Diálogo contra a violência - Por Adriano Moreira


A sentença de Malraux, segundo o qual o século XXI ou será religioso, ou não será, está a ser assumida, sem necessidade de citação, pela inovadora forma de intervir que o Papa Francisco adotou, e que tem surpresas diárias. 

Nesta infatigável ação, está em preparação, para ser realizado no Cazaquistão, em junho próximo, o primeiro congresso dos líderes das religiões mundiais e tradicionais. De facto, como sublinhou o L"Osservatore Romano", trata-se de um "diálogo antídoto contra a violência". 

Nunca é demais lembrar que, quando foi organizada a ONU, o grande secretário-geral Ham-marskjöld, que seria assassinado no Congo Belga, criou uma "sala de meditação para todas as religiões", tendo antecipado o início da concretização do depois esquecido vaticínio de Malraux.

Foi esquecido pela substituição efetiva do credo dos valores, que inspirou os signatários da Carta e da Declaração dos Direitos Humanos, pelo credo do mercado que dispensou uma ética reguladora. 

As consequências estão à vista, e entre elas avultam as dificuldades emergentes que colocam em perigo o projeto da unidade europeia, que impediram a definição de um conceito estratégico que a União continua a não definir, tendo evidenciando a fácil fragilização dos valores essenciais do Tratado de Lisboa, quando um dos pequenos mas valiosos países da Europa pobre, que é a Grécia, produz abalos em toda a estrutura da União e, o que é mais inquietante, demonstrou que vai crescendo, visivelmente, uma estrutura de autoridade efetiva que viola o espírito do Tratado.

Não é fácil despertar os responsáveis pela confusa trama diplomática em curso, que parece inspiradora da busca de entendimento pela investigação histórica produzida nos últimos tempos sobre aquilo que foi chamado "a guerra que terminou com a paz", um tema de que recentemente se ocupou a Universidade Católica, e que toda parece inspirada pelo facto de que os grandes conflitos, designadamente armados, se iniciam a partir de causas aparentemente secundárias. 

Infelizmente, foram valores religiosos que, adaptados pelo conceito estratégico do terrorismo, e agora do autoproclamado Estado Islâmico, chamam, e esperamos que definitivamente, a atenção para a advertência de Malraux, num momento em que a Europa, que foi chamada cristandade, usa mais estatísticas do que inspirações de estadistas do nível dos desaparecidos que reconstruíram o que a ambição dos exércitos alemães conduziu à destruição.

A Grécia, que hoje está no centro das inquietações do futuro europeu, tem certamente razões de conduta política interna, e própria, para as atuais dificuldades que enfrenta, mas tem de se reconhecer que a memória passada também tem de ser partilhada, para que, o lugar onde tudo começou com a Democracia da Cidade (Péricles), não torne incapaz a democracia da proclamada unidade dos povos, porque, a partir das questões orçamentais, ressuscita a memória da Terceira Roma (Rússia) e das fronteiras de interesses das potências à custa dos direitos das nações.

A iniciativa do Papa Francisco procura "Despertar o mundo da indiferença", o que, no que respeita às relações dependentes da estrutura política das potências que alinham pela hierarquia do poder, significa despertar a sociedade civil para o exercício responsável da cidadania, repondo o respeito pelo direito e pela imperatividade dos paradigmas que moldaram os textos da ONU e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 

Estes também obrigam o regionalismo da União Europeia. Assim como, por isso, continua a ser inexplicável que o Conselho Económico e Social não seja convocado, em vista da globalidade da crise, acrescida está com a ignorada alteração estratégica que imediatamente será determinada por qualquer irrefletida atenção ao ambiente que se adensa, e se tornaria explosivo no caso de alguma irrefletida decisão afetar o espírito do povo grego de ser pertença irrenunciável da União.





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