Uso da burca provoca o debate na Austrália - Por Marie-Morgane Le Moël

Há alguns dias, Sergio Redegalli, artista de Newtown, um bairro boêmio de Sydney, era um desconhecido para o público australiano. Desde então, sua última obra foi divulgada por todo o continente. Esta fama relâmpago deve-se à pintura mural feita pelo pintor e escultor na fachada de seu ateliê: uma mulher com burca sob os dizeres “Say no to burqas” [“Diga não às burcas”].



“Não se trata de um ataque aos muçulmanos em geral”, disse Redegalli. “Mas os pontos de vista extremistas não funcionam neste país. As jovens mulheres [muçulmanas] deveriam ter o direito de ser como todo mundo.” Uma explicação pouco apreciada. Sua fachada foi depredada duas vezes em uma semana, e o artista fez uma vigília para protegê-la. Ao final, a obra mural terá sido efêmera. Alarmado pela possibilidade de que um grupo neonazista recupere sua iniciativa, o artista acaba de repintar a fachada. Agora, existe apenas uma mensagem antirracista.

O episódio reflete o interesse da sociedade australiana pelo debate sobre a burca. A imigração originária dos países muçulmanos foi tardia, e 1,7% da população (estimada em 22 milhões de pessoas) é de muçulmanos. Uma presença fraca que ainda é vista com receio. Os projetos de construção de mesquitas ou de escolas islâmicas costumam ser motivo de protesto. A comunidade muçulmana, por sua vez, sofreu com o posicionamento controverso de xeques extremistas, minoritários mas muito populares na mídia. “Os atentados de 11 de setembro de 2001, e de Bali em 2002, aumentaram o receio dos australianos em relação aos muçulmanos”, comenta Saul, co-diretor do Centro de Direito Internacional de Sydney.

Nesse contexto, o debate sobre a burca na França foi acompanhado de perto. “Muitos aqui acham que não é necessário legislar sobre a forma de se vestir”, explica Saul. A decisão da França foi portanto criticada, mas deu ideias aos políticos. Um deputado do Estado de Nova-Gales do Sul, o conservador Fred Niles, propôs, sem sucesso, a adoção de uma lei proibindo a burca. Em reação, grupos muçulmanos se manifestaram recentemente em Sydney. A questão parece revelar antagonismos subjacentes. Durante a manifestação, as mulheres com véu criticaram duramente o modo de vida das mulheres ocidentais. Os australianos, por sua vez, expressaram na internet o seu medo dos muçulmanos, acusando-os de não se integrarem à comunidade.

Apesar de a grande maioria dos políticos australianos rejeitarem a proibição da burca, a decisão francesa parece ter tocado num ponto sensível no seio da sociedade. Conferências sobre o assunto estão sendo organizadas nas universidades. Recentemente, o deputado do UMP Jacques Myard, forte defensor da lei na França, foi até mesmo convidado pela rede pública SBS para debater o assunto.

Fonte: http://noticias.uol.com.br

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