Sobre Política e Religião - Por Theófilo Silva


Foram os franceses, com a célebre revolução de 1789, que resolveram acabar com a religião. Em uma ação insana, durante o processo revolucionário, invadiram a Catedral de Saint Dennis, onde estavam enterrados os reis da França desde o século X, saquearam os túmulos e destruíram os corpos e ossadas de seus antepassados. Seus líderes promoveram um brutal banho de sangue entre seus cidadãos e depois se mataram a si mesmos. Napoleão Bonaparte, o filho da revolução, obrigou o papa Pio VII a viajar até Paris para coroá-lo imperador, mas, na hora da cerimônia, tomou-lhe a coroa das mãos e, dando as costas para ele, se autocoroou. Em seguida mandou prendê-lo.

Treze anos antes uma colônia nas Américas entrou em guerra com a Inglaterra, nação que a dominava, e após sete anos de luta, vencedores, passaram a chamar-se Estados Unidos da América. A seguir, proclamaram uma constituição que permitia a liberdade religiosa colocando Deus como fonte de inspiração de suas vidas. Depois escreveram, em seu dinheiro: “nós confiamos em Deus”.

Logo após a revolução francesa, um cidadão francês, o filósofo Auguste Conte criou o Positivismo, a Religião da Humanidade. Uma fé despida de qualquer conteúdo místico ou sobrenatural. Para Conte, a religião, como a conhecíamos, estaria morta na virada do século XIX, quando entraríamos no período da razão.

O Brasil é uma gigantesca nação com mais de duzentos milhões de habitantes composta de homens e mulheres descendentes de índios, negros e brancos europeus. Povos impregnados de conteúdo místico e extrema religiosidade. O principal elemento formador dessa nação, os portugueses, são os católicos mais exacerbados do mundo.

Mais de 95% dessa enorme sociedade não sabe o que significa exatamente casamento gay, aborto, homofobia e estado laico. O cidadão que vive no bairro do Morumbi, em São Paulo ou no Meireles, em Fortaleza tem visão diferente de quem mora no Varjão, em Brasília; ou em Correntes, no Piauí. Eles não entendem claramente o debate político eleitoral que agora se trava, entre outras coisas, porque as transformações que a família passou nos últimos cinquenta anos provocada, principalmente, pela ciência médica foram rápidas demais. E o tempo para a religião não é o mesmo da política.

As religiões são, para muitos, um entrave ao progresso da humanidade. Na verdade vários dogmas da Igreja parecem não caber na modernidade. Mas não podemos esquecer que o Positivismo de Conte e outras ideologias racionais não vingaram, e a religião recrudesceu. E o que seria o império da razão, o que vimos no século XX foi um mundo de guerras e catástrofes, apesar do progresso.

Nesse mosaico aparentemente confuso que montei, quando opus os EUA à França, o fiz no intuito de apontar que a nação mais poderosa do mundo é profundamente impregnada de fé cristã. Na verdade é até fanática. Isso, no entanto, não os impediu de estarem na vanguarda das transformações provocadas pela ciência e que tanto contribuiu para essas mudanças na sociedade. Logo, fé e ciência não são incompatíveis. Daí que o estado precisa ser mais compreensível com questões de fé e religião, pois elas ainda acendem rastilhos de pólvora. Mesmo na Suécia.

Lembro que os personagens de Shakespeare não praguejavam em nome de Deus. Quando falava no Todo Poderoso, ele utilizava as palavras Júpiter, Céu... Shakespeare estava dizendo que nós não podemos desprezar a religião. É isso!




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