Kátia Abreu: "Marina fez da questão ambiental uma religião" – Por José Fucs

A líder do agronegócio diz que a candidata do PSB sempre tratou o setor com agressividade e elogia a presidente Dilma: “Criei uma interlocução com ela”. 

A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) é uma das principais porta-vozes do agronegócio. Sua atuação no Congresso em defesa do novo Código Florestal, aprovado em 2012, e contra a criação de áreas de preservação sem dotação orçamentária a aproximou da presidente Dilma Rousseff e despertou contra ela a ira dos ambientalistas. 

Segundo Kátia, a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva, indicada como candidata a presidente pelo PSB na semana passada, sempre tratou o agronegócio com antipatia e terá dificuldades para manter o apoio conquistado pelo ex-governador pernambucano Eduardo Campos no setor. “Infelizmente, perdemos Eduardo, e agora Marina é candidata”, diz Kátia.

ÉPOCA – O agronegócio nunca teve boas relações com a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva e vice-versa. Como a senhora vê a confirmação da candidatura de Marina à Presidência?

Kátia Abreu – Essa desconfiança e essa rejeição do agronegócio em relação a Marina foi ela mesma quem criou. Ao longo de sua vida, ela sempre teve um ativismo ambiental muito forte e uma forte antipatia pelo setor. Ela cultivou essa animosidade de forma proposital, nos tratando com agressividade. Sempre digo que quem planta soja colhe soja; não colhe milho, não. Essa postura que ela teve no passado vai prejudicá-la muito agora, com essa parcela do eleitor.

ÉPOCA – Como essa antipatia de Marina se manifesta?

Kátia – O melhor exemplo que podemos dar foi a mudança do Código Florestal brasileiro, em 2012. Ela simplesmente se recusou a dialogar com o setor. Fincou o pé contra todas as modificações. Numa democracia, a gente tem de ser aberto ao diálogo, principalmente quem pretende governar um país. Os produtores rurais procuraram abrir o coração para sair do radicalismo, mas não havia disposição para conversar. O comportamento da ex-senadora Marina Silva, criticando os produtores rurais, sempre prejudicou nossa imagem nos centros urbanos e também no exterior. Gerou uma imagem nossa de destruidores de meio ambiente e trouxe prejuízos inestimáveis ao país. Durante o período em que ela ficou à frente do ministério (2003-2008), houve uma imobilidade total na área ambiental.

ÉPOCA – Quais são as críticas do setor em relação à Marina?

Kátia –  A maior crítica que o agronegócio tem em relação a ela é pelo seu radicalismo. Ela fez da questão ambiental um dogma, uma religião. Esse é o principal motivo. Ela se recusa a dialogar e a abrir sua mente para outras situações que a sociedade demanda. O Código Florestal não ficou perfeito, mas foi possível, porque, numa democracia, todos temos de ceder para a sociedade poder avançar. Ninguém tem absoluta razão sobre nada. Mas ela não quis entender isso. Começou a dizer que o novo código é um retrocesso – e repete isso sem explicar o que quer dizer, sem apontar o artigo, o inciso, o parágrafo que a incomoda, para a gente ver o que pode ser feito. Alguém com o peso dela na área ambiental dizer que o código é um retrocesso beira a irresponsabilidade, porque não é verdadeiro.

ÉPOCA – Uma semana antes de o ex-governador Eduardo Campos morrer, ele esteve com Marina na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), em Brasília, para debater suas propostas para o setor, e foi bem recebido. A senhora acredita que Marina manterá esses compromissos?

Kátia  –  Infelizmente, perdemos Eduardo, e agora Marina é a candidata. Queremos saber e ouvir suas propostas e fazer uma análise. Agora, ela terá uma segunda chance de explicar melhor o que considera uma agricultura sustentável. Em 2010, quando ela foi candidata pela primeira vez, não conseguiu explicar isso. Apesar da importância do agronegócio, responsável por 25% do Produto Interno Bruto (PIB), 36% do emprego e US$ 100 bilhões de exportações por ano, não tivemos nenhuma sinalização clara do que Marina pensa a respeito do setor. 

ÉPOCA – O deputado Beto Albuquerque (PSB–RS), candidato a vice de Marina, tem um trânsito com os produtores rurais. Será que ele poderá tentar uma aproximação de Marina com o setor e reduzir as restrições?

Kátia – Essa é outra pergunta a que não posso responder. Conheço Beto pessoalmente, é uma pessoa do diálogo, mas não sei qual será a estratégia que eles usarão.

ÉPOCA – É possível conciliar desenvolvimento com sustentabilidade?

Kátia – Já fazemos no Brasil a agricultura sustentável de forma inconsciente há alguns anos, graças à pesquisa e à inovação. Se produzíssemos o que produzimos hoje, com a tecnologia de 30 anos atrás, precisaríamos do dobro de área desmatada. Fizemos uma poupança ecológica. A área privada não se expandiu na mesma proporção do avanço da produtividade no campo. Isso é muito valioso. Temos hoje a produção de alimentos em 27% do território nacional e preservamos 61% do território – incluindo reservas indígenas que não podem ser desmatadas, unidades de conservação criadas ao longo dos anos, terras devolutas do Incra e também a reserva legal, dentro de nossas propriedades. Os outros 12%, segundo o IBGE, são cidades e obras de infraestrutura (estradas, rodovias, hidrelétricas). Qual país do mundo acumulou esse percentual? Nenhum. Rússia e Canadá têm um número maior em termos proporcionais, mas são países cobertos por gelo. Quem abriu mão de terra agricultável foi o Brasil. "Há um potencial enorme para ampliar a exportação de carne bovina para a China"

ÉPOCA – A senhora critica o ambientalismo de Marina, mas apoia a campanha da presidente Dilma à reeleição. Qual sua visão sobre as invasões de propriedades rurais, patrocinadas pelo Movimento dos Sem Terra (MST) e outros apoiados pelo PT?

Kátia – Sempre fui e continuo sendo radicalmente contra as invasões de terra, contra qualquer ação que puser em risco o direito de propriedade e a segurança jurídica. Também devo dizer que invasões de terra acontecem há décadas, não só no governo do PT. Outro ponto importante é que não apoio diretamente o PT, apoio a presidente Dilma. Porque criei uma interlocução do setor com ela e aprendi a conviver com seu pragmatismo. Dilma fez com que a reforma agrária tivesse outra visão, um fortalecimento dos assentamentos, em detrimento da ampliação desbragada de assentamentos. É por isso que  você vê toda hora líderes do MST criticando a presidente Dilma. Temos também um acordo com o Instituto Chico Mendes e com o Ministério do Meio Ambiente, para não criar unidades de conservação sem dotação orçamentária. Em relação à expansão de terra indígena, desde abril de 2013 não são publicadas novas portarias de ampliação. O que me faz apoiar a presidente Dilma é a resposta que ela deu à agropecuária. Agora, a questão do PT com os produtores do Brasil é histórica. Essa rejeição, as ideias e os movimentos sociais de invasão de terras foram sempre apoiados pelo PT, mas nunca senti que a presidente Dilma apoia da mesma forma.

ÉPOCA – A indústria de açúcar e de álcool representa uma fatia importante do agronegócio brasileiro e foi praticamente sucateada nos últimos anos. Qual sua visão sobre essa questão?

Kátia – Realmente, no setor de açúcar e álcool não houve uma política adequada. A questão dos acordos comerciais também precisa evoluir. Precisamos ampliar os acordos comerciais, mas o Mercosul tem nos prejudicado. Nos três anos de governo Dilma, tivemos a votação do Código Florestal, da MP dos Portos, e isso consumiu muito tempo. Não tem nada perfeito no governo. Não defendo a perfeição, mas houve avanços.

ÉPOCA – A senhora tem viajado bastante nos últimos anos. O que tem conseguido para o agronegócio brasileiro lá fora?

Kátia – Esse é um trabalho que tem me encantado muito. A gente passou muito tempo preocupado com o mercado interno, porque ele era suficiente para nós. Se você olhar seis ou sete anos atrás, só 20% do que produzíamos era exportado, concentrado muito em soja e carne. Hoje, são 34%. Estamos com um projeto de marketing, com o Rei Pelé, para mudar a imagem do agronegócio brasileiro. Fiz palestras em todas as universidades e veículos importantes na Europa e nos Estados Unidos.

ÉPOCA – No caso da China, que hoje compra mais produtos agropecuários do Brasil que a Europa, o que foi feito?

Kátia – Fui cinco vezes à China em um ano e oito meses, tentando entender a China para poder abrir mercado para o Brasil. Há um potencial enorme para a gente aumentar a exportação de carne bovina. Eles compram quase tudo da Austrália, que é muito perto deles. Temos de entrar com a vantagem competitiva de custo de produção e de qualidade superior. Queremos instalar churrascarias na China, e estamos negociando com a rede Rubaiyat, para chamar a atenção para a carne brasileira por meio dessa vitrine. Trabalhamos duro para aproveitar esse mercado asiático, um dos maiores do mundo hoje.






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