Bancada evangélica ganha força inédita no Congresso - Por Marcelo Gonzatto



Ala religiosa elegeu 78 parlamentares, tem a presidência da Câmara dos Deputados e segue em busca de mais espaço.

Formada por bispos, pastores e parlamentares leigos alinhados a dogmas religiosos, a bancada evangélica no Congresso Nacional demonstra força inédita na atual legislatura.

A ala de deputados e senadores que unem política e religião elegeu um número recorde de 78 representantes, conquistou a presidência da Câmara dos Deputados pela primeira vez e busca outros postos-chave em Brasília a fim de ampliar seu nível de influência. Entre as prioridades do grupo estão a limitação a reivindicações do movimento gay e o combate à flexibilização das leis sobre drogas e aborto.

Os 75 deputados evangélicos identificados pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), aos quais se unem três senadores, superam bancadas importantes da Câmara dos Deputados como a sindical ou a feminina, com 51 integrantes cada uma. Mas, para deixar o parlamento à sua imagem e semelhança, os religiosos também miram em postos-chave no Congresso Nacional. ​

O principal nome do grupo, hoje, é o recém-eleito presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ). Fiel da Assembleia de Deus, teve entre seus cabos eleitorais outros representantes do rebanho evangélico como o deputado Sóstenes Cavalcante (PSD/RJ), braço político do pastor Silas Malafaia em Brasília. 

À frente da Câmara dos Deputados, Cunha desarquivou projetos como o que cria o Dia do Orgulho Heterossexual e prometeu não colocar em pauta proposições que facilitem o aborto "nem que a vaca tussa".

Ainda estão em disputa outros cargos que podem facilitar a aprovação de propostas adotadas pela bancada, como a definição de família que exclui casais gays, e barrar iniciativas como a legalização da maconha e a criminalização da homofobia. Um dos postos visados é a chefia da comunicação da Câmara dos Deputados, até hoje ocupada por servidores de carreira. 

O nome mais cotado para assumir a função é o do deputado maranhense Cleber Verde, membro da bancada evangélica pelo PRB, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Embora o cargo não interfira na tramitação de projetos, é relevante por definir como a Câmara dos Deputados divulga discussões polêmicas à sociedade.

“Ao colocar um político evangélico no comando da comunicação, se compromete o caráter laico da casa”; reclama a deputada Érika Kokay (PT/DF).

A frente religiosa também disputará o comando da bancada feminina da Câmara dos Deputados. Uma das cotadas é presbiteriana Clarissa Garotinho (PR/RJ), filha do ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho. 

Ela obteve a segunda maior votação entre os deputados evangélicos, com 335 mil eleitores, atrás apenas de Marco Feliciano (PSC/SP). Como o grupo feminino faz articulações políticas a respeito de temas como aborto, a presidência do grupo tem importância estratégica.

Cargos em comissões como a de Constituição e Justiça, Seguridade Social e Família e de Direitos Humanos e Minorias também deverão ser buscados pela bancada, já que projetos envolvendo questões de família, direito reprodutivo e outros temas considerados prioritários passam por elas antes de ir a plenário.

“Há uma maior busca por visibilidade e espaço político relevante como uma reação a avanços recentes em áreas como moral sexual e direitos de homossexuais e minorias”, avalia a doutora em Ciências da Comunicação Magali do Nascimento Cunha, professora da Universidade Metodista de São Paulo e especialista na área de mídia, religião e política.


Um dos gaúchos evangélicos, o deputado Ronaldo Nogueira (PTB) afirma que a meta do grupo é defender a Constituição: “O compromisso da bancada é zelar pela democracia e pela Constituição. Gays podem viver juntos, mas casal só é formado por homem e mulher”.



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