Grupo de anciãos usa prestígio e acesso para resolver problemas mundiais - por Bob Deans

Da esquerda para a direita, Muhammad Yunus, Mary Robinson, Kofi Annan, Nelson Mandela, Jimmy Carter e Desmont Tutu, alguns dos membros do influente grupo The Elders



Um deles liderou o movimento para acabar com o apartheid, um outro possibilitou empréstimos para pessoas pobres em todo o mundo. Há também um ex-líder da Organização das Nações Unidas (ONU), um que foi presidente dos Estados Unidos e outro que está sob prisão domiciliar em Mianmar.


Todos são ganhadores do Prêmio Nobel da Paz, e compartilham preocupações comuns, como acabar com a guerra, erradicar a pobreza e amplificar vozes políticas que não são ouvidas. Juntos, os membros desse grupo de indivíduos grisalhos -entre eles, Nelson Mandela, Muhammad Yunus, Kofi Annan, Jimmy Carter e Aung San Suu Kyii- se reuniram para promover uma diplomacia informal com o objetivo de ajudar a resolver alguns dos problemas mais difíceis do mundo.


Eles contam com um website, uma declaração de sua missão e um nome, "The Elders" ("Os Anciãos"), e o projeto é inspirado pelas tradições de tribos africanas que voltam-se para membros idosos para obter conselhos sábios. Os analistas afirmam que os Elders podem fazer uma diferença, usando o acesso a líderes, a autoridade moral e a sua capacidade de atuar como canais úteis de bastidores para a promoção de uma diplomacia informal que pode ajudar a preencher as lacunas existentes nas capacidades dos governos nacionais. "As relações entre Estados são apenas uma pequena parte da rede complexa formada por relacionamentos internacionais, empresários que visitam primeiros-ministros ou ativistas dos direitos civis que conversam com ministros das relações exteriores", explica o ex-diplomata dos Estados Unidos, Daniel Serwer, um especialista em resolução de conflitos do Instituto dos Estados Unidos para a Paz, uma instituição não partidária patrocinada pelo Congresso dos Estados Unidos. "Essas pessoas têm acessos", diz Serwer, referindo-se aos Elders. "Levando em conta todos os seus membros, o grupo provavelmente é capaz de se reunir com qualquer chefe de Estado do planeta". Ele também representam algo individual ou coletivamente. "Essas são pessoas conhecidas em todo o mundo, não apenas como cidadãos de determinadas nações, mas como indivíduos que se preocupam com o mundo inteiro. E isso possibilita que tenham uma voz bastante distinta e que pouquíssimos governos podem ignorar", afirma o ex-assessor da Casa Branca, Robert Pastor, co-diretor interino do grupo.

"Os Elders não estão tentando substituir, ou duplicar, aquilo que os governos ou as organizações inter-governamentais estão fazendo, e sim reforçar e suplementar iniciativas, além de preencher lacunas", afirma Pastor. "A questão crítica é determinar se eles são capazes de aglutinar as suas influências individuais a fim de criar uma fonte coletiva de poder capaz de fazer o que os governos e as instituições inter-governamentais são incapazes de realizar". Isso é algo muito abrangente. Apesar de todo o poder e a influência dos Estados Unidos, dos seus parceiros globais e da ONU, conflitos antigos persistem em todo o mundo, juntamente com males de dimensão global como doenças, mudança climática e violações dos direitos humanos. Na virada do milênio, o astro britânico do rock Peter Gabriel e o magnata do setor aéreo Richard Branson começaram a falar a respeito de maneiras de aproveitar a autoridade moral e o acesso global de figuras da estatura de um Mandela, o primeiro negro a ser eleito presidente da África do Sul. Em julho, a idéia gerou frutos, quando Mandela, que passou quase três décadas na prisão por liderar a oposição à cruel modalidade de opressão racial vigente no seu país, chamada apartheid, e 12 outros estadistas veteranos reuniram-se para formar o grupo "The Elders". A missão que marcou a estréia do grupo, realizada no verão deste ano, foi no Sudão.

Lá, Carter e os seus companheiros do Elders, Lakhdar Brahimi, um diplomata argelino, Graça Machel, uma defensora moçambicana dos direitos das mulheres e das crianças, e o líder anti-apartheid e bispo anglicano Desmond Tutu, buscaram formas de resolver a longa guerra civil que aflige o país, e o impacto causado pelo conflito sobre o povo de Darfur, onde mais de 225 mil civis morreram naquilo que o presidente Bush chamou de genocídio. Os Elders esperam apresentar um relatório das suas descobertas e recomendações já na próxima semana. Além de Darfur, os Elders se propuseram a tentar ajudar a resolver conflitos em Mianmar, onde um governo autoritário vem reprimindo há décadas ativistas pró-democracia como Aung San Suu Kyi; em Zimbábue, onde indivíduos politicamente progressistas sofrem com a repressão imposta pelo líder Robert Mugabe; e no Oriente Médio, onde seis décadas de derramamento de sangue e de inimizade entre árabes e israelenses continuam a desestabilizar aquela região estratégica e a causar perdas e desespero para os seus habitantes.

Carter, que como presidente articulou os históricos acordos de Camp David que trouxeram a paz entre Israel e Egito em 1979, continuou ativo no processo de paz do Oriente Médio. No mês passado, ele reuniu-se com a secretária de Estado Condoleeza Rice, que está trabalhando no sentido de fazer com que líderes palestinos e israelenses reúnam-se no final deste mês em Annapolis, no Estado norte-americano de Maryland, para aquilo que poderia ser o primeiro diálogo concreto pela paz entre os dois lados em sete anos. Ainda não se sabe se as conversações de paz de fato ocorrerão. Devido à delicadeza das negociações à respeito das próprias conversações, os Elders têm evitado desempenhar qualquer papel público no processo. Em vez disso, segundo Pastor, o grupo está pensando em visitar a região após as conversações de Annapolis a fim de preparar um relatório descrevendo as questões em jogo e apontando possíveis caminhos para soluções. É verdade que há limites para aquilo que pode ser alcançado pela autoridade moral e um grande arquivo Rolodex de contatos. Por exemplo, os especialistas em Oriente Médio afirmam que a resolução do conflito árabe-israelense exigirá ações duras de ambas as partes, e não o tipo de mediação que os Elders são capazes de proporcionar.


"Este não é um conflito no qual as pessoas carecem de lideranças heróicas", afirma Robert Satloff, diretor executivo do Instituto de Políticas do Oriente Próximo, com sede em Washington. "Este conflito necessita de execução e de compromissos práticos", explica Satloff. "A capacidade de controlar organizações terroristas e de confiscar armas ilegais. Essas não são questões que tendem a ser resolvidas por meio de qualquer contribuição que possa ser prestada por esses distintos estadistas". Ao mesmo tempo, a lamentável história dos esforços pela paz no Oriente Médio demonstra os limites do poder e da influência do Estado e, talvez, afirma Pastor, gere a oportunidade para que atores não governamentais desempenhem um papel construtivo. "O fato de que, durante 60 anos, o Oriente Médio está imerso em conflito, se constitui em um caso clássico de como os governos às vezes não encontram caminhos para a paz, embora as pessoas estejam nitidamente ansiosas por ela", diz Pastor.


Conclusões similares poderiam ser sugeridas em relação a Mianmar, Zimbábue e Darfur. "Nesses casos, a esperança é que a autoridade moral coletiva dos Elders seja capaz de apontar novos caminhos para auxiliar as partes envolvidas a resolver o conflito", afirma Pastor. De fato, Carter demonstrou por exemplo próprio aquilo que pode ser realizado por um estadista solitário atuando com boa-fé pela resolução de conflitos. Em meados da década de 1990, ele ajudou a patrocinar o fim de um perigoso impasse nuclear que colocou os Estados Unidos e a Coréia do Norte em uma rota que poderia levar a uma guerra. Ele ajudou a convencer o líder de um golpe a deixar o Haiti antes de uma invasão por forças norte-americanas. E Carter também costurou um cessar-fogo de quatro meses entre sérvios, croatas e muçulmanos na Bósnia. "Então, essa autoridade moral possui alguma relevância? Penso que sim", afirma Serwer. "Trata-se de ter uma visão de mundo e de contar com o acesso e a influência para colocá-la em prática. Então, quanto mais poder eles tiverem, melhor".

As biografias dos Elders


Jimmy Carter: 39° presidente dos Estados Unidos


Carter usou a sua presidência para melhorar as perspectivas de paz no Oriente Médio, bem como para promover o controle de armamentos norte-americanos e soviéticos e os direitos humanos. Este professor de uma escola dominical e ex-plantador de amendoins do Estado da Geórgia usou a sua fase pós-presidencial para estimular uma série de iniciativas globais, como o monitoramento de eleições, a promoção da democracia em todo o mundo, e a quase erradicação da dracunculíase no oeste da África.


Nelson Mandela: líder anti-apartheid sul-africano


Talvez o mais conhecido prisioneiro político da sua geração, Mandela passou 27 anos na prisão devido à sua oposição ao cruel sistema de opressão racial da África do Sul conhecido como apartheid. Depois que o sistema foi abolido, Mandela foi eleito o primeiro presidente negro do seu país em 1994. Desde que deixou o poder, cinco anos depois de ter assumido a presidência, ele desempenha um papel central no combate ao HIV e à Aids em toda a África, e tem atuado ativamente nas negociações de paz no Congo e em Burundi.


Kofi Annan: sétimo secretário-geral da Organização das Nações Unidas


Nativo de Gana, Annan atuou nas Nações Unidas em um período dominado pela guerra no Iraque, pelas reformas na ONU e por uma série de terríveis escândalos de corrupção na organização. Ele foi também o arquiteto de esforços afirmativos pela paz no Líbano, por parte da ONU, após a guerra travada entre os israelenses e o Hezbollah naquele país no ano passado, e supervisionou o desenvolvimento de um conjunto abrangente de objetivos globais com o propósito de combater a pobreza e a doença em toda a África.


Reverendo Desmond Tutu: ativista anti-apartheid e defensor da reconciliação

A alma do movimento anti-apartheid, Tutu foi alvo de ameaças de morte quando defendia a igualdade racial no seu púlpito como arcebispo da Cidade do Cabo, a mais poderosa posição da Igreja Anglicana da África do Sul. Depois que o apartheid foi abolido, Tutu tornou-se um líder no programa de reconciliação, através do qual policiais e outros que ajudaram a impor a opressão racial na África do Sul foram anistiados em troca de confissões públicas e pedidos de desculpas, medidas tidas como fundamentais para que o país tivesse sucesso em seguir adiante sem ficar preso em um ciclo interminável de recriminações e vinganças.


Outros membros do The Elders são:


Ela Bhatt, organizadora e defensora dos diretos das mulheres na Índia.
Gro Brundtland, médico, defensor da saúde pública e ex-primeiro-ministro da Noruega.
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil (1995-2002).
Mary Robinson, primeira mulher presidente da Irlanda (1990-1997), e a ex-alta comissária de Direitos Humanos da ONU (1997-2002).
Aung San Suu Kyi, líder simbólico da luta pela democracia em Mianmar.
Graça Machel, ativista social, política e econômica em Moçambique.
Lakhdar Brahimi, ex-diplomata argelino.
Li Zhaoxing, ex-diplomata e ex-porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China.
Muhammad Yuns, fundador do Projeto Grameen Bank, em Bangladesh, e pai do movimento global de micro-crédito.



Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/cox/2007/11/12/ult584u607.jhtm


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