Contra as drogas, toda força é válida – Por Daniela Penha

Comunidades terapêuticas da região vão do esporte e cultura à fé e religião para recuperar dependentes químicos.

Pedro (nome fictício) percebeu que não tinha mais o controle da situação quando, ao acordar, usou cocaína antes mesmo de escovar os dentes. Essa já era sua rotina há meses. Há 10 anos a droga participava do seu dia a dia. Hoje, internado em uma comunidade terapêutica, ele busca a cura pela religião.

Fé, esporte, cultura, trabalho de fazenda: nas comunidades terapêuticas de Ribeirão Preto e região tudo é válido na luta contra as drogas. Especialistas alertam: é preciso que todo tratamento tenha embasamentos médicos e terapêuticos.

O paciente que se apaixona pelo trabalho no campo, o que encontra alento na religião ou o que usa a escrita para aliviar as dores: todos buscam força para retomar a vida pela libertação do vício. O A Cidade visitou três comunidades para conhecer essa rotina. O mais surpreendente são as histórias de quem a vive.

Aos 17 anos, Fabiano Duarte tentou se enforcar com um lençol. “Se você não parar de usar droga eu vou morrer”. A frase do pai foi a gota que transbordou o copo. O adolescente optou por dar fim à própria vida, por acreditar que não conseguiria largar a cocaína. “Queria terminar com o sofrimento deles”, conta.

Os pais chegaram quando o menino já estava roxo. Três dias em coma fizeram com que ele buscasse ajuda. “Eu usava 30 gramas de cocaína por dia”, afirma o agora ex-usuário.

Fabiano ficou internado por nove meses e 28 dias, contagem que nunca esquece e deixou o vício. Decidiu, então, que iria doar o que mais tivesse de vida à recuperação de dependentes químicos. Fez psicologia, trabalhou 12 anos em uma comunidade terapêutica de Ribeirão e montou seu próprio lugar.

A comunidade Amostra é uma das referências na região de Ribeirão Preto, principalmente pelos muitos serviços que oferece os pacientes em recuperação.

Nutricionista, academia, futebol, musicoterapia, psicólogo, terapeuta ocupacional, laborterapia, grupos de ajuda, passeios ao teatro, cinema estão na lista de atividades oferecidas aos 20 homens internados no local, 10 deles por vagas sociais. A ideia é atrelar tratamento médico e terapêutico à atividades lúdicas. 

“Algumas pessoas me criticam por sair com eles, levar ao cinema, o teatro. Isso é muito importante para eles. Faz parte da recuperação. Mas o respaldo médico e terapêutico também é fundamental”, explica o psicólogo.

‘Minha vida está recomeçando’ garante paciente

Na Amostra, para todas as atividades há horário. Everton Pereira da Costa, 22 anos, não reclama. “Minha vida tinha acabado. Agora, está recomeçando”, diz cheio de planos. Quer fazer tudo o que não fez a partir do momento que entrou nas drogas. Crack, cocaína, maconha, álcool: desde os 11 anos, usou de tudo. Hoje, sofre para deixar o vício.


Por ele, acabou preso por tentativa de homicídio. “Quero tirar carteira de motorista, estudar, arrumar trabalho”, a ânsia de voltar a viver é grande. Entre tudo o que é oferecido na Amostra, se entregou à música e retomou a fé. No violão, toca canções religiosas e sertanejo. O gosto ultrapassa as aulas de musicoterapia oferecidas na comunidade. “Sempre que dá, eu pego o vilão”.




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