Procissão do Senhor dos Passos se consolida como um dos principais eventos religiosos de SC - Por Karine Wenzel



A aposentada Benilde Maffezzoli já perdeu as contas de quantas vezes os pés descalços percorreram o caminho entre a Capela Menino Deus, nos altos do Imperial Hospital de Caridade, e a Catedral Metropolitana, em Florianópolis.

Vestindo uma coroa e carregando uma pequena cruz nas costas, a moradora de São José de 75 anos estima que há três décadas participa da Procissão do Senhor dos Passos. 

Curada de uma cirurgia no joelho feita no Hospital de Caridade, Benilde se tornou devota. Neste fim de semana, será uma das 60 mil pessoas a acompanhar a procissão, que completa 250 anos e é a mais antiga do Estado.  “Ele me acolheu e rezo todos os dias para o Senhor Jesus dos Passos”, conta. 

O historiador e organizador do livro: Memorial Histórico da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos (1997), Nereu do Vale Pereira, reforça que a procissão se transformou ao longo destes dois séculos e meio:

“É uma manifestação popular que tem base religiosa, mas se transformou num patrimônio cultural de Santa Catarina, dada a participação popular e de todos os níveis de hierarquia das comunidades, como prefeitos e deputados. Eles fazem questão de participar da solenidade, que está incrustada na memória de todos os florianopolitanos e demais catarinenses”.

Tentativa de se tornar patrimônio do Brasil 

 Neste ano, uma equipe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vai acompanhar a procissão, que já é tombada pelo Conselho Estadual de Cultura como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado desde 2006 e agora busca o registro como Patrimônio Cultural Brasileiro. 

“Como manifestação religiosa popular é a mais antiga de Santa Catarina, principalmente devido à dimensão de Nossa Senhora do Desterro [Florianópolis na época] quando se iniciou a procissão. Florianópolis tinha cerca de 12 mil habitantes e quase todo mundo participava da procissão. Foi praticamente o primeiro evento público cultural e espiritual de Santa Catarina”, reforça Pereira.

Mas o padre Pedro José Koehler, capelão da Igreja do Senhor Jesus dos Passos prefere ser mais comedido com superlativos em relação à procissão. Ele lembra que a romaria a Frei Bruno, em Joaçaba, por exemplo, também é significativa, reunindo 60 mil fiéis em fevereiro deste ano. Ainda assim, Koehler, que acompanha a procissão do Senhor dos Passos desde 1968, afirma que o crescimento de público é perceptível, inclusive nas missas que celebra. 

A presença de jovens também aumenta a cada ano, misturando-se aos fiéis experientes que seguem a tradição há décadas. E é essa renovação que deve manter a tradição do Senhor dos Passos por muitos anos.

A procissão está longe de ser apenas uma manifestação católica. A pensionista Maria Antônia Fraga, 67 anos, segue as imagens pelas ruas do centro de Florianópolis desde quando acompanhava os pais, aos sete anos. Hoje, na companhia de uma vela, a umbandista vai todos os anos para pagar promessas ou agradecer: “Para mim, cada ano está mais lindo. A religião não importa, enquanto Deus me der perna, vou”. 

Todos os anos, Maria se emociona ao ver a imagem sendo carregada ladeira acima, seguida pela multidão de fiéis. Quando leva parentes e amigos de outros Estados para conhecer a celebração, todos ficam encantados. Apesar de despertar a atenção de visitantes pela multidão que a acompanha, a procissão atrai principalmente o público da região, não peregrinos, afirma o presidente da Santa Catarina Turismo (Santur), Valdir Walendowsky. 

Para impactar o fluxo turístico estadual, teria que ser feito um trabalho mais focado para que a procissão entrasse no roteiro de turismo religioso em SC. Hoje, Nova Trento com o Santuário Santa Paulina é o que recebe maior fluxo o ano inteiro, acrescenta. Segundo Walendowsky, são cerca de 65 mil visitantes por mês.



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