Eslováquia não quer muçulmanos, só aceita refugiados cristãos


Bratislava é o primeiro governo da UE a usar a religião para filtrar os refugiados e diz que muçulmanos não se “sentiriam em casa” no país.

Amar o próximo, sim, mas com uma ressalva: só se for cristão. O governo eslovaco anunciou que irá honrar o compromisso de acolher 200 refugiados sírios, a quota que lhe cabe segundo o Plano de Refugiados da UE, mas não quer muçulmanos, só cristãos. 

O porta-voz do Ministério do Interior de Bratislava, Ivan Metik, explicou que a razão para os muçulmanos não serem aceites é que “não se sentiriam em casa” num país de cultura cristã.

“Poderíamos acolher 800 muçulmanos, mas não há mesquitas na Eslováquia. Como vão integrar-se os muçulmanos se não vão gostar de estar cá?”, perguntou Metik na entrevista que concedeu à BBC

A Eslováquia torna-se, assim, o primeiro país europeu a servir-se de um critério religioso como filtro na resposta à crise de refugiados. Não está, no entanto, isolada, com protestos cada vez mais audíveis por todo o leste europeu contra os planos da UE.

A porta-voz da Comissão Europeia Annika Brethard não quis comentar a posição eslovaca ao ter conhecimento da notícia, mas recordou que não há margem na UE para que os Estados-membros adoptem medidas discriminatórias com base na religião das pessoas.

A Eslováquia, em princípio, não será mais do que um país de passagem para os refugiados, mas no início do mês a pequena localidade de Gabcikovo, com 5343 habitantes, no sul do país, respondeu um “não” rotundo num referendo sem precedentes quanto à possibilidade de acolher temporariamente 500 refugiados que têm o processo de asilo pendente na vizinha Áustria. 

Foi Bratislava que se ofereceu para ir além da sua quota, aceitando os refugiados, na sua maioria sírios, que por estes dias vivem em cima uns dos outros nos centros de acolhimento austríacos, que estão já completamente sobrelotados.

“Estou muito feliz que o resultado reflicta a postura dos cidadãos”, disse o autarca de Gabcikovo, Ivan Fenes, rematando: “Não queremos refugiados no nosso município.” 

Em seguida, dirigiu-se ao Ministério do Interior, ao Serviço de Imigração e aos proprietários dos edifícios da universidade técnica onde estava previsto que os refugiados fossem acolhidos, exigindo que a vontade popular seja respeitada. Dos 4300 cidadãos com direito a voto naquele enclave junto ao Danúbio, 97% votaram contra a recepção dos refugiados.

Não é que sejam indiferentes à situação dos milhões de sírios que fogem à guerra civil que está a devastar o seu país, simplesmente os habitantes dizem já serem demasiados “para uma localidade tão pequena”. Pressionado pela veemente oposição de Gabcikovo, o Ministério do Interior declarou ontem que, depois de interpretar os receios e preconceitos da população, estabeleceu como filtro o critério da religião.

Há duas semanas, cerca de 250 nacionalistas manifestaram-se na capital da Letónia, em frente ao principal edifício governamental, contra o compromisso assumido pelo país de acolher 250 refugiados ao longo dos próximos dois anos, ao abrigo do plano da UE que prevê distribuir 40 mil imigrantes entre os 28 Estados membros. 

Outro foco de protestos tem sido a cidade oriental de Dresden, na Alemanha, onde membros de um partido de extrema direita se têm envolvido em confrontos violentos com a polícia.

O governo alemão anunciou esta semana que está à espera de receber 800 mil refugiados este ano, um recorde que fica quatro vezes acima do número do ano passado. 

De acordo com dados recolhidos até junho pelo Eurostat, e naquela que é considerada a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, a Hungria acolheu já 32 800 refugiados este ano, Itália 15 200, França 14 800, Suécia 11 400, Áustria 9700 e Reino Unido 7300.






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