'Papa argentino representa uma grande reviravolta', afirma especialista ao SRZD – Por Aldir Cony


O mundo recebeu com surpresa a escolha do primeiro Papa latinoamericano de todos os tempos. Apesar de um dos fortes candidatos ser o brasileiro Odilo Scherer, o eleito foi o argentino Jorge Mario Bergoglio, que usará o nome Francisco I.

O SRZD conversou com Moacir Nunes de Oliveira, professor do Departamento de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para ele, a escolha de um Papa argentino é um verdadeiro ponto de ruptura no Catolicismo.

"A Igreja passa por problemas de várias ordens: administrativos, econômicos, éticos, relacionados à pedofilia, entre outros. Um líder latinoamericano representa uma grande reviravolta no Catolicismo", destaca o professor.

Moacir acredita que os próprios cardeais sentiram a necessidade de realizar uma mudança. "Surgiu a necessidade de uma nova figura liderando a religião. Alguém com disposição para enfrentar desafios internos e que saiba se comunicar com todos, principalmente os jovens", comenta o professor.

Para Oliveira, "a Igreja precisa de um líder com olhar mais descentralizado, mais universal e menos eurocêntrico". O último pontífice não-europeu havia sido Gregório III, da Síria, que foi eleito no ano de 731.

Na opinião do professor, a explicação para a escolha de um nome inesperado é justamente a disputa acirrada que havia entre dois outros candidatos: o italiano Angelo Scola e o brasileiro Odilo Scherer. 

"Os dois mais cotados não conseguiram a maioria necessária nas primeiras votações. Com isso, cria-se um impasse e começam a ser negociados novos nomes. No caso, foi o de Bergoglio", destaca.

Para saber como será o pontificado de Francisco I, o professor diz que é preciso esperar, mais alguns fatores podem ser indicativos. "Jorge Mario certamente irá levar seu estilo na arquidiocese de Buenos Aires para o Vaticano. Quando ele escolher seus auxiliares, quem ele irá levar e quem ficará de fora da cúria, será possível começar a descobrir o que será feito em seu pontificado".

Outro fator que pode ajudar a descobrir como será o papado do argentino é o nome adotado por ele: Francisco I. Sempre que um cardeal é eleito ao cargo mais importante da Igreja, ele escolhe um nome de santo ou apóstolo que tenha relação com seu estilo próprio de liderar.

"Antes de mais nada, é preciso saber qual Francisco ele tem em mente. Xavier foi um missionário jesuíta, que percorreu o mundo propagando o cristianismo. Já São Francisco de Assis teve uma vida despojada, pregando o desapego, com dedicação aos doentes, aos animais e à natureza", explica o professor, destacando que a questão ecológica está em alta na atualidade, o que sinaliza uma possível influência do santo de Assis na escolha de Bergoglio.

Em meio às surpresas pela indicação do primeiro Papa argentino de todos os tempos, somente as primeiras decisões irão mostrar o que se pode esperar do novo pontífice. A única certeza é a de que a escolha de Francisco I representa, sem dúvidas, um momento histórico para o Catolicismo.




Comentários

Anônimo disse…
Muito Interessante professor

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