Gênio do jazz é tratado como santo e álbum clássico vira bíblia - Por Leiliane Roberta Lopes



O disco gravado há 50 anos por John Coltrane inspira uma igreja que leva o nome do saxofonista.

Você já ouviu falar no músico John Coltrane? O saxofonista americano morto em 1967 vítima de um câncer de pulmão é reverenciado como um santo na Igreja Africana Ortodoxa de São John William Coltrane, em San Francisco (Estados Unidos).

A igreja, que segue uma religião africana, tem o álbum: “A Love Supreme” [“Um Amor Supremo”, em português] como uma bíblia, onde o músico aparece como um santo, sentando em um trono com seu instrumento de um lado e com uma folha escrita do outro. A igreja que venera o saxofonista foi fundada dois anos após a sua morte. Adoradores de Coltrane se reuniram como comunidade religiosa até que em 1982 foram incorporados à religião africana que resolveu canonizar o músico.

São Coltrane é tido como “padroeiro dos artistas” e as canções do álbum lançado em 1965 são usadas como ajuda para superar vícios. “Muitas vezes estamos sobrecarregados por ‘espíritos ameaçadores’, e a música tem o poder de nos aliviar e nos libertar. Outras vezes é uma celebração, um batismo em som, em que nos alegramos”, diz o reverendo Haqq da igreja de São Coltrane.

Músico queria ser santo

Em uma entrevista realizada em Tóquio, John Coltrane afirmou que queria ser um santo quando foi questionado sobre o que ele gostaria de ser dali dez ou 20 anos. O principal disco de sua carreira foi produzido em uma esfera religiosa que, segundo a esposa do músico Alice Coltrane, foi inspirado como os dez mandamentos entregues por Deus para Moisés.

“[Ele] parecia Moisés descendo da montanha, foi lindo. Ele desceu, e havia uma alegria, uma paz em seu rosto, uma tranquilidade. Eu disse: ‘conte-me tudo, faz uns quatro ou cinco dias que a gente nem se vê…’. Ele respondeu: ‘Esta é a primeira vez em que me veio toda a música que quero gravar, como uma suíte [sequência de composições instrumentais]. Pela primeira vez, tenho tudo, tudo pronto’.”

Essas declarações foram dadas por Alice para o livro: “A Love Supreme, A Criação do Álbum Clássico de John Coltrane”, de Ashley Kahn e é apenas uma das provas de que o álbum instrumental tem ligações religiosas. Coltrane teve influências de religiões africanas, indianas e até do candomblé e este álbum reafirma suas crenças como ele afirmou no encarte do disco.

“A música de nosso santo tem o poder de facilitar a compreensão da religião e o contato com Deus”, afirma o reverendo. “Consideramos que a música de São John é o som ungido que saltou do trono do céu, direto da própria mente de Deus, e encarnada em John William Coltrane.”





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