Livros que Clio Recomenda II

História para entender a vida cotidiana
Caio César Boschi, autor do livro:
"Por que estudar história",
fala da importância de se compreender o passado para viver o presente


O estudo da História pode parecer chato para muita gente, em parte pela forma com que são cobrados os conteúdos nas escolas, que muitas vezes criam a imagem de que estudar história é decorar datas e nomes. É com o intuito de desfazer este mal entendido que o especialista em História do Brasil, professor da PUC Minas e professor convidado da Universidade do Porto Caio César Boschi lança: Por que estudar História?
Em entrevista para o site da Revista de História da Biblioteca Nacional, Boschi, membro do conselho editorial da revista, explica os motivos que tornam o estudo da História importante para o mundo de hoje, tanto para os setores que demandam pesquisas na área, como também para aqueles que utilizam seus conhecimentos no dia-a-dia.

Em Por que estudar História?, você relaciona o saber histórico ao nosso cotidiano. Como isso acontece?

O que fazemos, pensamos, sentimos e produzimos, assim como o significado que atribuímos a tudo isso, depende da época em que vivemos, das relações sociais até então estabelecidas, do contexto histórico. Tudo o que nos parece natural e eterno é, na verdade, fruto da criação humana ao longo do tempo. O homem sempre buscou conhecer seu passado. Questionamos o passado porque nele encontramos respostas para compreendermos o presente. Uma das funções básicas da História é permitir a compreensão da vida em sociedade e dos homens que a integram e a transformam ao longo do tempo. A História serve para que o homem conheça a si mesmo – assim como suas afinidades e diferenças em relação aos outros. Saber quem somos permite definir para onde vamos.

Qual é a importância da pesquisa histórica na sociedade hoje?

O passado não fala por si só, como alguns podem supor. É uma reconstrução feita pelos homens no presente e, portanto, marcado por experiências atuais. Por isso, as imagens do passado, transmitidas por diferentes veículos de comunicação, podem nos esclarecer e nos ajudar a compreender melhor nossa realidade, como também podem nos iludir.Além disso, o estudo do humano não é exclusividade ou privilégio da História. Vários campos do conhecimento, como a Filosofia, a Psicologia e a Religião, entre outros, na área das Ciências Humanas e Sociais, se dedicam a explicá-lo, cada um a seu modo. Mas a História nos oferece um tipo de reflexão que se distingue dos outros, ao privilegiar a dimensão temporal da existência humana. Por meio dela, ficamos sabendo como os homens, em diferentes épocas e lugares, se percebem como atores sociais, a maneira pela qual se dá sua relação com os outros, integrando-se ou divergindo, e lutando entre si.
O que é o tempo histórico?

É o tempo contínuo, que envolve permanente mudança, não sendo um tempo linear ou uma simples sucessão de fatos. Falar de tempo histórico significa falar de permanências e mudanças e de diferenças e semelhanças. Em uma mesma época, vemos conviverem aspectos que nos remetem a diferentes temporalidades. Para analisá-lo é preciso considerar que o tempo abrange dimensões simultâneas que se interpenetram e se sobrepõem.Esse tempo está andando mais rápido com as novas tecnologias que aproximam pessoas e difundem informação?
Pode-se dizer que nos 100 últimos anos aconteceram mais fatos históricos do que em séculos passados?

De fato, temos assistido e participado de um processo de aceleração da História. Ao mesmo tempo, as novas tecnologias nos propiciam acompanhar acontecimentos, "ao vivo e em cores", que espacialmente estão muito distantes de nós. Cabe observar, no entanto, uma diferença essencial existente entre acontecimentos e fatos históricos. Ou seja, há acontecimentos poderão não ser considerados necessariamente fatos históricos. Que não nascem e nem são intrinsecamente históricos. Somos nós que conferimos historicidade aos fatos ou acontecimentos. Somos nós que analisamos os acontecimentos e o qualificamos (ou não) como históricos. O que é fato histórico para alguém, para um povo, para um segmento social ou para um determinado historiador, pode não sê-lo para outros. O que é fato histórico hoje pode não ter sido considerado, ontem, como tal. Vale dizer, portanto, que a História não é um conhecimento pronto, acabado. Ao contrário, é um processo. Logo, está em permanente construção. Ou melhor, ela é uma permanente construção.

O que mudou na construção da História ao longo dos tempos?

Tal como nós a entendemos, a História surge na Grécia Antiga, provavelmente no século V a.C. Foram os gregos que iniciaram, de maneira sistemática, o relato testemunhal ou pessoal do que se observava e se vivia. Os gregos iniciaram a narrativa de seu presente – que é o nosso passado e em linhas gerais essa forma de conceber e apresentar o conhecimento histórico se manteve por muitos séculos. A idéia de que a História é uma simples sucessão de fatos interligados por uma relação de causa e efeito foi superada.Como está em permanente construção, a História não admite definição única. Cada época, cada contexto, cada realidade social formula seu conceito de História.

Quais são as principais fontes de pesquisa dos historiadores?

Para o desenvolvimento de nossas pesquisas históricas, normalmente nos dirigimos aos arquivos. Mas, fonte histórica é tudo aquilo que pode fornecer informações sobre passado. Várias fontes históricas fazem parte do seu cotidiano: documentos, cartas, anotações, arquivos de computador, objetos do cotidiano, roupas, fotografias, jornais, revistas. Se somos nós que construímos a História, todos esses itens do nosso dia-a-dia não deixam de ser fontes históricas. Seja como for, os documentos escritos continuam sendo o tipo de fonte mais utilizada pelos pesquisadores. Eles dizem respeito à vida das pessoas e à vida em sociedade.

Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1328

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