#illRideWithYou. Se usas vestes religiosas e não te sentes seguro sozinho, eu protejo-te – Por Cristina Pombo


Um homem com ligações ao Islão fez reféns num café de Sydney. 

Algumas horas depois, uma habitante da cidade criou um movimento no Twitter solidário com os muçulmanos na Austrália que não se reveem nestes atos. 

Centenas de australianos seguiram o exemplo e ofereceram-se para os escoltar ao trabalho, protegendo-os de possíveis represálias. 

Tessa Kum, uma jovem habitante de Sydney, resolveu criar um movimento de solidariedade para com os muçulmanos a viver na Austrália, depois de um homem armado ter entrado num café do centro financeiro e feito reféns várias dezenas de pessoas.

Receosa de que este sequestro possa incitar a ações violentas contra a população muçulmana de Sydney, Kum resolveu lançar o #illridewithyou, uma campanha que pede aos australianos que partilhem no Twitter o percurso que habitualmente usam para chegar ao emprego de transportes públicos.

A iniciativa tem por objetivo garantir que, às primeiras horas da manhã de terça-feira e durante os próximos dias, cada muçulmano tenha alguém a protegê-lo quando viajar para o trabalho de transportes públicos.

A resposta da comunidade no Twitter foi imediata e em grande escala: centenas de habitantes de Sydney disponibilizaram online as suas coordenadas, ou mostraram-se dispostos a escoltar os cidadãos muçulmanos que se sintam de alguma forma ameaçados ou possam ser um alvo fácil de represálias. 

Muitos aplaudiram o movimento desencadeado na Internet, considerando-o uma arma para combater a intolerância racial num momento de crise.

Ela começou a chorar e abraçou-me por um minuto

Outros agradeceram o gesto e mudaram os seus planos para o dia seguinte. É o caso de uma muçulmana que tinha decidido ir de carro para o trabalho, na terça-feira de manhã, mas mudou de ideias e decidiu ir de transportes públicos quando sentiu a solidariedade dos australianos. O Twitter contabilizou, em apenas algumas horas, mais de 90 mil tweets com o hashtag #illridewithyou.

Kum inspirou-se na história contada na página de Facebook de uma outra jovem de Sydney: Rachael Jacobs. 

"Vi [o estado da Jacobs] e fui-me abaixo... É difícil sentir esperança quando nos sentimos impotentes. #illridewithyou é uma pequena ação, mas pode ser importante para alguém algum dia", disse Kum à Fairfaix Media.

Na manhã do sequestro (09h30 em Sydney, 22h30 de domingo em Portugal), Jacobs sentou-se ao lado de uma mulher muçulmana, no comboio da cidade. A mulher "presumivelmente muçulmana, retirou silenciosamente o seu 'hijab'", escreveu. 

"Corri atrás dela pela estação de comboios e disse-lhe: 'Põe-no de novo. Eu acompanho-te'. Ela começou a chorar e abraçou-me por um minuto e depois seguiu sozinha", relatou na sua conta de Twitter.

"Se não te sentes seguro, eu acompanho-te" 

Na sequência da mensagem publicada através do Facebook e que circulou nas redes sociais, Tessa Kum (@sirtessa) resolveu usar o Twitter para criar uma campanha que se tornaria viral em poucas horas: 

"Se apanhas regularmente o autocarro nº 373 entre Coogee/MartinPl, usas vestes religiosas e não te sentes seguro sozinho, eu acompanho-te".

Num dos últimos posts que publicou durante esta segunda-feira, Rachel demonstra que não se ilude com a repercussão que a campanha que iniciou teve ou terá nos próximos dias: 

"Os hashtags são úteis, mas esta doença [problemas raciais] percorre há séculos e de forma profunda a sociedade".


Vários políticos e personalidades ligadas aos media demonstraram o seu apoio à campanha.




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