Paixão de Cristo – Por Francisco Mota



Um simples olhar sobre a cidade e facilmente nos apercebemos do espírito quaresmal e de introspecção que é vivido em cada rua, em cada avenida ou em cada templo.

Braga é por esta altura o centro religioso e cultural de Portugal. Ao longo dos tempos conquistou este estatuto pela imponência dos seus actos litúrgicos, rituais e procissões.

A divulgação da semana maior atrai milhares de turísticas ao nosso território, monumentos e sobretudo espaços religiosos, dando à nossa cidade uma diversificação de idiomas e culturas de todos os cantos do Mundo. Há muito que vencemos as barreiras da religião, não tendo dúvidas que as nossas ruas são hoje visitadas pelas mais variadas crenças ou ideologias que configuram respeito e admiração pelos nossos actos públicos.

Provavelmente a Semana Santa de Braga teve a sua origem histórica em finais do século IV d. C. como outras, pressupõe a paz dada à Igreja pelo imperador Constantino, em 313, e as determinações do Concílio de Niceia sobre a celebração da Páscoa. 

O primeiro grande testemunho da celebração da Semana Santa em Jerusalém, que coincide provavelmente com o início, da sua imitação em múltiplos outros lugares do mundo cristão é o livro de viagens: Peregrinatio ad Loca Sancta ou Itinerarium ad Loca Sancta (Peregrinação/Itinerário aos Lugares Santos) ou ainda, simplesmente, Itinerarium Egeriae (Itinerário de Egéria) escrito por uma tal Etéria ou Egéria não se sabendo ao certo.

Curiosamente, esta peregrina era uma mulher da Galécia, provavelmente mesmo da Bracara Augusta (hoje cidade de Braga), que fez a sua própria peregrinação à terra Santa por volta dos anos 381 e 384. Terá sido este escrito, onde se descrevem pormenorizadamente as celebrações então feitas em Jerusalém, que inspirou celebrações semelhantes em outras partes do Mundo.

Braga, por razões óbvias, pode bem ter estado entre as primeiras e ter sido mesmo um centro de irradiação. Pode não se conhecer a sua evolução histórica ao longo da Idade Média, mas os historiadores acreditam que as suas configurações desde os princípios da Idade Moderna, de que se vão conhecendo documentos, tenham por detrás de si uma tradição já milenar.

Esta mesma tradição figura hoje uma série de momentos altos de preparação espiritual e cultural aonde destacaria: Procissão dos Passos; Procissão do Senhor “Ecce Homo”; Procissão Teofórica do Enterro e recentemente desde 1998 o Cortejo bíblico “Vós sereis o meu povo” (“Procissão de Nossa Senhora da burrinha”).

E porque acredito que a tradição não é estanque e as mutações da cidade devem ser vistas como oportunidades, aproveito este momento para sugerir a integração da Via Sacra ao Vivo de Maximinos nestas tradições e nestes programas maiores da nossa Semana Santa. Inserida no coração da cidade, com um percurso único e uma envolvência arrepiante a Paixão de Cristo representada em Maximinos é detentora de um potencial enorme.

Com uma organização jovem mas determinada em fazer cada vez mais e melhor este acto cultural e espiritual tem as condições de conquistar o seu próprio espaço na cidade, mas mais importante que isso de se deixar conquistar pela cidade.

Por último aproveito para desejar a todos os Bracarenses a continuação de uma semana santa preenchida de uma vivência única e uma Santa e Feliz Páscoa.



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