Literatura fantástica mistura mitologia africana e muita ação - Por Bruno Sette

Uma história que junta entidades mitológicas e personagens fantásticos à ambientação contemporânea de uma cidade grande. 

Nada incomum ao mundo da literatura, não fossem essas entidades mitológicas os orixás, deuses africanos cujo culto foi trazido pelos negros escravizados e o cenário a cidade do Rio de Janeiro. 

Essa é a base da trilogia: "Deuses de Dois Mundos", criada pelo publicitário PJ Pereira, ganhador do Emmy em 2013 e o único brasileiro com quatro Grand Prix no festival de Cannes, que se aventurou na literatura fantástica após 12 anos de muita pesquisa na rica cultura afrobrasileira.

Para tecer a narrativa, as primeiras fontes do autor foram os próprios amigos, frequentadores de candomblés como o Gantois, na Bahia. "Minhas entrevistas sempre foram focadas nas lendas, nunca nos rituais e nos segredos da religião. Não queria nem saber de coisas que nao poderia escrever. Com base nessas conversas, fui procurar livros que contassem essas lendas e outras. Li muita coisa. Muita mesmo", conta PJ ao SRZD. "Chega uma hora que você fica tão fascinado pelo assunto que fica difícil parar".

A saga conta a história de dois mundos paralelos. Na Terra, o ambicioso jornalista New Fernandes se encontra em meio a um caso de sabotagem industrial e vê nisso uma oportunidade de subir na carreira. Enquanto isso, no Orun, onde vivem os orixás, os búzios do maior adivinho de todos os tempos, Orunmilá, se calam e interrompem a ação dos poderes do velho sábio. Enquanto New se envolve cada vez mais com colegas, chefes e até chefs (o protagonista é um apaixonado por gastronomia), enveredando uma trama guiada por um misterioso homem com quem conversa por e-mail, Orunmilá conta com a ajuda de Exu, Ogum, Oxóssi, Oxum e outros orixás para solucionar o enigma em torno dos búzios. Ambos os personagens, cada qual em seu universo, segue uma jornada que aos poucos revela como mundos tão distantes no espaço e no tempo podem se comunicar.

PJ conta que a ideia de criar uma história baseada na mitologia dos orixás partiu do seu próprio preconceito para com as religiões afrobrasileiras. "Fui criado no Rio, numa família de classe média, e cresci ouvindo para ficar longe de 'macumba' porque era coisa do mal. Um dia conheci um povo da Bahia que era ligado ao candomblé e fiquei espantado ao ver como poderiam pessoas tão boas estar envolvidas com uma religião tão ruim, e descobri que tinha aprendido tudo errado. Daí a começar a fazer perguntas e me apaixonar pelas lendas foi um pulo", confessa o autor.

A trilogia, cuja primeira parte, "O Livro do Silêncio", foi lançada em novembro de 2013, foi sucesso antes e após o início das vendas. Aproveitando-se de seus talentos na área publicitária, PJ usou o Facebook para fomentar a curiosidade dos seguidores, que logo se tornariam seus fãs. 

"Quando não estou escrevendo, eu sou publicitário, é assim que eu ganho meu dinheiro para poder me dar ao luxo de mergulhar num projeto longo e ousado como esse", diz. "Eu sabia que se havia uma coisa que eu conseguiria fazer bem feito era a campanha de lançamento (risos)". E o autor não podia estar mais certo. A página oficial da trilogia no Facebook já conta com mais de 38 mil seguidores.

O autor, que vive com a família na Califórnia, nos EUA, tem projetos mais ambiciosos, que vão além do sucesso no Brasil: transformar "Deuses de Dois Mundos" em filme. 

"Os direitos estão vendidos, o filme vai rolar. Estamos vendo os detalhes agora, mas ainda demora alguns anos para ficar pronto. Mas para quem esperou 12 anos para ter a história publicada, uns anos a mais não incomodam muito".

Tornar os livros um sucesso internacional também faz parte dos planos de PJ. "As editoras dos EUA só publicam livros de autores estrangeiros depois que eles vendem muito e publicam vários livros. O 'Deuses de Dois Mundos' está indo super bem, mas precisamos crescer um pouco e completar a trilogia para poder começar as conversas internacionais", conta.

Enquanto aguardam o lançamento da segunda parte da trilogia, "O Livro da Traição", que já está em fase de revisão ortográfica e com planos de lançamento para antes da Copa, os fãs podem enviar fotos com o livro para o autor incluir na terceira impressão de "O Livro do Silêncio". 

Para mais informações, acesse a página oficial no Facebook.





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Negociar e acomodar identidade religiosa na esfera pública"

Pesquisa científica comprova os benefícios do Johrei

A fé que vem da África – Por Angélica Moura