A violência não tem causa nas religiões, mas nos erros dos homens - Por Luca Marcolivio


Por ocasião da Sessão Plenária anual da Comissão Teológica Internacional, o Papa Bento XVI recebeu nesta manhã em audiência os participantes, na Sala dos Papas do Palácio Apostólico Vaticano.

O Santo Padre em primeiro lugar expressou a satisfação pela decisão da Comissão Teológica de honrar o Ano da Fé por meio de uma peregrinação à Basílica de Santa Maria Maior, "para confiar à Virgem Maria, praesidium fidei, os trabalhos da vossa Comissão e para rezar por todos aqueles que, in medio Ecclesiae, se dedicam a fazer frutificar a inteligência da fé em benefício e alegria espiritual de todos os crentes”.

Em seguida, Bento XVI referiu-se ao documento da Comissão Teológica publicado no começo deste ano com o Título: “A teologia hoje. Perspectivas, princípios e critérios", definido pelo Pontífice como uma espécie de “código genético da teologia católica”.

Num contexto cultural no qual alguns pretendem privar a teologia de seu "status acadêmico", confundindo-a e reduzindo-a a "ciências religiosas", o documento da Comissão Teológica lembra que “a teologia é inseparavelmente confessional e racional e que a sua presença dentro da instituição universitária garante, ou deveria garantir, uma visão ampla e integral da mesma razão humana”, comentou o Papa.

Além disso, o documento "menciona a atenção que os teólogos devem reservar ao sensus fidelium", disse o Santo Padre. Nesse sentido ele citou a Lumen Gentium, que lembra: "A totalidade dos fiéis, tendo a unção que vem do Santo (cf. 1 Jo 2,20.27), não pode errar no crer, e manifesta esta sua propriedade por meio do sentido sobrenatural da fé de todo o povo, quando do bispo até os últimos fieis leigos mostra o seu universal consenso em matéria de fé e moral "(LG, 12).

O sensus fidelium ou sensus fidei representa para o crente “uma espécie de instinto sobrenatural que tem uma conaturalidade vital com o mesmo objeto da fé”, além de que “um critério para discernir se uma verdade pertence ou não ao depósito vivente da tradição apostólica”.

Hoje, no entanto, "é particularmente importante esclarecer os critérios utilizados para distinguir o autêntico sensus fidelium das suas imitações", disse o Papa. Não se trata, de fato, de uma espécie de "opinião pública eclesial”, nem é concebível mencioná-lo para “responder os ensinamentos do Magistério”

O sensus fidei, explicou o Papa, “não pode desenvolver-se autenticamente no crente exceto na medida em que ele participa plenamente na vida da Igreja, e isso exige uma adesão responsável ao seu Magistério, ao depósito da fé".

O mesmo "sentido sobrenatural" da fé é também um baluarte contra o prejuízo de que "as religiões, e especialmente as religiões monoteístas, seriam intrinsecamente portadoras de violência, principalmente por causa da alegação de que elas ultrapassam a existência de uma verdade universal" , enquanto que, pelo contrário, o "politeísmo dos valores" garantiria "a tolerância e a paz civil".

Jesus em primeiro lugar, terminando na cruz, “atesta uma rejeição radical de toda forma de ódio e violência em favor do primado absoluto do ágape". Qualquer forma de violência cometida em nome de Deus, não é portanto, devida ao monoteísmo, mas sim "a causas históricas, principalmente aos erros dos homens".

Pelo contrário, é o "esquecimento de Deus", que, juntamente com o relativismo e a negação de uma verdade objetiva, “gera inevitavelmente a violência", porque é negado o diálogo. Se não houver abertura para o transcendente "o homem torna-se incapaz de agir de acordo com a justiça e de comprometer-se pela paz."

Um terceiro e último ponto tocado por Bento XVI é sobre a doutrina social da Igreja que não é um “assessório extrínseco” mas “recebe os seus princípios básicos das fontes mesmas da fé", manifestando-se como forma efetiva do mandamento novo de Jesus: "Assim como eu vos amei, assim também vós deveis amar uns aos outros "(Jo 13:34).




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