É importante expressar os sentimentos e viver o luto da perda


Falar de morte é quase um tabu. 

O momento da despedida de pessoas queridas é tão doloroso que em geral prefere-se não tocar no assunto. No entanto, a morte pode ser encarada com serenidade e como uma homenagem à própria vida que terminou ali. 

E cada religião tem uma forma de lidar com a dor desse momento e acolher a saudade de quem fica. E o ritual é uma das formas de expressar esse sentimento e de atravessar melhor essa fase. 

'É importante para dar um sentido de pertencimento e de significado à situação de perda', explica Maria Julia Kovács, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte ligado ao Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo). Ao longo da história, cada povo, cada cultura, vem criando cerimônias de adeus para lidar com a perde de pessoas queridas. 

Embora diferentes, no entanto, elas têm em comum o acolhimento e a compreensão do significado da saudade para quem fica.

Como as várias culturas lidam com a morte

É o Dia de Mortos mais conhecido do mundo, e o mais alegre. É comemorado com muita música e festa em casa ou no cemitério, onde os mortos são convidados a participar dos comes e bebes e os vivos festejam essa possibilidade de reunião. A tradição vem desde os tempos pré-hispânicos. 

Nesse dia, as almas dos mortos têm permissão para visitar seus parentes e amigos. E para que elas encontrem seus caminhos, as ruas e as casas se enchem de velas. Para os mexicanos, a morte é como um espelho que reflete como vivemos. Por isso, as casas são enfeitadas com flores e altares coloridos. 

Os festejos começam a ser preparados desde o dia 31 de outubro. A festa é considerada um dos Patrimônios da Humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura).

Budismo

Para os budistas, a morte é a única certeza. Quando possível, os japoneses trazem a pessoa que faleceu para passar uma última noite em sua própria casa, onde o rosto é coberto com um lenço branco. 

Isso é só o início de uma série de rituais que durarão décadas. Familiares e amigos e crianças vêm despedir-se da pessoa falecida. É comum sentarem-se na cama do falecido e conversar e tocar no rosto como se ele ainda estivesse vivo. Geralmente a pessoa é cremada e sua foto é deixada no butsudan (altar doméstico budista) em casa, onde os familiares oram por ela todos os dias ao acordar. Todos os anos, entre 15 de julho e 15 de agosto celebra-se o Obon. 

As famílias enfeitam o templo ou áreas ao ar livre com velas e lanternas coloridas, dançam ritmos tradicionais e rezam para homenagear as pessoas queridas que já se foram.

Hinduísmo

Os hinduístas acreditam na reencarnação. Depois da morte começam os rituais para ajudar a alma a desprender do corpo. A alma pode reencarnar como um ser humano ou como um animal, dependendo da sua vida anterior. 

O corpo é lavado, untado com óleo e pasta de sândalo e vestido com roupas de festa. E o mesmo fazem os convidados. 

Uma mortalha de tecido é colocada por cima, deixando apenas o topo do crânio descoberto. Após a cremação, a família entra em um período de reclusão, entre 7 a 40 dias. Todos ficam em casa, comem só coisas leves, livram-se dos pertences do morto e fazem orações.

Judaísmo

Para os judeus, a morte não é o final da vida, pois a alma sobrevive e será recompensada, caso tenha sido boa e digna. Os caixões devem ser simples para lembrar que a morte iguala todos. Além disso, todos os pertences, como joias, relógio e óculos são retirados do corpo para o morto não encontrar o Criador portando objetos mundanos. 

Na última cerimônia, familiares e amigos rezam junto ao corpo salmos e trechos da Torá (livro sagrado dos judeus) e os parentes mais próximos rasgam um pedaço da roupa para mostrar o luto. São três etapas. Ao voltar do cemitério, a família não sai de casa por sete dias. Recolhem-se em orações e recebem visitas. 

Tudo o que reflete, como espelhos e porta-retratos, é coberto para que o morto não 'veja' a própria imagem. O ritual fúnebre se encerra com a inauguração da lápide, que é colocada somente após um mês. Na cerimônia, o túmulo é coberto com um pano preto e pequenas pedras.

Catolicismo

Não reencarna e não retorna. Se ela viveu conforme os ensinamentos divinos, vai para o paraíso. Caso contrário, o destino é o inferno. O que morre é o corpo e não a alma, que sai do corpo e vai para uma outra dimensão, o primeiro céu. Na hora da preparação, familiares e amigos do mesmo sexo do falecido lavam e enrolam o corpo com três mortalhas se for homem e, cinco, se for mulher. 

O enterro é preferencialmente enterrado direto na terra, sem o caixão. O último momento é de reflexão e reconhecimento a Alá. São feitas súplicas e uma oração fúnebre para iluminar o corpo até a eternidade. O luto é de três dias, mas para a esposa o período é maior, 4 meses e 10 dias. Na igreja católica, corpo e alma são uma só coisa e a reencarnação não é aceita. 

A morte é apenas uma passagem e o caminho para a vida eterna. Normalmente, o enterro é realizado nas 24h que sucedem a morte e o corpo é velado por meio de orações. A benção pelo sacerdote encerra o velório. As velas simbolizam a luz do Cristo ressuscitado e as flores são a primavera da vida que floresce na eternidade. 

Depois de enterrado, o clássico ritual fúnebre dos católicos é a missa de sétimo dia, celebrada para iluminar a alma do falecido. No Dia de Finados, os católicos costumam visitar os cemitérios e deixar flores para lembrar dos entes queridos.

Candomblé


A religião de origem africana não vê a morte como o fim. Morrer é voltar para outra dimensão e reencontrar com os outros espíritos, orixás e guias. Ou seja, a pessoa perde a matéria para se tornar um espírito. 

Geralmente, o corpo é velado no terreiro e o rito funerário, chamado de axexê, começa depois do enterro e pode durar uma, três ou seis noites de cânticos e danças na qual se celebra a partida do iniciado para o outro mundo. 

Após o desligamento do espírito, acontece o velório, no qual cânticos convidam os ancestrais para que eles recebam o novo Egum (espírito), e todos os espíritos são louvados. Depois do velório, o Ará (corpo) é sepultado. Após um ano da morte, é realizada a renovação da cerimônia, que ainda será repetida três e sete anos depois.



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