“Natal é quando eu coloco o outro antes de mim”, diz arcebispo – Por Lislaine dos Anjos

Para dom Milton dos Santos, a busca pelo ter e pelo poder tem “sufocado” a fé da população.

Conhecida tradicionalmente como a época de semear amor, solidariedade e renovar a fé e os laços familiares, o Natal tem perdido seu verdadeiro significado por conta do consumismo e da falta do exercício da fé, segundo o arcebispo de Cuiabá, dom Milton Antônio dos Santos, 69.

Em Cuiabá desde 2003, dom Milton destaca que a busca por “sempre ter mais” tem feito com que o homem se afaste cada vez mais de Deus, em troca da satisfação de suas necessidades materiais, perdendo, com isso, a sensibilidade necessária para o exercício da fé.

“O comércio desvirtua. Pode haver presentes, mas há de se tomar cuidado para que isso não se torne uma armadilha para nós mesmos. Porque, a partir do momento em que entra a matéria na equação, nós retraímos a nossa dimensão espiritual. Quem mais possui as coisas na materialidade é quem se desapega da espiritualidade”, avaliou.

Em entrevista ao MidiaNews, dom Milton, que completa 40 anos como padre na segunda-feira (22/12) e está como bispo há 14 anos, fala sobre a importância do Natal e da reflexão no final de ano, os efeitos da religião “em baixa” no mundo, os riscos da falta de fé e a necessidade da quebra de barreiras entre as diversas religiões, o que, segundo ele, enfraquece a fé de uma forma geral.

"Há de se parar de pensar: “eu sou católico, eu sou evangélico, eu sou isso, eu sou aquilo”. [...] Esse é um tipo de competição que empobrece a todos"

“O que eu vejo é que nós precisamos estar agora em uma formação permanente, nos ajudarmos e valorizarmos as nossas diferenças, as diversas denominações religiosas. Porque algo único nos une, que é o mesmo Criador”, afirmou.

“Há de se parar de pensar: “eu sou católico, eu sou evangélico, eu sou isso, eu sou aquilo”. [...] Esse é um tipo de competição que empobrece a todos”, completou.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista concedida pelo arcebispo de Cuiabá, dom Milton dos Santos, ao MidiaNews:

MidiaNews - Hoje há um conceito difundido de que festa de fim de ano, Natal incluso, é sinônimo de consumo, exatamente por vivermos no mundo que o senhor descreveu acima. Com isso, a questão da religiosidade acaba ficando em segundo plano?

Dom Milton dos Santos – Sim. É um perigo que nós montamos para nós mesmos, por vivermos do lado de cá, no ocidente, no capitalismo, onde sempre se procura ter mais. Nesses questionamentos sobre presentes, perde-se o significado do Natal. O comércio desvirtua. Pode haver presentes, mas há de se tomar cuidado para que isso não se torne uma armadilha para nós mesmos. Porque, a partir do momento em que entra a matéria na equação, nós retraímos a nossa dimensão espiritual. Quem mais possui as coisas na materialidade é quem se desapega da espiritualidade. É aí que as pessoas olham e falam: “Nossa, é Natal de novo”. Mas, não é Natal de novo. Esse Natal não é xerox do Natal de 2013. Por quê? Porque os acontecimentos na minha vida, na sua vida, neste mês de dezembro, não são os mesmos do ano passado. Não é Natal de novo. É o momento de prestarmos atenção se não estamos dando valor em demasia ao que é material, a uma roupa ou a um sapato. São coisas pequenas, mas que é difícil da gente se desapegar. Às vezes, é necessário que façamos treinamentos exteriores para ficarmos mais ágeis interiormente. 

"O comércio desvirtua. Pode haver presentes, mas há de se tomar cuidado para que isso não se torne uma armadilha para nós mesmos"

MidiaNews – Então, em sua visão, quais são os verdadeiros valores do Natal?

Dom Milton - Estamos vivendo nesse momento tantas confraternizações em casa e nas firmas, troca de presentes, e isso tudo é um sinal muito lindo que significa: vamos deixar para trás as dificuldades e as diferenças. Esse é o verdadeiro espírito do Natal e que precisa acontecer agora. Quer um exemplo de mundo disso? Os representantes dos Estados Unidos e Cuba passaram 45 minutos conversando. Eles estão tirando as barreiras de 50 anos. Agora, quem proporcionou isso? Papa Francisco. Que interesse tem o Papa? Algum interesse econômico ou político? Nenhum. É apenas alguém que é evangelizador e faz essas viagens, não com fins políticos para concorrer ninguém e nem para passear, mas sim para levar a semente da fé, da esperança e do amor, que são as três virtudes que eu te falei. E uma necessita da outra. Isso é o tempo do Natal. Natal é o nascimento de uma criança: Deus. Maria Santíssima já fez o seu papel, a mais de dois mil anos atrás. Hoje sou eu, Milton, e cada um de nós que deve dizer: “Deus, pode contar comigo”. Esse é o momento forte pra gente acentuar isso. Mas, como diz uma música do Padre Zezinho, “que bom seria se o Natal não fosse um dia, mas todo dia fosse Natal”. Porque Natal é quando eu coloco o outro antes de mim. Isso é Natal. É um sorriso, um aperto de mão, é tirar esses bloqueios de desconfiança. Precisamos prestar atenção nos acontecimentos pessoais, nas qualidades, dificuldades e limitações que temos. Porque a vida vai afunilando cada vez mais, e quanto mais a mente se eleva, sobe, o físico vai decrescendo. Essa distância que vai aumentando cada vez mais entre a mente e o físico é o que a psicologia chama de frustração existencial. Hoje, aos 69 anos, eu não consigo fazer o que eu fazia aos 40 anos. Mas a mente sobe cada vez mais. Nós precisamos saber acolher isso, se não entramos em depressão. É nesse momento que nós precisamos nos auxiliarmos, uns nos outros, para que as pessoas prestem mais atenção na sua vida. E para prestar mais atenção na própria vida, deve-se prestar atenção na vida do outro. E isso é colocar em prática o maior mandamento de Deus, que é “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”. Então, só é verdadeiro meu amor para com Deus se ele passar pelo outro. Deus o condicionou a isso. Se eu falar para Deus “eu O amo, mas uma pessoa só eu tirei da minha vida, desta casa que eu sou, porque estou com ódio dela”, Deus está fazendo companhia para essa pessoa que eu deixei fora da minha casa. Na hora que eu acolho essa pessoa de volta para a minha vida, meu amor é pleno, porque estou exercitando o perdão. 

MidiaNews – Como o senhor mesmo disse, fim de ano é sempre uma época de muita reflexão, de reencontros familiares, de solidariedade. Em sua opinião, é o melhor momento para se fazer um balanço do ano que se encerra?

Dom Milton – É preciso fazer um balanço todo o final de ano. É natural. Normalmente, nesse momento de final de ano, é o momento em que as pessoas, aquelas que podem, claro, tiram um mês ou alguns dias de férias. Para o comércio, depois do dia 20 de dezembro e até o dia 5 de janeiro, é um tempo “morto”. Porque é quando as pessoas viajam para se encontrar com amigos e familiares, momentos muito humanos e importantes, porque vivemos situações por filantropia, que é a amizade pela amizade. Quando entra a dimensão espiritual, é a época em que praticamos o amor, porque Deus é isso. A gente diz que as primeiras e as últimas impressões são as que ficam. Por isso, é muito importante, nesse final de 2014, nesse balanço, a gente terminar o ano em paz, principalmente consigo mesmo. Porque uma pessoa que trata mal o próprio corpo, que leva problemas para o próprio físico como o fumo, a bebida alcoólica, as drogas e a diversão em excesso, ou seja, não cuida do próprio físico, não terá condições de se relacionar bem com o outro. Olha o número de crianças estressadas que temos atualmente, que é reflexo disso.

MidiaNews - O Natal é visto pela Igreja como um momento de preparação para o novo ano que se aproxima?

Dom Milton – O primeiro dia do ano para a Igreja Católica é o primeiro domingo do advento, ou seja, o primeiro dia de preparação para o Natal. Não bate com o ano cronológico da sociedade civil. Não é o dia 1º de janeiro, mas sim o último domingo de novembro.

MidiaNews – Como o senhor avalia o sentimento de religiosidade do povo atualmente, principalmente dos cuiabanos?

Dom Milton – Eu era bispo em Corumbá (MS), onde fiquei dois anos e oito meses. E um professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que mora lá, me disse: “quando o senhor for transferido para a Cuiabá, o senhor vai se enamorar, porque apesar de ser uma Capital, ela conserva uma religiosidade que eu não consegui ver em outro lugar”. Mas, vendo pelas raízes de Cuiabá, quando o primeiro grupo de portugueses chegou aqui com uma imagem do Senhor Bom Jesus, não tinha como ser diferente. Recebemos como nosso primeiro nome “Arraial do Senhor Bom Jesus”. Então, temos as raízes religiosas muito fortes. Desde aquela época, temos a catedral antiga, que foi destruída; logo abaixo, a Igreja Senhor dos Passos. Logo acima, a poucos metros, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Tudo isso porque, lá no início, entre os senhores que tinham dinheiro, que detinham o ouro, a moda era construir uma igreja em sua quadra. Nós temos aqui, bem no Centro, ainda a Igreja da Boa Morte. Anos atrás, tudo girava em torno do catolicismo. Hoje, o mundo já não gira é em torno da religiosidade. Vivemos em um mundo contrastante, onde, muitas vezes, os moradores de um prédio não se conhecem. Vivem tão próximos, e ao mesmo tempo, tão longe um dos outros. E esse é o trabalho da evangelização, de criarmos um ambiente muito humano, em parceria com as famílias, com as escolas. Mas a evangelização é uma aventura para mim. É a maior honra, para mim, Deus ter permitido que eu nascesse nesse momento.

MidiaNews – O crescimento de outros templos, de outras igrejas, como as neopentecostais, é algo que preocupa a Igreja Católica?

Dom Milton – Olha, onde entra Deus, nada é mal. Isso depende do íntimo de cada um. O apóstolo São Paulo, quando chegou em Atenas, na Grécia, viu vários altares no Olímpio, para Plutão, Netuno, enfim. E olha o respeito dos gregos naquela época. No local, havia um altar escrito assim: “Ao Deus desconhecido”. Naquela época, eles já pensavam que eles tinham todos aqueles deuses deles, mas que deveria haver algum que eles não conheciam. Por isso fizeram esse altar. Quando o apóstolo São Paulo chegou, ele não abominou os altares dos deuses que existiam lá. Ele disse: “Gente, eu vim aqui para falar sobre o Deus desconhecido”. E todo mundo ouviu, porque ele não desprezou os demais, ele não injuriou. Ele não disse: “ah, esses outros são uma palhaçada”. Ele não fez assim. A gente vê essas viagens que os papas fazem pelo mundo, que começou com Paulo VI, continuou com João Paulo I, que ficou um mês como papa, João Paulo II, Bento XVI, e o Papa Francisco, que é o primeiro latino-americano e que tem esse nosso jeito, de ser sorridente, afetivo. E esse jeito dele é uma novidade na Europa, que sempre esteve acostumada com os papas italianos, alemães, etc., um pessoal que é mais categórico. O que eu vejo é que nós precisamos estar agora em uma formação permanente, nos ajudarmos e valorizarmos as nossas diferenças, as diversas denominações religiosas. 

"Não existe um nome para Deus. [...] Nós procuramos usar palavras, mas as nossas palavras são pequenas para dizer tudo aquilo que é Deus".

Porque algo único nos une, que é o mesmo Criador. Há de se parar de pensar: “eu sou católico, eu sou evangélico, eu sou isso, eu sou aquilo”. E há esses momentos assim. O Papa João Paulo II fazia um momento comum de oração com as diversas religiões. Papa Francisco agora tenta a aproximação entre as religiões. A história é uma coisa e o passado pesa, mas hoje, nós podemos começar um caminho novo. Não existe um nome para Deus. Quando o povo de Deus estava escravo no Egito e Moisés estava no Monte Sinai, eles viram um arbusto pegando fogo. Moisés se aproximou e viu que as folhas não se consumiam. Ele se aproximou e ouviu uma voz: “Tire suas sandálias, porque essa terra é santa”. Ele tirou as sandálias e a voz continuou: “Moisés, volte para o Egito”. Moisés respondeu: “Mas, quando eu chegar lá, o Faraó irá perguntar quem foi que me mandou. Diga-me seu nome”. E a voz respondeu: “Eu sou o que sou, o que sempre existiu e o que sempre existirá”. Por isso que na Bíblia, nos escritos mais antigos, quando era para falar desse ser supremo, o escritor deixava o espaço em branco. Quando Moisés chegou no Egito, disse ao Faraó: “Quem me mandou é Aquele Que É”. Em hebraico, Ialoé, Javé, Jeová, Eloí, Deus, Alá, Arquiteto do Universo. Nós procuramos usar palavras, mas as nossas palavras são pequenas para dizer tudo aquilo que é Deus.

MidiaNews – Então, para o senhor, essa pluralidade de religiões deve ser vista como bons olhos, e não da forma como se diz, de que a Igreja Católica está perdendo fieis para outras religiões, por exemplo?

Dom Milton – Esse é um tipo de competição que empobrece a todos. Temos que ver o que nos une e não o que nos separa. O que nós temos é que pedir a Deus todos os dias para reforçar esses dons da fé, da esperança, do amor. Mas precisamos, também, os elementos de manter esses presentes que nos são dados. É como um casamento. Cada um em um casal precisa renovar certos elementos diariamente, para que não estejam apenas juntos fisicamente e distantes uns dos outros. Quando um adere ao outro, você deve renunciar a si mesmo para ter o outro. 
"A questão da fé não é mensurável aos olhos humanos".

MidiaNews – Baseando-se pela fé atualmente, a frequência das pessoas na Igreja e até mesmo a postura, pode-se afirmar que a procura pela religião está em baixa? Como o senhor avalia o comportamento da sociedade em relação à fé?

Dom Milton – A questão da fé não é mensurável aos olhos humanos. Deus nos deu três virtudes, que devem ser exercitadas. São três presentes que Deus nos dá: a fé, o amor e a esperança. Mas tratam-se de acontecimentos sobrenaturais interiores e, uma pessoa bloqueada interiormente, não os percebe. É preciso fazer o exercício. Hoje em dia, essa questão de uma sensibilidade interior para perceber a existência de esse Ser Supremo, que tem um nome a escolha de cada um, se perde quando a pessoa humana não olha para dentro de si mesma. Hoje, por causa de tanta tecnologia que nós temos, com um iPhone na mão, cada pessoa se sente poderosa. Então, há um risco que se corre de a gente perder essa sensibilidade interior, principalmente nos grandes centros, onde as comodidades crescem muito.

MidiaNews – O senhor vê uma diferença entre a postura dos fieis de 20 anos atrás, por exemplo, e os de agora? Ou daqueles que vivem em regiões diferentes, nos grandes centros e em locais mais afastados?

Dom Milton – O capitalismo, o consumismo, tudo serve para satisfazer as necessidades materiais do nosso corpo e aí abafa a sensibilidade interior. Eu moro aqui [em Cuiabá], mas eu faço atendimentos nos assentamentos. Ora, a atitude das pessoas lá nos assentamentos, nas fazendas é diferente, com uma sensibilidade que falta aqui na cidade.

MidiaNews – Então, para o senhor não podemos afirmar que a fé está “em baixa”, mas que essa sensibilidade para senti-la está se perdendo?

Dom Milton – Exatamente. O consumismo, o progresso e tantas facilidades que hoje nós temos, vai tornando cada pessoa se sentir “toda poderosa”. Ela crê que ela não necessita de Deus. Aí é o momento em que a gente precisa prestar atenção. A fé é um presente de Deus. É uma coisa interior que dá força para a gente enfrentar as dificuldades do dia a dia. A pessoa que se cerca de tantas coisas materiais, terá uma dificuldade maior de dizer: “Eu preciso de Deus”. E isso porque ela acha que já tem tudo. Mas a pessoa pode ter o dinheiro que for, isso não compra tudo. De repente, ela vai ver que necessita de Deus quando passar por um susto, com em um acidente, quando alguém diz que “nasceu de novo”.

MidiaNews – Para o senhor, esse mundo de consumismo em que vivemos é o que torna o homem mais distante de Deus?

Dom Milton – Exatamente. É um mundo maravilhoso, mas ele pode tanto aproximar quanto distanciar o homem de Deus. Tudo mudou muito. Hoje, os próprios cientistas falam, que a Ciência precisa da fé. E a fé precisa da Ciência. Há alguns tempos atrás, isso era totalmente contraditório.

MidiaNews – Se a fé precisa ser exercitada, como o senhor diz, trata-se de algo que deve ser ensinado às pessoas desde crianças?

Dom Milton – Alguns sociólogos dizem que religião é uma coisa imposta de fora, por educação. Mas fizeram uma experiência com um casal que teve filhos e que nunca falou de Deus. A família foi acompanhada por sociólogos e, quando uma das crianças já estava mais velha, aconteceu uma coisa. Ela estava admirando o céu estrelado uma noite e, então, afirmou: “Assim como eu existo e nasci dos meus pais, eles também nasceram de seus pais. Estou olhando para a maravilha dessas estrelas e estou me perguntando: quem fez essas estrelas? Quero conhecer quem fez, porque alguém as colocou ali”. A criança estava se colocando em uma adoração perante o fenômeno da natureza. São Paulo já fala em carta aos Romanos: 

"Existe uma espiritualidade do mal. Mal é um dos nomes do demônio. Não dá pra ficar em cima do muro. Você deve escolher ou uma estrada ou outra".

“Quem fala que Deus não existe, observe a natureza”. Santo Agostinho, por sua vez, dizia: “Se você quer adorar a Deus, entre dentro de si mesmo”. Uma vez recebi um professor aposentado da UFMT que disse para mim: “Bispo, eu sou ateu”. Eu falei para ele: “Eu não gostaria de estar na sua pele. É uma aventura muito forte. Assim como eu afirmar que Deus existe também é uma aventura. Professor, se o senhor olhar atentamente no espelho, não irá enxergar, mas uma pupila dos seus olhos tem mais de dois bilhões de lentes, para cada milésimo de distância. Então, esse sistema que é a vista, existe por acaso? O sistema auditivo, respiratório, sanguíneo, neurológico, ósseo. Olhe quantos sistemas o corpo tem, todos conjugados por um supercomputador que é a mente. Tudo isso surgiu ao acaso?”.

MidiaNews – Atualmente, são muitos os casos que surgem no mundo de violência, pedofilia, infanticídio, homicídios em geral, guerras, etc. Algumas religiões associam tais atos com a ação de um poder/espírito maligno ou ao “fim do mundo”. A Igreja Católica também vê essas ocorrências dessa forma? 

Dom Milton – Existe uma espiritualidade positiva e uma espiritualidade negativa, porque Lúcifer é um espírito. Então, existe uma espiritualidade do mal. Mal é um dos nomes do demônio. Não dá pra ficar em cima do muro. Você deve escolher ou uma estrada ou outra. E a falta de fé leva a degradação dos valores morais e da vida. Não estamos vivendo uma época de mudanças. É muito mais sério que isso. Estamos passando por uma mudança de época no mundo. Antes, essas mudanças levavam 50 anos. Mas isso foi encurtando e agora, nessa mudança de época atual, os valores, cada um decide quais são. Não existem mais valores do Estado ou de religião, seja ela qual for. Sendo assim, nesses grandes centros, é preciso prestar atenção nas pessoas, começando de dentro da nossa própria casa, que é o ambiente mais difícil. Por isso é importante rezarmos o “Pai Nosso”, porque pedimos exatamente isso. Que não nos deixe cair em tentação, porque elas irão sempre aparecer e é o momento de provar que O ama e que crê, mas livrai-nos do Mal, ou seja, que Deus não deixe que o Demônio coloque as garras sobre mim. 

MidiaNews – O senhor gostaria de deixar uma mensagem de Natal aos leitores?

Dom Milton – Sim. Que nesses dias a gente diga em oração sempre, como as batidas do coração, “vem Senhor Jesus, vem”. Santo Agostinho já dizia assim: “seu desejo é a sua oração”. Se você deseja pouco, reza pouco. Se você deseja muito, você reza muito. Hoje vivemos em uma era virtual. Que isso não nos afaste uns dos outros, mas crie comunhão. É o fenômeno do hoje de estarmos tão juntos e tão distantes. O Natal serve exatamente para romper isso, para que estejamos próximos uns dos outros fisicamente, psicologicamente e espiritualmente. Quando você desejar Feliz Natal para alguém, pense em seu íntimo: “Que Deus nasça em você, em mim e que nós sejamos fraternos o ano inteiro”. Que isso possa contagiar a todos no mundo e, para isso, precisamos começar com quem está mais próximo da gente.



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