"Loucura!" – Por Antonio Carlos Siufi Hindo



O atentado que roubou a vida de doze jornalistas da revista Charlie Hebdo, que fazia charges de humor nos campos políticos, culturais, econômicos e religiosos, na cidade de Paris, mostrou a face mais nojenta do ser humano. 

Não existe motivo que possa justificar tão horrenda ação. A humanidade já marcha celeremente para alcançar o primeiro quartel de um novo século, de um novo milênio, e ainda há os que se utilizam da religião para continuar mergulhando a humanidade em um banho de sangue. 

É algo estarrecedor, máxime, quando se tem notícias que os seus autores, os fundamentalistas islâmicos, não possuem motivos para tanto. 

O Oriente Médio foi o berço da civilização. Naquele sítio geográfico do nosso planeta, o homem arou por primeiro a terra e cultivou os alimentos; ergueu o primeiro templo religioso e aprendeu a rezar e a perdoar; instituiu a família e resgatou a dignidade da mulher; edificou, o primeiro código de leis, o Código de Hamurabi, para estabelecer com a humanidade uma relação de respeito entre seus membros, instituindo de uma forma clara, concisa e bastante objetiva o direito de cada qual e os seus deveres no curso da convivência social. 

Naquele espaço geográfico, o mundo assistiu ainda ao surgimento das três maiores religiões monoteístas do mundo, o Judaísmo com Moisés, o Cristianismo com o Cristo e o Islamismo com Maomé. 

Como se observa, essas conquistas todas já seriam mais do que suficientes para tornar aquelas e aquelas nações em luminares, para que a caminhada do ser humano durante a sua peregrinação terrena fosse mais suave, doce, alegre e feliz, tal e qual vaticinou o Criador. 

Entretanto, não é isso que o mundo protagoniza estarrecido ao longo dos séculos. As lutas religiosas, a ignorância e a insensatez de uns poucos transformaram os princípios que dão sustentação àquelas mais importantes religiões do mundo em práticas de ações, que marcham em direção diametralmente opostas àquelas consagradas em seus textos.

Aqui mesmo, em nosso País, assistimos estarrecidos, em época bastante recente, a um líder religioso chutar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, em um evidente desrespeito à maioria do povo brasileiro que professa a religião católica. O fato só não teve consequências mais graves em razão da pronta intervenção do governo federal, na época dos fatos.

Trata-se, apenas, de um dos episódios que entristece e cobre de vergonha o ser humano, que abraça sua religião e se encharca da fé, o qual é o alimento indispensável para conhecer melhor os seus fundamentos doutrinários, para estabelecer com todos os seus semelhantes uma relação respeitosa. 

Nenhuma religião prega esse tipo de maldade. O Deus de cada um está no coração do ser humano.

Ele independe de qualquer pacto estabelecido entre o Criador com as instituições religiosas. A salvação do homem está circunscrito às suas ações e aos atos que pratica. Ninguém salva ninguém. Incorre, em ledo engano, quem acredita que essa assertiva não resulta inquestionável. 


Daí, o episódio lamentável a que o mundo inteiro assistiu, na cidade de Paris, justamente de onde saíram os pilares do mundo democrático contemporâneo, que mostraram para o mundo os princípios dogmáticos da liberdade, da igualdade e da fraternidade, que precisam continuar sendo a bússola mais importante para se coibir esses abusos religiosos e outros tantos que poderão, eventualmente, surgir em outros campos de ação, em que figura o homem como seu principal protagonista.




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