A Páscoa e suas significações perante a ótica religiosa – Por Laynna Feitoza


Celebrar a vivência eterna de Cristo. Lembrar sua trajetória de paixão e sofrimento até a cruz. Recordar o sangue do cordeiro pintado nas portas das residências israelitas como livrador da morte e prenúncio do que Jesus faria no futuro. 

Eis alguns dos significados históricos que permeiam as religiões espírita, católica e evangélica na Páscoa.

O espiritismo e a vivência eterna de Cristo

De acordo com Rita Castro, presidente da Federação Espírita do Amazonas (FEA), a Páscoa vista da ótica da doutrina espírita não possui rituais, cultos ou dogmas, afirmando que a comemoração em si exalta como símbolo a própria vivência eterna de Cristo.

“O espiritismo entende a ressurreição de uma forma diferente: acreditamos que Jesus sempre esteve conosco. Nosso convite é sempre citar os ensinamentos de Jesus diariamente, não só de forma pontual. É principalmente no sentido do campo moral este convite, nada no campo material. A matéria vai, muda ou fica. O que realmente simboliza para nós é o espírito da eternidade”, pontuou a presidente da FEA.

Apesar de os tradicionais ritos de Páscoa presentes em outras religiões não acompanharem o espiritismo, há um reconhecimento acerca da mobilização social que é criada por meio das manifestações do período, assegurou Castro.

“O período de Páscoa, para os espíritas, é um período comum. É mais um final de semana de trabalho, de confraternização com a família, mas reconhecemos que, como há uma mobilização, tanto física quanto espiritual, de todas as religiões que comemoram a Páscoa, ficamos felizes porque quem não lembra dos ensinamentos de Jesus passa a lembrar neste período. E isso já é um ponto a favor para todos nós”, ressaltou Rita.

O catolicismo e o Tríduo Pascal

Para os católicos, a Páscoa simboliza a passagem da morte para a ressurreição como signo de vitória, segundo o padre Anselmo Dias, coordenador da Pastoral de Comunicação da Arquidiocese de Manaus. 

“Deus não permite que a morte vença. Então ele dá novamente a vida à Jesus a partir da ressurreição, e com isso a vitória, porque a vida sobre a morte  significa que nós também ressurgimos junto com Jesus, com a vida nova”, argumentou Dias.

A premissa do renascimento também é representada no período pascal por meio do batismo, onde homens e mulheres ressurgem para viver a vontade de Deus. 

“Por isso que na noite da Vigília Pascal temos o batismo dos catecúmenos, daqueles candidatos a serem cristãos, e há esse significado: o da vida nova passando pela morte, onde ressurge outros homens e mulheres para viver a vontade de Deus de acordo com o que ele deseja: um mundo mais justo, solidário, comprometido com o outro, com a vida e a liberdade”, ponderou o padre.

Os ritos que regem a Igreja Católica no período entre a morte e a ressurreição de Jesus integram o Tríduo Pascal, explicou padre Anselmo. Chama-se Tríduo por dividir-se em três momentos importantes entre a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus: a Eucaristia, a Via Sacra e a Vigília Pascal.

“Começa com a Quinta-feira Santa, com a instituição da Eucaristia, em que Jesus celebra a última ceia com seus discípulos, e indica que tipo de anúncio os discípulos têm que fazer, que consiste no fazer igual ao que Ele fez: servir. Nesta quinta-feira Jesus se doa, oferece seu sangue e seu corpo para nos fortalecer, nos dá força para viver o seu testemunho da sociedade", complementou o padre.

"Na sexta-feira mantemos uma celebração (a chamada Via Sacra) em que nós recordamos os últimos passos de Jesus rumo ao calvário, onde aí se dá a sua morte, sua paixão e o carregar de nossas cruzes, de nossas dores e pecados. Jesus morre para, no sábado, que é do sábado para o domingo, Ele ressurgir na grande celebração da Vigília Pascal, o momento mais importante de toda a nossa fé”, afirmou o padre, lembrando que o grande simbolismo da Páscoa para o catolicismo é a ressurreição de Cristo.

O cristianismo, o judaísmo, o cordeiro de ontem e de hoje

A significação da Páscoa para os evangélicos permeia a crença no Novo Testamento como a explicação do Velho Testamento para o cristão, acentuou o pastor Leandro Caiado, da Nova Igreja Batista (NIB), o que faz com que a religião evangélica baseie-se um pouco na religião judaica, que era a religião de Cristo.

“A Páscoa para os judeus era a passagem da escravidão do Egito para a libertação na Terra Prometida. A Páscoa, na verdade, era um memorial, que na última praga, quando Deus ia destruir os primogênitos, os judeus mataram um cordeiro, e o sangue desse cordeiro foi pintado nas portas das casas. Quando o anjo de Deus chegou para destruir, as portas que tinham o sangue do cordeiro foram poupadas, porque o sangue não permitia que o anjo entrasse”, recordou Caiado.

O sangue do cordeiro pintado nas portas era um prenúncio do que Jesus iria fazer no futuro, segundo o pastor. 

“Jesus, na verdade, veio para cumprir todo o memorial, toda a profecia que era justamente Ele sendo o cordeiro. Então aquela Páscoa em que o cordeiro não podia ter defeito, não podia ter sequer um osso quebrado: tudo representava o sacrifício que Jesus ia fazer pela gente depois. O Novo Testamento explica a Páscoa como é agora, com o seu significado real, onde na época do Velho Testamento o cordeiro evitava a morte, da mesma forma como hoje o cordeiro de Deus, que é Jesus, nos livra da morte”, destacou Leandro.

O pastor ressaltou ainda que os cristãos comemoram a Páscoa consolidando a ressurreição como o ato superior, o que fez com que o domingo se sagrasse como o dia mais importante da Páscoa. “O Domingo de Páscoa se deve ao cristianismo. Na verdade, a Páscoa dos judeus localizava-se entre a quinta e a sexta-feira, quando Jesus jantou com seus discípulos antes de morrer”, pontuou Caiado.

Tais modificações envolvem também o dia dedicado aos cultos, antigamente ministrados pelos primeiros judeus aos sábados. “Com a ressurreição de Jesus, os primeiros cristãos passaram a fazer o culto no domingo, e é por isso que chamamos Domingo de Páscoa. A ressurreição de Jesus representa muito para nós. Então comemoramos a morte de Cristo por nós, mas principalmente a sua ressurreição, provando que agora Ele tem o poder de nos dar a vida”, enfatizou o pastor Leandro.

Os ritos evangélicos baseiam-se na Páscoa judaica, porque Jesus era judeu, e judeu é o povo de Deus até hoje, segundo Leandro. 

“O cristianismo não pode dizer que o judeu não é importante, porque toda a história se baseia nos seus escritos. Os evangélicos acreditam no Novo Testamento como elucidador da nova aliança e Jesus veio cumprir tudo aquilo que estava profetizado na velha aliança. Nós acreditamos que Jesus veio explicar e cumprir a profecia de ele ser o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. A Páscoa para os evangélicos é um memorial, porém não mais como um cordeiro simplesmente, mas com Jesus entregando sua vida por nós e ressuscitando no terceiro dia”, finalizou o pastor Caiado.




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