostituição forçada, o trabalho forçado, o recrutamento de crianças soldado, a prostituição infantil e as piores formas de trabalho infantil, assim como o casamento forçado.

"A escravatura moderna e o tráfico humano continuam a aumentar. As vítimas estão escondidas: em locais de prostituição, em fábricas e em quintas, em embarcações de pesca e em estabelecimentos ilegais, em casas privadas a portas fechadas e em vários outros lugares nas cidades, aldeias e bairros de lata das nações mais ricas e mais pobres do mundo", pode ler-se na declaração conjunta hoje assinada no Vaticano.






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