Tradicional 'lavagem da Sapucaí' leva multidão de fiéis e sambistas à Passarela do Samba – Por Redação SRZD*


Uma multidão de fiéis, de diferentes religiões, sambistas e componentes de várias escolas de samba do Rio de Janeiro participaram, na noite de domingo (08/02), da tradicional lavagem da Marquês de Sapucaí, cerimônia ecumênica que acontece todos os anos, no último dia de temporada de ensaios técnicos.

A menos de uma semana para o Carnaval, a festividade teve início com o discurso do presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), Jorge Castanheira, que saudou o público e os membros do grande cortejo. O dirigente reafirmou a importância da valorização da cultura africana e suas contribuições para o Carnaval que temos hoje.

Em seguida, falou o secretário de Turismo do município do Rio de Janeiro, Antônio Pedro Figueira de Mello, que exaltou os trabalhos da Riotur, organizadora do Carnaval carioca, e também saudou os participantes da lavagem. 

O secretário se mostrou bastante entusiasmado com as atividades de organização do Carnaval deste ano de 2015 e apostou no sucesso, mais uma vez, da maior festa popular do mundo.

Quem também subiu ao palco e falou ao público foi o ator Milton Gonçalves, que, visivelmente emocionado, discursou e agradeceu a São Sebastião, santo católico e considerado padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, pelas bençãos. Entre as palavras ditas por Milton, houve a lembrança da fundação da cidade, louvores e mais agradecimentos.

"Entre tantas lanças cruzadas e balas perdidas, o carioca escreveu uma história que jamais será esquecida (...) A você, meu padroeiro, rogo preces marcadas no pandeiro. Pedimos muita paz, muito trabalho, muito ensinamento (...)", discursou o ator.

O cortejo da lavagem começou por volta das 20h30 trazendo à frente várias baianas e membros representantes de terreiros de candomblé do Rio de Janeiro. Logo atrás, uma alegoria colorida trouxe na parte de cima a imagem de São Sebastião. 

Enquanto o cortejo cruzava a Avenida, um carro de som formado por Dudu Nobre, Diego Nicolau e outros cantores de escolas de samba entoavam hinos marcantes das agremiações, fazendo o público reviver os tempos áureos dos desfiles.

Um dos pontos altos da apresentação foi o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e sua desenvoltura à frente da bateria formada por membros da Unidos da Tijuca para embalar o cortejo de São Sebastião junto à lavagem.

Paes fez questão de beijar as bandeiras das escolas de samba do Rio de Janeiro, uma a uma, e, claro, quando viu a bandeira da Portela se abaixou e saudou sua escola de coração.

O final do cortejo contou com a apresentação de várias baianas e seus tradicionais defumadores: eram dezenas, formando uma grande cortina de fumaça na Avenida, cheiro que se juntou com as folhas de arruda usadas para ungir a Passarela do Samba.

Sambistas dizem não ao preconceito religioso e exaltam lavagem da Sapucaí

O cantor Zé Paulo Sierra, que também integrou o carro de som e cantou antes do desfile do cortejo a música gospel: "Faz um milagre em mim", de Régis Danese, conversou com o SRZD-Carnaval e falou da importância da união das religiões. 

"Aqui tem pessoas de várias raças, de várias culturas, de vários credos. Eu, por exemplo, sou católico. Muitos aqui seguem religiões afrobrasileiras. Mas no fim, somos todos irmãos, pois o Deus é um só".

O artista também lembrou que o brasileiro é miscigenado e democrático. "O nosso Brasil nos dá essa liberdade de termos nossa fé. Isso é muito bom. Acontecem às vezes casos de algumas pessoas sofrerem preconceito por se assumirem de religiões afrobrasileiras e isso tem que acabar! Esse evento aqui de hoje prova que no mundo do samba todos são unidos", destacou.

Sônia França, que é baiana da Estação Primeira de Mangueira há cinco anos, concordou com Zé Paulo acerca da extinção do preconceito e exaltou a festividade da lavagem anual da Sapucaí. 

"Nossas baianas são as mães do samba. Elas vêm fazer essa lavagem desejando muita paz para todos nós, desejando às escolas um bom desfile, um Carnaval tranquilo. Isso é muito importante. Temos que nos unir, unir nossa fé e combater qualquer tipo de preconceito. A nossa mensagem só pode ser uma: muito amor no coração", disse emocionada ao SRZD-Carnaval.

Vera Lucia e Dona Maura, que são baianas da Beija-Flor há algum tempo, lembraram os tempos em que as religiões afrobrasileiras sofriam perseguições ainda maiores, mas apostaram numa grande mudança na mentalidade das pessoas. 

"Antes éramos mais criticados, mas hoje as pessoas percebem que, independente da religião, o povo pode se unir mais e se ajudar", disse Vera.


Dona Maura, por sua vez, lembrou ao SRZD-Carnaval a necessidade e o valor que a lavagem da Sapucaí tem anualmente. "Para quem é religioso, isso tem uma grande importância, pois tira os maus fluídos e anuncia a paz e a união entre as pessoas", acredita.




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