Fazenda da Esperança é referência no tratamento de dependentes no AM – Por Camila Henriques


Existente em todo o Brasil e até em alguns países da Europa, África e Ásia, a Fazenda da Esperança é referência no tratamento de dependentes químicos há quase três décadas.

 Há 11 anos, o centro foi instalado no Amazonas, em uma área a 43 km de Manaus, e conta, atualmente, com 100 internos, de acordo com o psicólogo Péricles Miranda, um dos responsáveis pela instituição no Estado.

Segundo Péricles, os internos estão divididos em sete casas e passam por tratamento com duração de um ano. O psicólogo ressaltou que a prioridade do centro é dar estrutura para que os dependentes químicos em recuperação possam se readaptar à sociedade e ao convívio em família. "Aqui é muito dinâmico. Eles acordam cedo e possuem uma série de atividades para realizar durante o dia", afirma.

As atividades têm início às 5h, quando os internos devem acordar. Às 6h, eles participam de uma missa e depois seguem para o café da manhã. O primeiro período de trabalho é reservado para o horário entre às 8h e as 11h30. "Depois, eles vão para as casas, almoçam e descansam. Às 13h30, eles voltam ao trabalho e ficam até as 16h45. Quando retornam, eles têm mais um lanche e o momento de lazer. À noite, temos grupos de meditação e filmes educativos", resumiu Miranda.

Nos fins de semana, os internos trabalham apenas no período da manhã e tem a tarde para assistir televisão, com programas selecionados. "Eles ficam todo o tempo na fazenda, com a exceção de algumas atividades externas. O contato com os familiares se dá por cartas e por visitas mensais. No entanto, ao entrar na fazenda, o interno passa três meses sem ver a família, em um período de 'triagem', onde ele assimila o cotidiano daqui", explica o psicólogo.


Péricles ressalta que a fazenda trabalha sob o tripé "Trabalho-Convivência-Comunidade". Por isso, os internos aprendem não só a viver sem o vício, mas também a se adaptar à sociedade. Uma das formas de desenvolver esse lado é com o trabalho diário, diz o psicólogo. 

"O trabalho aqui na fazenda é uma forma de sustentação. Cada interno ´paga´ pela sua estadia aqui - ou seja, eles fazem produtos que podem ser adquiridos pelas suas famílias", destaca. "Eles produzem biscoito, coloral, pão, sandálias, além de trabalhar com ovicultura, piscicultura e suinocultura. Eles também são responsáveis pela limpeza e organização de suas casas", acrescenta.

A estrutura organizacional do centro ainda conta com uma enfermeira, um padre, uma cozinheira, dois motoristas e sete padrinhos responsáveis pelas casas. "Também temos um grande número de pessoas que foram recuperadas no processo da fazenda que voltam para cá para trabalhar", revela Péricles.

Relato

Uma dessas pessoas é o universitário Jones Guimarães, 28 anos. Em 2006, ele buscou o auxílio dos familiares para sair do vício em cocaína, LSD e Ecstasy. "Eles disseram que, se eu quisesse ser ajudado mesmo, a fazenda era uma opção. Eu vim com vontade de ficar apenas três meses, mas percebi que precisava da estadia completa, porque lá fora já não estava conseguindo me controlar", admite.

Ao chegar no centro, Jones teve certa dificuldade, "porque não sabia nem rezar o terço". "Senti a diferença nos horários, porque antigamente eu acordava à noite e dormia durante o dia", acrescenta.

Quando o período de internação acabou, o universitário teve receio de retornar aos vícios, já que no lugar onde morava, existia um número significativo de usuários de drogas. "É complicado, porque você passa na rua, sente o cheiro e vê pessoas consumindo ao ar livre. Eu voltei ao ´mundo real' com o propósito de me adaptar mesmo. Tanto é que terminei o terceiro ano do Ensino Médio e estou concluindo o curso de Administração", revela Jones.

Espiritualidade como 'fator de cura'

E, se para o ex-interno sair do vício não foi fácil, para os responsáveis pela Fazenda a tarefa também pode se tornar árdua. "As pessoas chegam aqui muito debilitadas. Nós percebemos que, para muitos, a droga não é o problema e sim a solução. Pegamos um ser humano todo desconectado da realidade e temos que fazê-lo se reencontrar com ele mesmo e com a sua família. Para isso, enfatizamos a parte religiosa. Quanto mais eles se voltam para a espiritualidade, mais a ansiedade diminui e cresce a certeza de que eles podem sair do vício", acredita Péricles.

A Fazenda, que também funciona com uma sede feminina há quatro anos,  tem um escritório em Manaus, na Avenida Presidente Dutra, bairro da Glória, Zona Oeste da cidade. "Além disso, temos o Grupo Esperança Viva (GEV), com sete sedes na capital. Ele aconselha quem vai sair e quem está entrando na Fazenda. No grupo, nós temos o pós-tratamento para que a adaptação ao mundo lá fora seja bem sucedida. Esses GEVs nasceram da necessidade das famílias e dos internos", encerra.




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