Que sociedade estamos construindo?

Apesar de inegáveis avanços científicos, tecnológicos, culturais, a sociedade contemporânea ainda possuí resquícios primitivos e bárbaros.

Apesar de inegáveis avanços científicos, tecnológicos, culturais, a sociedade contemporânea ainda possuí resquícios primitivos e bárbaros. Vivemos a era dos extremos (posterior a do historiador Hobsbawm), dos posicionamentos políticos, ideológicos, científicos, que tem resultados ambíguos, diferenciados, contraditórios.

Em análise sobre a “Laicidade do Estado” (cuja frase principal teve menção aqui no Gnotícias) demonstramos que o mundo “caminha para teocracias, estados confessionais e um crescente fanatismo religioso”. 

O prognóstico, que tem como base observações em países islâmicos, onde Religião e Estado se confundem, se mesclam no debate público, se estende a todas as regiões do mundo, e particularmente à porção norte do hemisfério.

Não obstante alguns aspectos negativos da prática religiosa, particularmente quando analisamos grupos localizados, extremistas, que orbitam em torno de premissas políticas, ideológicas, que se sobrepõem ao secular, aos direitos constitucionais, a religião é um fator cultural, parte das sociedades primitivas, que inegavelmente tem contribuído com a construção de uma sociedade melhor, humanizadora, participativa. 

Seria impossível ao homem viver alheio a uma divindade, a uma crença, a uma tradição religiosa dada a sua necessidade de respostas, de apoio espiritual, de pertencimento. É uma questão indiscutível do ponto de vista sociológico, antropológico, histórico. Somos seres religiosos, que compartilhamos experiências e crenças pautadas em nossa doutrina.

Por outro lado, há uma inegável crise de identidade em alguns países de maioria cristã, dada a influência (diria militante) de grupos que recorrem a termos chulos, a rotulações de personagens históricos, a lideranças acadêmicas, a postulações intelectuais. 

É comum o uso de princípios de Maquiavel, particularmente da conclusão de que os “fins justificam os meios”, na guerra contra os opositores, contra os inimigos. Justificam-se ditaduras como “necessárias ao nivelamento social”, a torturadores como exemplos de “ética política, ideológica”, a justiceiros que clamam por “linchamento dos malandros, dos marginaizinhos”, aos defensores do “rebaixamento do papel feminino no meio social”, ao ex-espião repaginado, contextual, que possui interesses conflitantes.

Que exemplo grupos extremistas dão à sociedade, aos 95% de cristãos cuja fé é pautada pela compreensão, pelo compartilhar? Um posicionamento correto deveria ser o da balança, a do aproveitamento do que temos de positivo na sociedade. 

Em entrevista ao jornal Nosso Tempo, do Rio de Janeiro, sobre a polêmica em torno do suicídio, foi perguntado sobre as razões que levam grupos religiosos a suicídios coletivos. 

Nossa resposta foi no sentido de que o suicídio coletivo é parte da chamada “programação” que movimentos destrutivos promovem sobre adeptos. Neste sentido, o “direcionamento” é um dos principais motivos da histeria sectária, destrutiva, que corrompe as estruturas da humanidade, do núcleo familiar, da sociedade.

Um dos grandes problemas de alguns países islâmicos, a exemplo da Arábia Saudita e do Irã, é a tentativa de “imposição” do credo religioso a totalidade da população, do mesclar Estado e Religião, em um sistema teocrático que remete aos tempos antigos. É daí que surgem os extremismos, quando não se consegue distinguir o Estado da Religião, o Sagrado do Secular, o Meu do Outro. 

Dado os exemplos e a crucificação de cristãos na Síria é um exemplo recente de extremismo, oriundos do universo islâmico, há de se pensar o Ocidente, da maneira como a sociedade ocidental deve se posicionar em questões não somente religiosas, mas também políticas. 

Na Europa, mas também nos EUA, o crescimento de grupos extremistas, xenofóbicos, tem como base ideologias de superioridade “racial” e “religiosa”. Um grande perigo em ascensão.

Pensando no Brasil, em nosso contexto cultural, social, político, religioso, há exemplos recentes de extremismo, de imposição ideológica e religiosa, que nos faz refletir sobre os erros dos estados islâmicos teocráticos. Que imagem está sendo construída? De que maneira estamos dialogando com a sociedade? Como encaramos problemáticas sociais como o aborto e o homossexualismo? 

De forma impositiva ou a partir de diálogos de alto nível? Particularmente somos contra o aborto, o homossexualismo e as políticas estatais de promoção de grupos específicos da sociedade, mas de que maneira refletimos sobre os temas levantados? Que linguagem está sendo usada no embate social? Temos uma nítida distinção entre Estado e Religião? É hora de parar e analisar!





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